FUTEBOLÊS#132 ARMA SECRETA
Por Eduardo Louro
Arma secreta é uma das mais conhecidas expressões do futebolês e enquadra-se nas expressões de origem bélica que tantas vezes são exportadas para outros domínios. Cada equipa joga com as armas que tem, diz-se frequentemente para justificar aquelas atitudes que mais chocam com o fair-play a que, normalmente, recorrem as equipas com menos recursos.
Na realidade cada equipa joga com os jogadores que tem. E as que os têm de menor valia tentam compensar isso com uma série de malandrices: umas, malandrices de anti-jogo, outras, apenas malandrices estratégicas, um bocado de jogo do gato e do rato. Mas chamam-lhe armas!
A arma secreta não é, claro, nada mais que um jogador. Um jogador que fica escondido, que não entra de início para, a dada altura do jogo entrar em campo e surpreender. Surpreender tudo e todos, revolucionar o jogo e decidir o resultado!
Por incrível que pareça, é normalmente grande a tentação – quer de treinadores quer de adeptos – de acabar com as armas secretas. Parecendo que toda a gente estaria interessada um preservar e guardar bem guardadinha a arma secreta, a verdade não é bem essa. A gula e a ambição desmedida são as grandes inimigas da arma secreta. Os adeptos pensam assim: se este tipo entra e resolve, tem de entrar logo no início para resolver o jogo sem correr riscos; se é este que resolve que sentido faz estar lá outro que não adianta nem atrasa? O treinador não pensa bem assim, mas pensa que, se este tipo entrou e resolveu merece ser titular da próxima vez. E pensa mesmo que se não lhe der a titularidade ele poderá perder o estímulo.
A própria arma secreta é auto-destrutiva. O próprio jogador raramente se sente bem na pele de arma secreta. Acha também que merece ser titular e, se não lhe for entregue, passa a reclamá-la.
Com tantos inimigos é natural que a arma secreta seja uma espécie em vias de extinção. E a verdade é que é. Já lá vai o tempo em que praticamente todas as principais equipas tinham uma arma secreta. Quem se der ao trabalho de puxar pela memória vai lembrar-se de muitas: o César Brito, no Benfica, o Juary, no Porto já lá vai uns anitos. Mais recentemente, em 2005, lembramo-nos do Pedro Mantorras, a verdadeira arma secreta de um título tão gostoso quanto improvável. Mais recentemente ainda, na última época, o James, no Porto e o Carrillo no Sporting, foram armas secretas. Inevitavelmente, deixaram de o ser: o James por responsabilidade dos adeptos; o Carrillo não se sabe porquê… Talvez porque no Sporting a arma secreta já não seja jogador, é treinador. Por isso é que muda tanto, para estar sempre a surpreender o adversário. O que se está a passar nesta altura não tem nada a ver com qualquer tipo de dificuldade em convencer alguém a vir treinar a equipa nos próximos seis meses. Tem apenas a ver com a dificuldade em encontrar alguém verdadeiramente capaz de surpreender: uma arma secreta!
Na selecção nacional também há uma arma secreta: o Varela. Também está em extinção mas não é por qualquer daquelas razões. Nem os adeptos acham que deva jogar de início, nem o Paulo Bento tem problema nenhum em mantê-lo no banco, nem ele próprio acha que mereceria ser titular. Simplesmente esgotou as pilhas!