PONTOS DE VISTA
Por Eduardo Louro
Os incidentes de ontem em Lisboa, que finalmente dão a imagem que temos andado a esconder – Portugal está igual à Grécia, apenas com uma pequena décalage temporal -, têm naturalmente leituras diferentes conforme a perspectiva de quem os olha. É sempre assim!
A malta da direita - coincidente discurso oficial - diz que a polícia apenas desatou a bater depois de mais de uma hora de enxovalhos e pedradas e de um pré-aviso de cinco minutos. Quem levou – mesmo assim não vão tão longe quanto Mário Crespo, não escondem que a polícia bateu mesmo, e a sério – só apanhou porque decidiu ficar. Pôs-se a jeito. E a polícia não poderia perguntar primeiro e bater depois…
A da esquerda diz que a polícia teve tempo suficiente para actuar sobre as poucas dezenas de provocadores encapuçados que atiravam pedras e garrafas e provocavam todo o tipo de desacatos, bem distintos dos manifestantes pacíficos. Para os perseguir, deter e identificar. Mas que não o fez, que preferiu antes utilizar as suas acções provocadoras para justificar a carga brutal e indiscriminada sobre todos os manifestantes. E para lançar perseguições por grande parte da cidade, estendendo a violência a zonas já bem distantes de S.Bento: há testemunhos de repressão policial no Cais do Sodré ou na Boa Hora.
O que pôde ver e ler da visão da malta da esquerda é sustentado por testemunhos pessoais. A da direita não tem, naturalmente – é malta que não se mete nessas coisas - qualquer sustentação testemunhal.
Sou, mais por isso que por outro motivo qualquer, levado a atribuir mais crédito àquilo que a malta da esquerda apresenta como versão dos factos. Depois, começo a perceber que as peças encaixam: o ministro anunciou um aumento de 10,8% para a polícia, quer dizer, o governo tratou, primeiro, de comprar a polícia. Para garantir que não haveria abraços e beijinhos para ninguém. O primeiro-ministro, como de resto o Presidente da República – que, como sabemos, não fez greve, trabalhou todo o dia com o seu homólogo colombiano – não tinham conhecimento de nada do que se passara. Também ele ao lado do presidente colombiano – a quem tinha estado informar do sucesso do nosso processo de ajustamento, dizendo que neste ano e meio Portugal tinha atingido todos os objectivos do programa – dizia que apenas sabia que “houve um problema no Parlamento”.
Mas, já hoje, ninguém poupa elogios à actuação da polícia. Passos Coelho garante que foi necessária “para desincentivar quaisquer abusos no futuro”. Ora aí está: dois coelhos numa só cajadada. Com esta acção da polícia – se o Mário Crespo estivesse deste lado já estaria a dizer que os provocadores, encapuçados ou não, eram da polícia – preveniu-se a participação em futuras acções de protesto: uma coisa é ver-se uma linda moça abraçada a um polícia outra, bem diferente e dissuasora, é ver a mesma polícia a distribuir bastão sem dó nem piedade. E calou-se o êxito da greve geral: televisões e jornais não falaram de outra coisa. Da greve já ninguém se lembra!
Pontos de vista…