A VERDADE COMEÇA A PASSAR POR AÍ
Por Eduardo Louro
É agora oficial que a recessão atingiu, no ano passado, os 3,2% do PIB. Isto é, começam agora a surgir os valores do PIB de 2012 – sabendo-se, como se sabe, que há umas semanas atrás o governo festejava o cumprimento da meta do défice, a revista para os 5%: o PIB só agora vai sendo conhecido, mas o défice sobre esse mesmo PIB já foi objecto de festejo – e percebe-se agora que a queda do PIB é bem maior do que o previsto. Que esta é a maior recessão em todos estes anos de democracia!
Nos mais variados espaços, entre os quais este mesmo, tem-se alertado para o processo de destruição em curso na economia portuguesa. Aqui, já nem têm conta as vezes em que se desmascarou o embuste talhado por este governo que culminou com o sucesso do regresso aos mercados. Aqui avisamos que o défice em 2012 não seria alcançado, que o desemprego é bem superior ao que os dramáticos números oficiais dizem e que não iria parar de crescer. Que o Orçamento para este ano é impossível de cumprir, e que toda esta combinação explosiva viria a rebentar lá para Abril, quando fossem conhecidos os dados da execução orçamental do primeiro trimestre.
No entanto, o governo, irresponsavelmente alheio a tudo isto, ia anunciando a boa nova e os sucessos da sua governação. Este seria o ano da viragem, mais de três quartos do processo de ajustamento já estavam cumpridos… Ainda havia aquele pequeno imbróglio dos 4 mil milhões de euros. Que ora era corte, ora era poupança. Ora eram fortes facadas no Estado Social, ora eram simples cortes de limpeza de gorduras, conforme o lado para que, a cada momento, a comunicação do governo estava virada.
Ainda ontem o ministro Relvas – a eminência parda de um governo que cada vez mais é a sua própria cara – enquanto afirmava respeitar a já famosa expressão do ex-Secretário de Estado da Cultura, dizia que o governo tinha atingido todos os objectivos de 2012. Ainda ontem, o autorizado e respeitado Relvas era a voz do sucesso realizador do governo!
Hoje, no debate quinzenal no Parlamento, onde foi obrigado a ouvir Grândola Vila Morena, Passos Coelho já admitia estarmos perante uma espiral recessiva. Admitia ter de rever a estratégia de consolidação orçamental, rever as previsões económicas que sustentam o orçamento em vigor, e até ter de recorrer à renegociação das condições do acordo com a troika. Ao sucesso ontem anunciado por uma das caras da moeda, corresponde o insucesso hoje confirmado pela outra face da mesma moeda!
A verdade começa a passar por aí. Ainda antes do que se esperava, mas nem por isso menos dura. Nem por isso menos dramática!