SELECÇÃO NATURAL OU BATOTA?
Por Eduardo Louro
Na mesma reunião partidária – com pompa e circunstância propagandística designada de Jornadas da Consolidação, Crescimento e Coesão - da passada sexta-feira, no Porto, que anunciou a entrega da batata quente a Paulo Portas, e onde um anónimo companheiro de partido lhe disse que estava a dar cabo do país, Passos Coelho deu a consolidação como adquirida e por chegada a hora do crescimento.
Se existe pensamento político em Passos Coelho é esta a ideia que o consubstancia. Esta ideia Darwinista da economia encerra, se não o pensamento político – são cada vez maiores as dúvidas sobre a sua existência –, a estratégia da governação de Passos Coelho. Este governo ignora e despreza a economia portuguesa, entende que no tecido empresarial nacional não cabem micro, pequenas e mesmo médias empresas, que não as estritamente necessárias para servir as grandes. Se não aquele restrito número de satélites que dá vida aos grandes planetas!
Depois de milhares de falências e de um milhão de desempregados Passos Coelho entende que agora sim, agora é que é tempo de investimento. Agora, que já cá não anda um monte de gente que só atrapalhava, venham de lá investir. De lá, porque de cá … não há!
Os que há continuam bem acomodados nas suas zonas de conforto. Protegidos dos incómodos e das chatices da concorrência, confortáveis nas suas rendas, não estão para isso. Os outros, havia. Já não há: foram parar a mãos estrangeiras, porque o governo assim quis. Ou porque as vendesse directamente, ou porque não quis ajudar a mantê-las em mãos nacionais, como aconteceu com a Cimpor, hoje em processo de completa desligação nacional. Porque a CGD - sempre disponível para todos os fretes a todos os governos -, que não hesitou em financiar jogos de especulação financeira e de disputa de poder noutros bancos, entendeu não só não financiar quem a podia manter em Portugal como se apressou - bastou apenas meia hora - a viabilizar a OPA que a levou de cá para fora.
Não. Este não foi um processo de selecção natural onde, como Darwin nos explicou, os mais fortes foram resistindo à medida que os mais fracos iam sucumbindo. Este foi um processo em que pouco foi natural e muito foi batota. Em que os mais fortes foram levados ao colo e os mais fracos asfixiados…