UMA QUESTÃO DE SUSTO
Por Eduardo Louro
Os mercados estão à beira de um ataque de nervos com os resultados eleitorais em Itália. A Europa não está mais tranquila, e a Alemanha, essa, já arranca cabelos!
Mas o que mais marcadamente caracteriza estes resultados das eleições em Itália é a normalidade. E a previsibilidade.
É o resultado normal porque, em boa verdade, a instabilidade política, e até a ingovernabilidade, é a principal característica do sistema político italiano. Foi sempre assim no pós guerra, e só deixou de o ser nos últimos anos, com os governos do Il Cavaliere, essa figura única nascida das cinzas do sistema, depois do ciclone que no final do século arrasou o edifício político do país.
E é um resultado previsível depois desta pouco original ingerência da União Europeia (UE) na política italiana. Na verdade Bruxelas resolveu suspender a democracia em Itália e impor aos italianos um governo de comissariado próprio em substituição do governo que tinham elegido. Impndo aos italianos, não só - como aos portugueses e aos gregos - uma política de austeridade, mas também um governo para a executar, nem a UE, nem ninguém, poderia esperar que os italianos votassem de outra maneira.
Aconteceu em Itália, como já tinha acontecido na Grécia – onde a solução acabaria por passar por novas eleições, onde os eleitores foram sujeitos à humilhação máxima de votar sob a ameaça de uma arma alemã apontada à cabeça. Não aconteceu em Portugal porque não houve eleições, tudo aconteceu em plena primavera do ciclo político. Mas lá virá!
Não se sabe bem quem ganhou as eleições. Acontece o que é costume: todos ganham, e ganham todos à medida de quem faz a avaliação. Bersani e Berlusconi dividiram 70% dos votos, mas para a direita, Berlusconi ganhou sem qualquer sombra de dúvida. E para o centro esquerda foi Bersani o vencedor. Para a esquerda, o Movimento 5 Estrelas do humorista Beppe Grillo – um movimento de cidadania, em terceiro lugar na contagem dos votos, com 25% - foi o grande vencedor destas eleições.
Mas sabe-se quem perdeu: Monti, o homem da Goldam Sachs, o comissário de Merkel. O homem dos mercados - que não o dos italianos – serviu para fantoche. Agora não fica a servir para nada. Nem certamente para muleta de Bersani!
Não sei se estas eleições italianas resultam no caos. Mas sei que estes resultados assustam mais os mercados e a nomenklatura europeia que os italianos. E como o que mais por cá falta é mesmo quem possa assustar os actuais senhores da Europa, esta é uma boa notícia!