Pimenta e refresco
Por Eduardo Louro
É o subsídio de férias, que o governo não paga. E que não deixou de aproveitar para mais confusão e mais trapalhada… Mais uma oportunidade para malhar nos funcionários públicos, e mais uma oportunidade para provar que é o espírito punitivo e não o reformista que o move.
Depois do chumbo, pelo Tribunal Constitucional, do corte do subsídio de férias o governo nem hesitou em trocar o subsídio de férias pelo de Natal, que estava a ser pago em duodécimos. Em vez de repor o pagamento do subsídio de férias, em Junho como a lei estabelece, resolveu meter os pés pelas mãos. Poderia ter dito que não pagava porque não há dinheiro, mas não. Porque logo grande parte da administração pública – quase toda a administração local e ainda o governo regional dos Açores – garantiu ter liquidez e, por isso, a intenção de o pagar, Passos Coelho fez questão de dizer que não era problema de dinheiro. Que era, agora, um problema de lei: não há lei que permita fazer o pagamento. Não há nem é preciso que haja porque, como logo adiantou, não há problema nenhum: o subsídio de férias está a ser pago em duodécimos e o de Natal será pago em Novembro. Como habitual, como sempre…
Curioso é que no mesmo dia em que garante não pagar o subsídio de férias – porque não há lei – garanta ir já a correr fazer uma lei - que não há – para lhe permitir a requisição civil dos professores.
Depois de tudo o que tem feito aos professores o governo admirou-se e achou inaceitável que tivessem marcado a greve para os dias dos exames. Apetece perguntar: estavam à espera de quê?
Depois, não teve a mínima preocupação em gerir o assunto. Preferiu partir para o braço de ferro, sem sequer tentar qualquer alternativa. Nem a última, que seria o adiamento dos exames. Depois de tudo o que tem feito aos professores, o braço de ferro é, certamente, a saída menos aconselhada. Vai correr mal, nem pode ser de outra forma!
Curioso é também que tudo isto se passa no mesmo dia em que o governo declara que o problema dos swaps com o JP Morgan está ultrapassado. O banco americano que se havia recusado a renegociar os famosos swaps, e que tinha mesmo decidido avançar com o assunto para tribunal, mas que, estranhissimamente, tinha sido escolhido pelo governo para consultor da privatização dos CTT.
Um governo de rins flexíveis para a banca – nacional e internacional – mas duríssimo de rins para os portugueses.
Forte com os fracos e fraco com os fortes?
Sim, mas mais do que isso: um governo para quem a pimenta no rabinho dos portugueses é refresco!
Depois admiram-se de não poderem sair à rua…