Diferenças de Estado
Por Eduardo Louro
Um cidadão chamou palhaço a Cavaco numa entrevista publicada num jornal. O cidadão é figura pública e aceita até que se excedeu. O Presidente Cavaco - atitude inédita, não? - pediu a intervenção da Procuradoria Geral da República. Não lhe fica bem, não é assim que se dá ao respeito, como bem deveria saber. Mas também não deixa de ser um direito do Estado de Direito.
Um outro cidadão, este anónimo, no meio de uma multidão, manda Cavaco ir trabalhar. Admitamos que acrescentou malandro. Ou mesmo mais um ou outro desabafo. Fê-lo em privado, não no recato de quatro paredes, mas no recato de pouco mais que igual número de pessoas que, entre a multidão, o circundavam. Só que uma dessas era polícia. À paisana, disfarçado, como na PIDE. Que o prende, como a PIDE, e o apresenta a Tribunal. Que o julga sumariamente…
Cavaco seguiu para a Europa, indiferente ao direito de um Estado polícia. Foi trabalhar, como lhe tinha ordenado o cidadão anónimo que agora já tem nome: Carlos Costal. Que também terá de ir trabalhar – se tiver trabalho – para pagar a multa a que foi condenado.
Ou talvez não - soube-se já hoje -, o Ministério Público não está pelos ajustes: pediu a nulidade do julgamento… É raro, mas às vezes sobra uma pontinha de vergonha neste país...
Também hoje foi deduzida a primeira acusação da famosa Operação Furacão. Teve início há nove anos. É muito mais complicado, este Estado está muito bem preparado para apanhar cidadãos a chamar nomes ao Presidente. Para apanhar malfeitores de colarinho branco é que não tem jeito nenhum…
Diferenças de Estado!