A moção de confiança e o novo ciclo
Por Eduardo Louro
O governo levou hoje ao Parlamento a moção de confiança que o Presidente lhe ordenou que apresentasse. Que, mais que uma moção, foi um abuso. Um abuso de confiança, e um abuso da nossa paciência!
Um abuso que começou em Cavaco que, ao impor-lha, abusou dos partidos da coligação. Mas também da nossa paciência, no meio de tudo isto o que menos tínhamos era paciência para voltar a ouvir tudo, de uma ponta à outra, o que há pouco mais de uma semana tinha sido dito na discussão da moção de censura.
E que continuou no Parlamento – governo, maioria e oposição – incapaz de dar ao debate o caminho que as circunstâncias exigiam. Abusaram, todos. De tudo e da nossa paciência!
Ao governo competia justificar a moção de confiança, tinha a obrigação de lhe dar substância em vez de a esgotar na forma – tanta mais obrigação quanto se sabia resultar de uma intromissão excessiva do Presidente – e isso teria de ser centrado no anunciado novo ciclo. Competia-lhe transformar a moção de confiança na aprovação do guião político do novo ciclo. Só que o novo ciclo esgota-se no IRC, não tem nem mais uma alínea. E percebemos que tem essa alínea porque a comissão liderada por Lobo Xavier lhe deu vida política na semana passada, logo a seguir à tomada de posse. Não fosse isso e o novo ciclo era um livro completamente em branco.
Era por isso impossível ao governo concretizá-lo em objectivos, políticas e compromissos que se transformassem em objecto de aprovação, que credibilizassem a moção de confiança. Restou à maioria, a quem caberia aprovar o guião do novo ciclo, abusar do ridículo de todas as maiorias, esgotando-se nas mais estúpidas e descabidas questões laudatórias. Que, evidentemente, não questionam coisa nenhuma. Bajulam miseravelmente. E à oposição abusar dos jogos florais da retórica, saltando de (não) assunto para (não) assunto e deixando em paz o novo ciclo!
Poucas vezes os narizes de palhaço vieram tão a propósito...