O taxista-mor
Por Eduardo Louro
Há muito que em Portugal muitos se deixaram seduzir pela conversa de taxista. A populi gosta da conversa, dá-lhes ouvidos e com isso mercado. Por isso, aumenta cada vez mais o número de taxistas em Portugal, entendidos não como profissionais do volante mas como profissionais de um certo discurso populista e balofo.
Medina Carreira terá sido dos primeiros profissionais encartados. Começou, se bem se lembram, há já muitos anos, por reclamar uma hora de antena televisiva. Dizia então que, dessem-lhe uma hora de televisão, e ele mudaria o país. Deram-lhe centenas de horas de televisão a solo, ora em plano inclinado ora olhos nos olhos, e mais umas largas dezenas em fóruns e debates para onde era catapultado como grande especialista em coisa nenhuma, mas o país ficou na mesma: cada vez pior, como sempre.
Não sei se é por isso que lhe continuam a dar mais e mais horas de televisão, á espera que realmente acabe por mudar o país. Desconfio que não, desconfio que já toda a gente percebeu que ele não muda coisa nenhuma. Perceberam é que aquilo tem mercado, como já bem sabíamos!
Ontem regressou à antena da TIVI 24 - depois de férias, na companhia da mesma da sparring partner, bem treinada para estes números -para, mãos firmes no volante, e olhos ora esbugalhados no rectrovisar ora revirados para o banco de trás, a acompanhar o movimento contorcionista do dorso à procura de cumplicidade no acenar de cabeça do cliente, se atirar - também ele - ao Tribunal Constitucional. "Para se cumprir o que os juízes querem temos que sair do euro”- sentenciou, sem deixar de explicar - à taxista, evidentemente - que “uma boa forma de satisfazer o Tribunal Constitucional era sair do euro”.
O taxista-mor do reino no seu melhor. Pedro Passos Coelho, que nada tem contra a Constituição, e que até acha que não é preciso revê-la, ainda não se tinha lembrado desta...