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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Negro, como o preconceito!

Por Eduardo Louro

 

Está a decorrer em Angola o campeonato do mundo de hóquei em patins. Os jogos da selecção nacional, que procura recuperar o título há muito perdido, estão a ser transmitidos no canal 2 da RTP.

Há muito que, também para mim, esta modalidade perdeu o encanto e o interesse. E digo também para mim porque a verdade é que é cada vez menor o interesse que desperta, mesmo nas poucas regiões do mundo onde ainda tem expressão. As pessoas e as instituições que têm por dever preocupar-se com isso vão lhe introduzindo regras novas, com o objectivo, de melhorar o espectáculo e a competição e, assim, reverter o clima de perda em que o hóquei em patins há muito entrou. E novas configurações que tornem a modalidade telegénica, capaz de captar os interesses das televisões, que hoje sustentam todas as grandes competições desportivas.

Estes têm sido objectivos sucessivamente falhados, deve dizer-se. Não há muito a fazer quando uma modalidade não tem expressão global, e o hóquei em patins passou ao lado da globalização. Perdeu a beleza estética que os portugueses lhe emprestaram, em particular nas décadas de 60 e 70 do século passado e, com isso, a dimensão de espectáculo capaz de agradar aos olhos do espectador. E perdeu dimensão competitiva, se é que se possa falar de competitividade numa modalidade que em toda a sua história tem cinco campeões do mundo, três dos quais, pode dizer-se, contingenciais: a Inglaterra, que apenas ganhou os dois primeiros, nos longínquos anos de 1936 e 39, e a Itália (1953,86,88 e 97) e a Argentina (1978,84,95 e 97) por quatro vezes cada. Espanha e Portugal - que já não ganha há 10 anos e que neste século apenas ganhou por uma vez (2003, em Oliveira de Azeméis) – com 15 campeonatos do mundo cada, somam 30: praticamente 80% dos títulos!

Também por isso não é modalidade olímpica, embora já lá tivesse passado como modalidade de exibição, em 1992 – Barcelona, como não podia deixar de ser, e onde Portugal ficou fora das medalhas (Argentina, Espanha e Itália). E por isso um campeonato do mundo de hóquei em patins não tem, nem de perto nem de longe, nada que ver com uma qualquer grande competição mundial. E que, evidentemente, está a nos luz do futebol onde um Campeonato do Mundo, como do Brasil do próximo ano, é um acontecimento mundial que mobiliza milhões de pessoas por toda a parte.

Mas não foi para falar de hoquei em patins, nem de campeonatos do mundo, que iniciei este texto. Isso acabou por vir a talho de foice, porque, dizia eu, os jogos da selecção nacional estão a ser transmitidos na RTP2. Que ontem jogava precisamente com a selecção anftriã, num jogo que prometia  - em causa estava justamente o apuramento da selecção angolana para os quartos de final - e que me obrigou a uma irresistível espreitadela. O relato estava a cargo do Paulo Catarro, agora correspondente em Angola da estação pública de televisão, que, como se a transmissão não fosse a cores, entendeu dar-nos os pormenores dos equipamentos das duas selecções: "a selecção nacional apresenta-se com o seu equipamento alternativo, de meias e calções azuis e camisola branca" (cores recuperadas das décadas douradas de 60 e 70) e "a selecção angolana com o seu equipamento habitual de camisola vermelha e calção negro".

Nunca na minha vida, tratando-se de equipamentos, tinha ouvido falar de calções negros. Sempre ouvi falar de calções pretos e, para mim, os calções se são pretos, são pretos, não são negros. As calças, se são pretas, são pretas. Não são negras.

Fiquei a saber que, para este correspondente da RTP em Angola, os calções são negros. Como o preconceito...

Ah! A selecção nacional ganhou por 5-1 e a de Angola ficou fora do seu mundial!

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