Por favor: contem-lhes a história do Pedro e do Lobo!
Por Eduardo Louro
Não foi um mau jogo, mas também não foi o jogo que os sete golos possam sugerir. Houve emoção, mas não tanta incerteza no resultado quanto o 4-3 possa dar a entender.
O Benfica – Sporting de ontem foi acima de tudo um derby, foi muito mais um grande derby que um grande jogo de futebol. Na verdade os maiores temperos do jogo vieram do picante do derby!
Sempre que o jogo se resumiu a jogar à bola – às vezes num jogo de futebol joga-se à bola - a superioridade do Benfica foi notória, e o resultado desequilibrou-se. Os equilíbrios no jogo só surgiram quando vieram ao de cima outras dimensões do jogo. Já o equilibro no resultado teve pouco a ver com o equilíbrio que aqui e ali o jogo conheceu e muito, para não dizer tudo, com a casa arrombada em que esta equipa do Benfica se transformou nos momentos das bolas paradas, de que tanto aqui tenho falado. O problema da defesa à zona não é ter deixado de surpreender os adversários - como Jorge Jesus veio dizer - é ter passado a surpreender os jogadores do Benfica. A marcação à zona nas bolas paradas assenta em duas condições básicas: ocupação estratégica de toda a grande área e determinação no ataque à bola. A estratégia de ocupação dos espaços tem por objectivo posicionar os jogadores para que nunca tenham mais espaço a percorrer até ao encontro com a bola que o adversário para, no ataque à bola, chegar primeiro. O problema é que não é da marcação à zona, o problema é da sua interpretação…
O Sporting apenas cresceu no jogo a partir do momento em que, num canto com tanto de esporádico quanto de desnecessário, o defesa central brasileiro do Sporting, sempre sozinho, correu, preparou o salto, saltou e cabeceou - exactamente como quatro dias antes, em Atenas – para o golo que fez o 3-2. Um resultado que caía do céu e que trouxe o Sporting de volta ao jogo, e o jogo de volta às suas outras dimensões.
O Benfica não escondia o terror das bolas paradas e o Sporting não escondia que era por aí que pretendia ir.
Até que, em mais um minuto 92, num livre lateral resultante de falta nenhuma, era estabelecido o resultado que levaria o jogo para um prolongamento que, por todas as razões – entre as quais o jogo da champions (e que jogo!) a meio da semana e os factores emocionais deste próprio (de mais para menos, a deixar fugir uma vantagem confortável) – se desenhava penoso para o Benfica.
Mas é realmente tão grande a diferença entre as duas equipas que isso não foi suficiente para sequer equilibrar o jogo durante o prolongamento que, para o Benfica, acabou apenas por ser o castigo pela sua inaceitável prestação nas bolas paradas. Como alguém dizia ao meu lado: “não aconteceu Taça”!
Três jogadores do Benfica merecem especial destaque: Cardozo, pelo hat-trick e porque mantém o pânico em Alvalade e André Almeida exactamente pelo oposto. Esteve na origem dos três golos sofridos (no último teve a colaboração do árbitro, mas ele tinha de perceber que bastaria ao jogador do Sporting sentir-lhe o bafo para se mandar para o chão), fez um penalti estúpido, de principiante, que o árbitro não viu e, quando tudo o que a equipa não precisava era de cantos, parecia que o único destino que tinha para dar à bola era a linha final. O terceiro não jogou: chama-se Oblak e era o guarda-redes para a Taça. Só tinha que ter jogado, e isso só Jorge Jesus não percebe…
Sempre foi um pouco assim, mas creio que nunca foi tanto como ultimamente. Refiro-me à arbitragem, e ao que é a reacção sportinguista às derrotas com o Benfica. Bem o treinador podia dizer que não falava de arbitragens… Não falava enquanto o Montero ia marcando uns golos fora de jogo… Não percebem que assim nunca ninguém os leva a sério: alguém tem que lhes contar a história infantil do Pedro e do lobo!
O Benfica foi superior em tudo: marcou mais um golo, teve mais uma bola nos ferros e teve mais penaltis por marcar. O árbitro não assinalou um penalti contra o Benfica – na já referida mão do André Almeida - mas não assinalou três contra o Sporting, um dos quais no lance que resultou no quarto golo do Benfica, e que teria evitado o frango do Rui Patrício. O golo do empate resulta de uma falta inexistente mas, para o Sporting, foi o árbitro...
A arbitragem de Duarte Gomes teve muitos erros, uns mais desculpáveis que outros. Não foi, evidentemente, a grande arbitragem que Jesus, do alto da sua inépcia, referiu. Mas nem de perto nem de longe foi o que Bruno de Carvalho e sus muchachos, inacreditavelmente, querem fazer crer que foi!