VALE A PENA APOSTAR NO EGIPTO
Por Eduardo Louro
As recentes e bem sucedidas movimentações populares na Tunísia e no Egipto deixaram muita gente surpreendida. Gente que, no Ocidente e mesmo no nosso país, entendia bem mais cómodo, seguro e interessante manter ditadores no poder, sabendo com o que podia contar, do que correr alguns riscos que poderiam provir da abertura desses regimes.
Sobre esta perspectiva histórica do Ocidente já aqui me pronunciei recorrendo, inclusive, à célebre e notável expressão utilizada por Kissinger. O que hoje me faz voltar ao tema são as opiniões de alguns sectores da nossa opinion making que, partindo eventualmente do mesmo princípio, vêm publicando teorias da desgraça que mais não fazem que desvalorizar aos olhos da opinião pública a enorme importância da queda de Mubarak e da romântica libertação do Egipto a partir da agora famosa Praça Tahrir.
Refiro-me a pessoas como José Pacheco Pereira, Vasco Pulido Valente ou Vasco Graça Moura. Que preferiram amedrontar com o que aí vem, profetizar a desgraça substanciada no que já ameaçavam como a eminência de uma viragem do Egipto para o fundamentalismo islâmico, a exaltar a fantástica oportunidade para nascimento da primeira experiência democrática do mundo árabe.
Esta lamentável, do meu ponto de vista, visão corresponde exactamente à falta de proactividade ocidental na defesa da democracia. Ou talvez pior, a uma certa ideia que a democracia é privilégio de apenas alguns. Nosso, só nós temos direito à democracia e, num sentido mais lato, ao nosso privilegiado modo de vida. Os outros que se lixem…É por isso que as coisas correm tantas vezes mal!
Pela tese dessas pessoas os egípcios estariam já, a esta hora, a dar vivas a Ahmadinejad e dispostos a engrossar as fileiras de Bin Laden. Pois, mas é ao contrário. O que já se vê é o povo do Irão de novo a levantar-se e a acreditar que a hora da sua libertação também poderá estar a chegar!
Vale a pena apostar no povo egípcio. Vale a pena apostar no povo árabe que não poderá estar condenado a escolher entre os ditadores pró-ocidentais e os fundamentalistas islâmicos. Também tem direito a escolher a democracia e o respeito pelos direitos humanos. E, fundamentalmente, pelo reconhecimento dos direitos das mulheres, que só a abertura à democracia poderá promover