O espírito de Natal vai emigrar
Convidado: Luís Fialho de Almeida
Segundo informações postas a circular pelos mensageiros de trincheira - aqueles que, próximos do governo, anunciam novas medidas de austeridade para ver a reação dos governados – Passos Coelho sente-se aliviado com a decisão do Espírito de Natal de emigrar para terras da Escandinávia, onde a democracia é mais sadia. Passos Coelho terá mesmo comentado que dispensa “espíritos” que lhe irritem a consciência.
Apanhado numa conversa com o Pai Natal, o Espírito de Natal diz-se desiludido e considera que o actual governo e mesmo Seguro como alternativa, deixam o país sem alma, sem pátria, à deriva. Sente-se cansado de uma evangelização inglória e de manifestações hipócritas de solidariedade e generosidade, desde as elites às bases populares, ambas a organizarem-se em gangs para melhor posicionamento no saque. As elites do capital, manipuladoras dos governos, deitam mão a tudo o que seja estratégico e lucrativo. Na base, os espoliados organizam-se para deitar a mão às migalhas, cegos contra cegos, como no “ensaio da cegueira” de Saramago
Por sua vez o Pai Natal, à beira do desemprego, face ao saldo migratório e redução da natalidade, partilha também a opinião que este país está cada vez mais irrelevante, ponderando, igualmente, emigrar.
Tal como acontece com as decisões do Tribunal Constitucional, Passos Coelho, ainda que mostre o contrário, já preparou cenários alternativos para o Natal de 2014. Segundo as mesmas fontes, Passos pretendia acabar com o feriado do dia de Natal, mas foi contrariado por Paulo Portas, que alertou para a importância da celebração a 25 de Dezembro em todo mundo católico desde o ano 354, por determinação do Papa Libério. Para não afrontar a História e a Igreja, Passos vai optar por um programa (ainda provisório) que aqui se divulga:
Com a emigração do Espírito de Natal e o Pai Natal, a quadra natalícia de 2014, será festejada durante todo mês de Dezembro, ainda que Rui Machete esteja a acompanhar a experiência da Venezuela, para uma eventual antecipação do seu início para Novembro, a fim de dar mais felicidade e paz ao povo que anda muito revoltado.
No dia 1 de Dezembro, - ainda se lembram “Restauração da Independência”? - haverá a abertura oficial da quadra natalícia com o discurso solene de Passos Coelho, que irá ler a mensagem de Natal de Angela Merkel, ladeado pelas fotografias desta e do renovado ministro da austeridade Wolfgang Schäuble. Merkel irá dizer que durante a quadra natalícia todos dias são de festa e trabalho, porque o trabalho liberta – os judeus não esquecem “Arbeit macht frei”. Assim, se formos laboriosos, cumpridores e disciplinados, promete que não nos volta a chamar de PIGS.
No dia 25 de Dezembro, será privilegiada a TVI, que irá dar relevância aos acontecimentos da “casa dos segredos”, para distrair o cidadão mais irreverente que gosta de ouvir as mensagens do Papa Francisco, cada vez mais revolucionário e diz coisas tão blasfemas como “esta economia mata”. Já o nosso cardeal D. Manuel Clemente, fará a sua homilia na Sé de Lisboa, abordando a crise social, mas não terá cobertura televisiva.
No dia 31 de Dezembro, Passos Coelho e Seguro, irão finalmente discutir o pacto de regime do pós troika ou da continuação da mesma, durante o réveillon que irá decorrer na Praia dos Tomates, ficando encarregue de preparar a festa a deputada Teresa Leal Coelho. No dia 1 de Janeiro, a mensagem de Ano Novo não será de Cavaco Silva, devido a provável indigestão de bolo-rei e dos avisos da Maria, de que não se fala de boca cheia. Será o sempre versátil e irrevogável Paulo Portas, a apresentar os votos de Ano Novo e a fechar a quadra natalícia, já que o dia de Reis será abolido por ser uma afronta à Republica e, do ouro, do incenso e da mirra, apenas o ouro tem particular valor de mercado.
Durante toda a quadra, para que os portugueses trabalhem com alegria, como Merkel recomenda, Passos Coelho fará umaPPP com o Belmiro, o qual garante a presença permanente da Popota, como artista consagrada da rádio e televisão.
Bem Hajam e sejam todos amigos e felizes neste Natal, porque nem tudo é para levar a sério, apesar de nos “tirarem do sério”.