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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

E depois do adeus

 

Por Eduardo Louro

 

Quis saber quem sou

O que faço aqui

Quem me abandonou

De quem me esqueci

 

… E depois de nós

O dizer adeus

O ficarmos sós

 

Escritos por Ary dos Santos e cantados por Paulo de Carvalho em 1974, numa das mais míticas canções da música ligeira portuguesa, estes bem podem ser versos de um fado saído hoje da voz de Carlos Queiroz.

Neste day after de todas as desilusões pudemos ver que a questão do seleccionador Carlos Queiroz está a dividir o país em duas partes: uma imensa maioria que vê no seleccionador a origem de todos os males e o responsável único por toda a enorme frustração deste adeus ao mundial e uma ténue minoria, associada a alguma elite que pretende intelectualizar o futebol, que o defende de uma forma militante.

Claro que as questões que se levantam ao futebol da selecção nacional não se esgotam, nem de perto nem de longe, no seleccionador. Mas é para aí que todas as atenções estão viradas!

Antes disso haveria, neste depois do adeus, que desmistificar as muitas mentiras que se instalaram no reino deste futebol. Ontem falava da maior: a classificação da FIFA, ao atribuir-lhe o terceiro lugar do ranking mundial. Mas há mais: temos o melhor jogador do mundo; dos melhores jogadores a jogarem nas melhores equipas do mundo; e até dos melhores treinadores do mundo.

Depois destas mentiras importaria reflectir na realidade da escassez de valores, consequência do abandono de uma política de formação em que a Federação, embalada por Scolari, se deixou cair. Ou na política dos clubes que em vez de investirem, também eles e de mote próprio, em formação, optam por importar jogadores em massa da América do Sul, que tapam a progressão dos poucos valores jovens que, apesar de tudo, vão surgindo. Apesar dos escalões jovens estarem inundados de estrangeiros: basta olhar para a constituição das equipas dos três grandes que disputam o campeonato nacional de juniores.

Mas é Carlos Queiroz que está de facto em causa, e o seu despedimento fora de questão. Nem que seja por razões financeiras: recorde-se que era apontado como o terceiro (seria por causa do tal ranking?) mais bem pago entre todos os seleccionadores e que, não se sabe por que carga de água, assinou um contrato de quatro anos. Vale por isso a pena olhar para as linhas com que Queiroz se cose.

Surge na área da formação onde, no final da década de 80 e no início da de 90, atinge o sucesso absoluto: títulos e sucessivas fornadas de jovens de elevado potencial – a geração de ouro do futebol português. Empurrado por esse sucesso toma conta da selecção A. Não resultou. Tudo acabou com o apuramento falhado para o mundial dos Estados Unidos de 94. Segue-se o Sporting, onde com a grande equipa de 94 não consegue ganhar nada. E depois uns largos anos pelo mundo fora: EUA, Japão e Africa do Sul. Sem grandes êxitos e com a particularidade de ser afastado da equipa sul-africana depois de garantido o apuramento dos para o mundial de 2002.

Regressa à Europa para adjunto de Ferguson, no Manchester United, que lhe não poupa os elogios que o levarão ao Real Madrid, dos galácticos. Não resiste mais que uns poucos meses e regressa a Inglaterra, onde Ferguson o receberia como o filho pródigo até ser recebido em ombros como seleccionador nacional em 2008.

A história de Queiroz mostra que quando assume a máxima responsabilidade em projectos de responsabilidade máxima, falha. As coisas correm-lhe bem quando assume a máxima responsabilidade em projectos que não são de responsabilidade máxima ou quando não assume a máxima responsabilidade em projectos de responsabilidade máxima.

Não será um problema de liderança?

Creio que todos nos lembraremos do bom futebol apresentado por aquela equipa do Sporting, em 94. Como nos lembramos que, quando pegou no galáctico Real Madrid, pudemos ver durante dois meses o melhor futebol que o Real apresentou na última década. O mesmo sucedeu com a entrada na selecção nacional: as exibições nos primeiros jogos foram fantásticas. Aquele jogo com a Dinamarca em Alvalade foi uma delícia. Mas perdemo-lo!

Queiroz sabe pôr as equipas a jogar bom futebol. Não consegue é mantê-las nesse nível por muito tempo. Não será, ainda, um problema de liderança?

Queiroz tem reconhecidas capacidades de planeamento. Mas depois ignora a realidade, que confunde com o seu plano. E fica perdido! Por isso as substituições não são as que o jogo pede, mas as que ele planeou. Por isso a táctica não é a que o jogo reclama mas a que projectou.

Há aqui um problema de equipa. Terá que ter na equipa técnica um adjunto com competências nestas áreas, que o liberte para a concentração na avaliação do jogo e que o proteja, aconselhe e ajude. O que, como vimos, estranhamente não há. Estranhamente porque Agostinho Oliveira, com muitos anos de trabalho com Queiroz e que até já passou por treinador principal da selecção, se esconde atrás dele, como que a querer dizer que nada tem a ver com aquilo. E Queiroz fica só, cada vez mais envolto numa solidão que o torna teimoso e refém dos seus fantasmas, como bem se viu com a desastrada convocatória.

Se não se resolverem estes problemas há sempre outra solução: contratar Alex Ferguson e deixar Queiroz como seu número dois. Pelo menos punha-se o CR a jogar á bola na selecção, coisa que ainda ninguém conseguiu fazer!

 

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