AS NOMEAÇÕES DO COSTUME
Por Eduardo Louro
Começou a corrida às nomeações e promoções que, em Portugal, se assemelham às corridas aos saldos. Dantes, quando funcionava a normalidade, havia a época de saldos – nos tempos que correm quem quiser vender alguma coisa tem de fazer saldos todo o ano – e as pessoas chegavam a fazer filas às portas dos principais estabelecimentos para ganharem uma corrida cujo prémio eram as melhores peças, precisamente por serem os primeiros a escolher. À medida que os anos foram passando, e as corridas aos saldos desaparecendo, fosse porque a época se alargava fosse porque já nem para saldos havia dinheiro, fomo-nos apercebendo da chegada de uma nova corrida: a corrida às nomeações e às promoções de fim de época!
Invariavelmente, independente da cor – também aqui não há santinhos – os governos em fim de prazo canalizam todas as energias para as nomeações de última hora.
Este governo não poderia (como poderia?) fugir à regra. Nem a catástrofe em que deixaram o país mergulhado, nem uma réstia de vergonha pelos sucessivos escândalos que afundaram o país na mais grave crise moral do último século - mais grave que todas as outras (económica, financeira e política) juntas - impediu este governo de, à última hora, instalar mais umas dúzias de boys: 156 nomeações numa semana, depois da demissão. É obra! E nós a pensarmos que já tinham comido tudo… Que já só restavam ossos!
Compreende-se agora que os poderes de um governo de gestão se esgotam em nomeações e promoções. Como é que poderiam chegar para resolver os problemas do financiamento do país?
Agora vêm à pressa dizer que, de todas essas nomeações, apenas uma foi assinada depois da demissão do governo. Claro! Quem é que não sabia o que se iria passar naquela tarde de 23 de Março?
Se esta gente nem consegue perceber o que está a fazer ao país como é que se pode esperar que sejam capazes de nos tirar daqui, deste buraco onde nos meteram?