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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

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Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

PS: S de SEITA?

 Por Eduardo Louro

 

Correu o pano sobre o mega comício do fim-de-semana do PS, sob o culto majestático do líder. Um líder sacralizado, deificado!

Sócrates confundiu-se com o governo. E fez do PS o Partido de Sócrates. O congresso do PS revelar-nos-ia já não um partido mas uma seita. Uma seita que segue cegamente o seu pastor, algures entre o líder idolatrado e o déspota temido.

Um líder que prometera pôr o país a crescer e o deixa em recessão. Que prometera criar 150 mil postos de trabalho e o deixa com a maior taxa de desemprego de sempre. Que prometera recuperar as contas públicas e as deixa na maior penúria de sempre. Que, no limite de tudo isto, nega a realidade. Que, por pura teimosia pessoal, garante que o país não precisa de ajuda externa enquanto as taxas de juro não param de subir e a credibilidade do país de descer. Que, por arrastar o país nessa irresponsável teimosia, acaba por nos deixar ao “Deus dará” da União Europeia e do FMI. Por nos entregar ao mesmo FMI que diabolizou e com o qual nos assustou como ninguém.

O líder que, pela primeira vez, leva pelas suas próprias mãos o país de rastos até ao FMI. É que Soares, nas duas vezes anteriores, fê-lo para expiar penas alheias – na primeira arrastado pelos desmandos do PREC e, na segunda, pela incompetência e eleitoralismo de Cavaco Silva (sim, ele já cá anda há muito, e, quando ministro das finanças do primeiro governo da AD - um governo de apenas um ano, pelas vicissitudes da lei eleitoral de então - para voltar a ganhar as eleições no ano seguinte, protagonizou um regabofe que passou pela valorização do escudo em 6%, uma valorização irresponsável que fez disparar as importações e todos os défices) que nos encaminhou durante os dois governos de Sá Carneiro (quem diria que também isto faz parte do mito Sá Carneiro?), alegremente até ao FMI. Mário Soares foi, na altura, apenas motorista num percurso traçado pelos governos da AD.

Que nos entrega ao FMI sem poder imputar responsabilidades a mais ninguém. Porque é ele que em 6 anos nos leva até lá e não, como pretende fazer crer, uma oposição que há duas semanas lhe chumbou um PEC – para ele o quarto mas para nós o inconsequente enésimo – que ele, sem o mínimo respeito pelas regras democráticas, negociara à revelia de tudo e de todos.

Mas Sócrates não nos entregou ao FMI apenas depois de ser o responsável por isso e de nos assustar com isso. Entregou-nos depois de nos mentir também sobre isso. Depois de, na véspera, ter negado qualquer hipótese disso vir a suceder. Depois de negar que isso tivesse sido abordado no Conselho de Estado, abrindo a porta a uma sucessão de vergonhosas indignidades, e arregimentando para essa mentira figuras do seu partido sempre disponíveis para a cumplicidade na construção das suas realidades forjadas.

Seria possível, num contexto que não o de uma seita, reeleger por mais de 93% um líder como este? E votar a sua moção com 97% dos votos? E aclamá-lo e responder-lhe em uníssono que estão com ele?

O culto da personalidade que pairou sobre o congresso demonstra bem a afinidade de Sócrates com Kadhafi e Chavez. Não, ele não quis apenas fazer negócios com eles. Ele identifica-se com essas duas personalidades. Só isso explica aquilo em que transformou o congresso!

Um congresso que ele tinha preparado para surgir como o salvador da pátria das garras do FMI e onde, porque os banqueiros, ao lado dos quais sempre esteve e que sempre estiveram ao seu lado, tirando-lhe o tapete, o obrigaram a uma mudança de guião de última hora. Com a qual lidou com o maior dos à vontades. Como se nada se tivesse passado!

Tenho pena, muita pena, de ter visto o que vi neste embuste!

De ver dentro, mas principalmente fora do Congresso, gente que tenho por inteligente trocar o cartão de militante pelo de membro da seita. De ver, António Costa, sem surpresa, e António Vitorino, com alguma surpresa e todo o ridículo, integrarem a seita. E de ver Ferro Rodrigues resumir-se ao simples papel de coelho que Sócrates tirou da cartola.

De resto pouco mais deu para ver. Deu para ver Jaime Gama, ainda com a cadeira de segunda figura do estado quente e já com a janela da retirada aberta sobre o Atlântico, sair um pouco do guião. Deu para ouvir Luís Amado – a única voz sensata e (estranhamente ou talvez não) dissidente - admitir que seria bom que o PS fizesse uma cura de oposição. Deu para ver que ninguém quis ouvir, quanto mais aplaudir, Ana Gomes, deu para ter pena de Manuel Alegre (já só dá pena, cada vez mais) e para ver António José Seguro “escondido atrás dos arbustos”.

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