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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

URGÊNCIAS

Por Joana Louro *

 

O País caiu no fundo... A Europa, sem se aperceber que estamos todos entrelaçados, vai a caminho! É o fim anunciado de um sonho e de um projecto... E o fim de um país autónomo, independente, digno e respeitável. Mas também o fim de um sonho, do sonho europeu, de uma Europa do Atlântico aos Urais, unida pelos laços da paz e do desenvolvimento. É uma desilusão em dose dupla. Porque Portugal e Europa são indissociáveis, por muito que do lado de lá se queira negar a realidade…  

O desencanto instalou-se no país... E não existem piores sintomas que o desencanto, a descrença e a desilusão, que surgem quando já tudo se perdeu sem que sequer se vislumbre um ramo a que deitar a mão. Um país sem autoconfiança, sem auto-estima e que simplesmente deixou de acreditar é um país doente e com péssimo prognóstico... O desencanto é tanto que abafa a revolta: até o FMI deixou de ser o papão mau de outros tempos para passar a ser um mal menor! Bem menor, pelo que vamos vendo das posições da União Europeia, claramente mais papista que o papa: mais FMI(sta) que o FMI!

Não pretendo encontrar culpados nem tão pouco consigo encontrar soluções... Mas não consigo olhar para esta classe política sem um forte sentimento recriminatório. Só me ocorre banir toda a actual classe de políticos, inibi-los do exercício de uma actividade que não souberam defender, quanto mais prestigiar. E acreditar que ainda existam pessoas sérias e competentes, com suficiente altruísmo e sentido cívico, para reformular um projecto e recriar um país quase milenar e com uma História que não cabe – nem nunca poderá caber – neste rectângulo desgovernado, desrespeitado e humilhado. Sei bem que isto é difícil. Também esta esperança se vai desvanecendo por detrás de cada desilusão!

E com o país lá bem no fundo a miséria instala-se, cresce e avança. Há já pessoas vão ao serviço de urgência com uma qualquer desculpa apenas para comer uma sopa que já não encontram e que, provavelmente, será a sua única refeição do dia. Os doentes, cada vez mais idosos, cada vez mais crónicos, cada vez mais doentes, recorrem cada vez mais aos cuidados de saúde por descompensação da sua patologia de base: porque já não há dinheiro para os medicamentos que necessitam para o seu equilíbrio. Não há urgência em que não dê entrada alguém que vem de uma tentativa de suicídio: pessoas totalmente destruídas que, esgotado o limiar da resistência humana, pensam encontrar ali, bem no centro do desespero, a única solução para todos os seus problemas.

Esta é a dura e crua realidade. Há miséria, fome, angústia e desespero neste país. Vejo-a passar à minha frente no Serviço de Urgência. Todos os dias, num retrato real de um país que caiu no fundo.

 

 

* Convidado especial: Texto publicado hoje no Jornal de Leiria

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