ECOS DO DISCURSO DE UNIÃO
Por Eduardo Louro
Pela primeira vez – e aproveitando uma Assembleia da República demissionária – o presidente Cavaco Silva, provavelmente animado por este súbito impulso de unidade, chamou os ex-presidentes (curiosamente estão vivos todos os ex-presidentes eleitos e já não estão entre nós os dois que exerceram a função por nomeação) do pós 25 de Abril para, com ele, cumprirem as comemorações oficiais. E o resultado foi um discurso oficial de apelo à convergência dos partidos, em especial dos do chamado arco do poder.
É um discurso que, percebendo-se, não deixa de soar a estranho. O que é curioso é que se perceba e se estranhe precisamente pela mesma razão!
Não me parece que se deva perceber este discurso à luz da actual crise política, económica, financeira, social e ética. Apelar à união de todos em período de crise é um lugar-comum, não traz nada de novo. Não é normal, nem sequer em meu entender razoável, que em período pré-eleitoral, e em ambiente de campanha eleitoral, se venha falar de convergência entre os partidos. Pelo contrário, em democracia o normal é, em períodos destes, salientar as diferenças e puxar pelo que distingue as diferentes opções.
Por isso acho que se poderá perceber facilmente que marcar eleições e, ao mesmo tempo, pedir a unidade dos partidos, não bate certo. Não joga a bota com a perdigota! Marcar eleições antecipadas quer dizer que é tempo de se ir à procura de novas soluções, de alternativas. Ao invés, se a ideia for procurar soluções consensuais e promover a convergências e a unidade, o que há a fazer é criar plataformas de entendimento nesse sentido. Nunca antecipar eleições!
Então porquê este anacronismo? Porque já toda a gente percebeu que as eleições não vão dar em nada. Que a solução não está ali! Que as eleições, em vez de clarificarem a situação política, tornam-na ainda mais complicada.
E, portanto, se as eleições não vão resolver o que se supunha resolverem, há que voltar à outra fórmula: procurar criar plataformas de entendimento. O que em campanha eleitoral não é fácil. Entra então aí a outra parte do discurso: aquela que, reconhecendo o bizarro que é pedir união, pede contenção no discurso de campanha. Para que da campanha não saiam minadas e envenenadas as hipóteses de entendimentos pós-eleitorais.
Quer isto dizer que foi errada a decisão de antecipar eleições? Vista daqui e de agora a resposta é clara: foi! Mas vista de então e de lá não foi um erro. Foi azar!