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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

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Futebolês #74 CRENÇA

Eduardo Louro

     

O futebol tem, como se sabe, muito de religião. São muitos os pontos de contacto entre a religião e o futebol, muito para além do factor alienante que é frequentemente invocado! Estranhamente o futebolês não recorre muito a esses pontos de contacto: ao contrário do que poderia parecer esta crença não tem nada a ver com a fé religiosa ou com a crendice básica que tantas e tantas vezes sustenta as religiões. E a ignorância!

A crença, em futebolês, corresponde a um estado de espírito colectivo que se traduz num forte acreditar. Em acreditar em si, nos seus pares e nos seus líderes! Nada que seja exclusivo do futebol: é antes um dos alicerces de qualquer teoria de motivação. É qualquer coisa de fundamental sempre que se trate de gerir recursos humanos. E, como sabemos, tudo o que seja desporto colectivo de alto rendimento transformou-se no mais exigente laboratório de manipulação de variáveis de comportamentos físico e emocional de pessoas com vista à optimização de desempenhos.

Manuel Sérgio, o professor que tenho por grande filósofo do futebol, e que frequentemente aqui cito, usa esta expressão emblemática: “uma grande equipa vive de uma grande crença”!

É de facto assim: uma grande equipa de futebol é constituída, indubitavelmente, por grandes jogadores, por jogadores de grande capacidade técnica em boa condição física. Mas se lhes faltar a crença – uma grande capacidade psicológica capaz de os fazer ultrapassar os obstáculos, as dificuldades e as contrariedades – falta-lhe aquele plus, aquela mola que é capaz de transformar o azar em sorte, a tristeza em alegria e, no que finalmente mais importa, de virar a derrota para a vitória.

Incutir essa crença na equipa é seguramente a mais exigente das tarefas do líder, do treinador. Não havendo quem a não saiba cumprir de todo, raros, raríssimos, são os que permanentemente a conseguem desempenhar. Qualquer treinador consegue num determinado período, nem que seja num único jogo, transportar para a equipa toda a carga motivacional que a faça transcender-se. De forma idêntica qualquer jogador consegue reagir positivamente a esses estímulos. Já é bem mais difícil encontrar um treinador que consiga manter os índices psicológicos da equipa no topo, se não na totalidade, na maior parte e nos mais decisivos momentos da época. Precisamente porque essa é a sua mais exigente competência, porque é a cereja no topo do bolo, porque só resulta depois de exercidas todas as restantes competências: táctica, técnica, planeamento, comportamento e comunicação.

Exigem-se hoje muito mais qualificações aos treinadores. Percebe-se que hoje, como também diz o Prof. Manuel Sérgio,” um treinador que saiba muito de futebol, se só sabe de futebol, nem de futebol sabe”!

Esta equipa do Porto está realmente uma grande equipa porque vive de uma grande crença. De uma grande crença incutida por um treinador que, mesmo muito novo, sabe muito de futebol. Mas que não sabe só de futebol!

Por isso vai igualar o recorde do Benfica e ganhar o campeonato sem derrotas – arrisco mesmo que com apenas dois empates. Por isso chegou à Luz com dois golos de desvantagem e, acreditando, em 12 minutos em que tudo saiu bem, eliminou o Benfica. Por isso ainda agora frente aos espanhóis do Villareal – uma equipa de topo do futebol espanhol – depois de uma primeira parte (recorde-se igualmente a primeira parte do jogo da Luz) em que o adversário lhe foi claramente superior (com muitas ocasiões e com o único golo), acabou por marcar 5 golos, arrumar a questão do apuramento para a final, e atingir o terceiro jogo consecutivo na Europa com chapa 5. E por isso ninguém se lembra nem discute que, por exemplo, o decisivo segundo golo na Luz foi irregular (fora de jogo) e que o terceiro resultou da sorte de um desvio da bola num adversário. Ou que o decisivo primeiro dos 5 golos aos espanhóis surgiu logo no início da segunda parte, mas, mesmo assim, já depois de o adversário ter falhado a oportunidade de fazer o dois a zero, e através de um penalti inexistente! E que logo a seguir veio o 2-1, que levou os espanhóis a partir para a frente com pouca cabeça…

Mas a crença é como o futebol: é isto mesmo!

 

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