Arrufos
Por Eduardo Louro
Ontem, no encerramento das jornadas parlamentares do PSD, Pedro Passos Coelho proclamou a separação de águas. A partir de agora é governo para um lado e PSD para outro. Acabou-se a brincadeira! Cada um vai á sua vidinha!
Sócrates, aproveitando o balanço da bandeira da Golden Share, a tal oportunidade dourada de que aqui falava a semana passada, começava a esticar a corda. Estava mesmo a pedi-las, até porque o guião desta novela em que se transformou a nossa vida política é muito previsível, isento de suspense. Não há surpresas!
Ao líder do PSD não restava alternativa: tinha mesmo de partir a loiça e de provocar mais um arrufo. E fê-lo. Se foi muito convincente é outra história…
Não foi. A conveniência do casamento continua a falar mais alto e a fazê-lo resistir a qualquer arrufo. Por isso lá teremos que aguentar mais um ano, até ao início do próximo Verão como aqui referia há perto de um mês, a ver se há condições para, uma vez mais, se perspectivar alguma coisa que nos governe.
É esta a nossa sina. Passamos pelo último ano desgovernados porque vinham lá três eleições: um país adiado à espera das eleições, que eram muitas, um fartote! Passamos este exactamente na mesma, sentados à espera que o tempo passe. A adiar, a nossa verdadeira especialidade! Porque o governo é minoritário e a oposição precisa de tempo para se organizar. Quando, finalmente, está organizada – quer dizer, quando as sondagens começam a dizer que chegou o momento – entra-se no tempo em que nada pode acontecer: os últimos seis meses do mandato presidencial. E lá ficamos outra vez à espera de eleições, agora de presidenciais. E de mais seis meses, os primeiros do mandato, em que nada continua a poder acontecer…
E assim passamos 2009, estamos a passar 2010 e passaremos 2011. Três anos, no coração da maior das crises da nossa história recente, apenas a deixar passar o tempo, sem nada fazer.
Nada? Bom, não é bem assim! Sempre se vai fazendo alguma coisa: continua a aumentar-se uns impostos e renova-se a frota automóvel do Estado, conforme noticiava o Correio da Manhã de anteontem.
O que nos vale é o Presidente da República. É certo que não faz nada para alterar este estado de coisas. Mas vai-nos dando umas lições de economia, porque disso sabe ele. Mal amanhadas mas não deixam de ser umas liçõesitas, sempre acompanhadas por um atestado de competência (“…eu sou professor de economia…”) e por um certificado de desresponsabilização com que sacode de água do capote: “eu ando há muitos anos a avisar “!