80 anos de Variações
Assinalam-se hoje os 80 anos de uma vida interrompida há um pouco mais de 40. Com tanto para dar, e com muito, muitíssimo mais dado do que, pela altura, alguma vez imaginado.
António Joaquim Rodrigues Ribeiro, um dos doze filhos de Jaime Ribeiro e Deolinda de Jesus Rodrigues, nasceu há 80 anos, no Lugar de Pilar, da Freguesia de Fiscal, no concelho de Amares. E morreu em Lisboa, no dia de Santo António do ano de 1984, com 39 anos.
Aos 39 anos António Variações tinha sido tudo. Tinha sido barbeiro e cabeleireiro, tinha tido mundo e quase que não tinha tido tempo de ter sido músico. Mas teve. E foi!
Gravou apenas um single dois LP´s. De vinil, evidentemente. O segundo já foi mesmo no limite do tempo que a vida lhe reservara. Ninguém sabia o que era aquilo, que música era aquela. Foram precisos muitos anos para alguém conseguir lá chegar...
Sou completamente leigo em música. Apenas gosto, ou não gosto. Daquela sei que gostei logo, e que na minha profunda ignorância musical intuí que seria uma referência para a música portuguesa do futuro.
Em 1994, dez anos depois da sua morte, eu era responsável pela filial portuguesa de uma empresa internacional italiana, que tinha por política de formação de quadros recrutar jovens italianos à saída da Universidade e rodá-los pelas filiais no estrangeiro. Um desses jovens, que tive o gosto de receber e ajudar a formar, a certa altura disse-me que não conhecia nada da música portuguesa, e que gostaria de saber por onde começar.
Cheguei a casa e decidi passar uma boa parte da noite a gravar para uma "tape" de 90 minutos - era assim, nesse tempo - Amália, José Afonso e ... António Variações. No dia seguinte entreguei-lha e disse-lhe que estava ali o edifício da música portuguesa: em Amália e José Afonso, os pilares; em António Variações a ponte para o futuro.
Agradeceu-me, mas lembro-me que na altura não ficou muito entusiasmado. Recomendei-lhe que voltasse a ouvir, convencido da minha tese. Como hoje estou convencido que está confirmada!