Espreitando por trás dos taxis
Por trás da forma como se manifestam os taxistas, com mais ou menos arruaça, com mais ou menos - geralmente com mais - desacatos, com mais ou menos perturbação da ordem pública, ou mesmo com a subversão das formas de luta - como ontem aconteceu ao transformar uma marcha lenta num bloqueio - não há apenas uma desproporção de regulação difícil de perceber. E de aceitar.
Mesmo que este confronto se limite a opor dois tipos de agentes que basicamente desempenham a mesma actividade económica, mas a quem o Estado regulador coloca exigências completamente diferentes, ao ponto de, a uns, exigir tudo e, aos outros, não exigir nada, percebe-se o que está por trás.
Percebe-se a marcha do neo-liberalismo global que leva á frente tudo o que seja regulação. Que esmaga à sua passagem tudo o que encontre e que, de alguma forma, crie obstáculos ao resplandecente laissez fair laisser passer da globalização.
A uberização das sociedades é isto que hoje se vê embrulhado nestas plataformas de mobilidade, que no fundo coloca aos cidadãos um trade off que cheira a chantagem: toma lá vantagens e facilidades inidividuais enquanto cliente, e dá cá, enquanto cidadão, todos os direitos colectivos que possam constituir os nossos deveres e obrigações. A uberização é a precarização das relações sociais, é um mundo sem direitos laborais nem obrigações contratuais. Sem regularização. E sem Estado que não seja em serviço próprio!
O que não quer dizer que o regulado mundo dos taxis esteja cheio de virtudes. Nada disso...