BEM-FEITO... BEM-FEITO...
Por Eduardo Louro
Falhada a eleição para a Presidência da Assembleia da República, Fernando Nobre não mais voltou ao hemiciclo. Falhou a discussão do programa do governo e depressa correu a notícia de que não voltaria a sentar-se no parlamento. Acaba de se saber que entregou a carta de renúncia na passada sexta-feira.
O mundo da política tem muito a ver com o das crianças. Daí que se não estranhe aquele martelar ritmado que se vai ouvindo um pouco por todo o lado: bem-feito… bem-feito … bem-feito…
É a apregoada crueldade das crianças!
Não sei se Fernando Nobre merecerá tamanha crueldade. E quando digo isto não pretendo aligeirar-lhe as responsabilidades. Nem limitá-lo à exclusiva condição de vítima!
Ele tem muitas responsabilidades no que lhe aconteceu e, sendo vítima de alguns preconceitos e de pequenos percalços, é, antes de tudo isso, vítima de si próprio!
Conseguira – muito à custa do prestígio e da visibilidade pública granjeado por entreposta (e nem sempre muito transparente) AMI - furar as barreiras de acesso e entrar pela porta grande da actividade política. Conseguira – acto contínuo - aglutinar vontades e mobilizar esperanças à volta da sebastiânica ideia da cidadania. Rapidamente destruiu todo esse capital, porque logo começou a deixar claro que não tinha substância para aqueles voos. Não tinha ideias estruturadas, não tinha princípios ideológicos, nem coerência política, nem discurso! Nada!
Mesmo assim – e já sem se perceber muito bem como – ainda chegou aos 700 mil votos nas presidenciais. Foi, para ele – e não só, não é Pedro Passos Coelho? –, péssimo: travou-lhe a evidência do princípio de Peter!
Não foi o primeiro - nem será o último – a ser enganado pela ilusão dos votos. Pôde evitar a emulação e fugir da fogueira que ardia bem alta. Não o fez, foi até ao fim - sem honra nem glória, mas pior, sem dignidade - acabando humilhado ao som daquele ritmado bem-feito… bem-feito … bem-feito… que ouvia por trás de cada elogio a Assunção Esteves!