Ponto final no imbróglio
Por Eduardo Louro
Praticamente um mês depois da assembleia-geral (AG) da PT que recusou, por via da golden share, a oferta da Telefónica para a compra da sua participação na Vivo, aí está o ponto final numa complicada caldeirada que meteu de tudo: negócios e política, como já vem sendo hábito, relações internacionais, política doméstica, união europeia e … muito bluff.
Vendido: 7,5 mil milhões!
É uma história com final feliz. Ou assim parece. Espanhóis satisfeitos porque lograram os seus intentos. Accionistas da PT mais do que satisfeitos, afinal o negócio ainda rendeu mais 350 milhões do que o valor que tinham aceite na AG. Administração satisfeita porque ficou muito bem na fotografia, por todas as razões e mais uma. Ou três: não se deixou enrolar pelo bluff, pôs a Telefónica a negociar, coisa com que a arrogância inicial se não vislumbrava, e consegue ainda uma alternativa no mercado brasileiro por apenas metade do valor encaixado. E o governo, que é como quem diz, José Sócrates, satisfeito porque – quando depois da decisão do Tribunal da Comunidade já só se viam desgraças, desde indemnizações aos espanhóis à suprema desonra de meter o rabo entre as pernas e enterrar a golden share, passando pelo fardo do peso da responsabilidade por um casamento (PT/Telefónica) que já não tinha as condições mínimas para funcionar – consegue manter içada a bandeira do interesse nacional através da manutenção da presença no Brasil, agora pela via da OI.
Um final feliz e surpreendentemente rápido. Ainda na semana passada a Telefónica ameaçava com uma série de expedientes, entre os quais o da dissolução da holding brasileira, a Brasilcel, sedeada na Holanda. Ameaças de processos judiciais em fila à entrada do tribunal de Haia eram mais que muitas… No dia 16, data limite para a proposta dos 7,15 mil milhões aprovada em AG e chumbada pela golden share, a telefónica anunciava, precisamente à meia-noite, a retirada da oferta…
Afinal os escritórios de advogados desta vez não tiveram sorte!
Às vezes as coisas correm desta maneira. Repare-se que até Ricardo Salgado, de todos os accionistas o que mais batera na golden share, dela dizendo na altura o que Maomé não ousaria dizer do toucinho, referia já, numa conferencia do Jornal de Negócios da semana passada, que afinal a posição do governo não tinha sido tão negativa como inicialmente lhe parecera. Dizia então que já admitia que o valor da oferta ainda viesse a ser corrigido e que se poderia conseguir alguma coisa no Brasil, e que, se assim fosse, o mérito era todo do primeiro-ministro.
É quase como o regresso do filho pródigo. E uma semana em cheio para Sócrates: ontem o Freeport e hoje a PT!
Uma recomendação, sr Engenheiro: já agora não estrague, não faça como ontem. Faça um esforço e não diga nada!