INSERÇÃO SOCIAL
Por Eduardo Louro
Na passada quinta-feira tive de me deslocar à estação dos CTT para levantar um registo. Cheguei e, quando me preparava para sair o carro, já com a porta aberta e ainda a pegar na carteira e nos óculos, vejo-me rodeado de três concidadãos – entre os vinte e os tinta e poucos anos – de uma das mais antigas minorias étnicas instaladas no nosso país. Olho à volta e vejo mais uns quantos com as mãos cheias de notas que iam arrumando nos bolsos. Os que me rodeavam olhavam pormenorizadamente para o carro e, sem mais nem menos, um deles pergunta: “é 5.25 ou 5.30”?
Dei uma resposta! “É igual ao meu”, retorquiu de imediato o mesmo que iniciara o interrogatório que, sem mais demoras, lançou uma nova série de perguntas às quais fui respondendo afirmativamente até perceber que teria que encontrar uma resposta negativa: “não, não tem caixa de cd`s”! “O meu tem” – concluiu o meu inesperado interlocutor. “Pois, o teu tem os extras todos … “, sentenciou um dos seus acompanhantes, enquanto eu aproveitava aquela oportunidade única para fechar o carro e começar a afastar-me em direcção à porta da loja, logo ali.
A loja estava cheia de homens, mulheres e crianças – familiares e amigos do pequeno grupo que deixara para trás, mas que também já entrava porta dentro – num berreiro infernal que deixava os dois únicos funcionários em atendimento de cabelos em pé.
Cada um tinha na mão um cheque da Segurança Social – e percebi então a primeira imagem que me tinha ficado – que, passadas as formalidades das assinaturas e da apresentação do cartão de cidadão, era transformado numa mão cheia de notas. Também a mão do meu anterior interlocutor – o da frase “é igual ao meu” –, agora já abraçado à mulher que dentro da loja lhe garantia a vez, exibia o título que rapidamente se transformaria em notas.
Rendimento mínimo, evidentemente! Não! Rendimento de Inserção Social!
De inserção social?
No sábado – ontem – fui ao mercado municipal. Fora encerrado pela ASAE mas já estava de novo em funcionamento!
Os muretes da frente, que delimitam o parque de estacionamento, lá estavam, como em todos os sábados, cobertos de lenços, cuecas, calças, vestidos, saias, t shirts, camisas e pólos. De todas as marcas… Só que, desta vez, uma boa parte da exposição estava tapada por um verdadeiro (não, não era contrafeito) BMW, de portas e capot abertos. À sua volta um grupo de concidadãos, que eu tinha encontrado num lado qualquer, espreitava-o de todos os ângulos…
“É igual ao meu”!