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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

TRUQUES

 

Por Eduardo Louro

 

 

O Presidente Cavaco Silva, em cerimónia oficial de inauguração de um complexo residencial para idosos, ontem em Torres Vedras, convidado a pronunciar-se sobre a justificação do imposto que nos leva metade do subsídio de Natal – a sobretaxa de IRS que, esfumado o desvio colossal, agora ninguém consegue justificar – começou por dizer que “o senhor ministro já teve ocasião de explicar a razão pela qual o governo fez essa proposta”.

Tornou-se de resto recorrente o Presidente subscrever as explicações do ministro das finanças: ainda há bem pouco fez o mesmo a propósito do famoso desvio colossal, repetindo até os gestos. E teve ainda oportunidade de acrescentar que a sua preocupação vai para os que se não encontram em condições de contribuir para este imposto extra. Explicou rapidamente – e nós rapidamente percebemos – que essa preocupação não tinha nada que ver com todos os que ficaram de fora deste esforço adicional exigido ao país, designadamente a banca, as empresas e os investidores financeiros. Não: “são muitos dos desempregados, são muitos daqueles que se encontram em situação de exclusão social, são doentes crónicos, são famílias de muitos baixos rendimentos”!

A preocupação do Presidente não é a equidade, a distribuição equitativa dos sacrifícios que já reclamou. Nem sequer se já se atingiu o limite dos sacrifícios, o tal limite que, ainda há bem pouco tempo, na sua tomada de posse, lembrava ao governo anterior. A preocupação do Presidente não é uma preocupação: é um truque! Naturalmente que é quem vai pagar que protesta, não é quem irá ficar de fora. É para esses o truque: não se queixem por pagar porque são uns felizardos! Ao contrário dos outros, dos pobres e excluídos, vocês até têm a sorte de ter rendimentos que vos permitem pagar este imposto!

A isto chama-se lata, para não dizer falta de vergonha!

Este Presidente passou da cooperação estratégica com o governo anterior, do início do seu primeiro mandato, ao silêncio estratégico, lá mais para a parte final - quando, tentando passar por entre os pingos de chuva sem se molhar, tudo valia para não comprometer a reeleição -, daqui para a afronta estratégica, logo que aquele desiderato foi atingido e, finalmente, para o mimetismo estratégico com este novo governo!

Este Presidente, já depois de, enquanto chefe de governo, ter feito o que fez ao país, permitiu que o anterior governo destruísse o que ainda faltava destruir. Ora em registo de cooperação estratégica, ora no de não me comprometam, a tudo virou a cara em nome dos superiores interesses da sua reeleição. Só depois de reeleito se lembrou de todos os males do governo, passando então a disparar em todas as direcções e descobrindo que havia limites aos sacrifícios.

Mas veio o novo governo e esqueceu-se desses limites. E lembrou-se de uns truques…

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