O governo português submeteu para aprovação de Bruxelas um plano de reembolso antecipado de 14 mil milhões de euros do empréstimo concedido pelo FMI, ao abrigo do programa de resgate assinado com a troika em 2011. A notícia não surpreende ninguém, e era esperada desde que o país se começou a financiar no mercado a taxas historicamente baixas, depois de, em 2013, o Banco Central Europeu ter decidido pôr ponto final nas circunstãncias que alimentvam a especulação á solta nos mercados.
O que surpreendeu foram as algumas reacções a essa notícia. Que a ministra das finanças deu com a naturalidade que ela tinha, sem qualquer manipulação nemnúmeros de circo. Que também não se viram em qualquer outro membro do governo ... Nem Paulo Portas, o menos escrupuloso dos propagandistas, mesmo puxando pelos galões daindependência, para não deixar morrer oseu 1640, pisou o risco. E no entanto não faltou quem nas redes sociais, por fanatismo ou por ignorância, quisesse ser papista onde nem sequer existia papa, para fazer daquilo uma insofismável prova do sucesso do governo, lançando o fósforo depois de ter espalhado o pasto que alimentaria, como se de chamas se tratasse, a falsa ideia que se estaria a pagar antecipadamente a dívida. Que tudo estava tão bem, tudo era tão perfeito, que o país não só pagava o que devia como ainda estava em condições de pagar antes do devido!
Simplesmente, como ninguém sequer quis esconder, o governo, que agora tem acesso a financiamento em condições de prazo e de taxas de juro muito mais favoráveis que a do empréstimo do FMI, vai substituir essa dívida por outra igual, aproveitando essas melhores condições. É como alguém que, tendo num momento de crise ecom a corda na garganta contraído um empréstimo tenha, algum tempo depois e acalmada a crise, e passando a dispôr de um bom avalista, partido para a negociação de um novo empréstimo, em melhores condições, para pagar o antigo. Deixando o montante da dívida exactamente na mesma...
Tão simples quanto isto, e chama-se gerir a dívida. Os mercados não são mais que gente com dinheiro para emprestar. Que vive disso e para isso. Gente que, não querendo exactamente receber o seu dinheiro de volta – que existe para estar emprestado – não quer é suspeitar que não lho pagam. É por isso que, como uma vez disse Sócrates, desde Paris, e toda a gentelhe saltou em cima, "a dívida é para gerir, não é para pagar"!
Naquela altura – e hoje pior ainda – Sócrates (que como bem sabem os que por aqui passam não é propriamente pessoa bem acolhidanesta casa) não podia dizer uma coisa dessas (se calhar nem outra qualquer), e por isso foi tão atacado. Mas não disse mais que a verdade. A verdade que naquela mesma altura era chave mestra do problema!
O escândalo de lavagem de dinheiro e de evasão fiscal a que deu cobertura a delegação suíssa do gigante britânico da banca, que responde pelo nome BSCH, e agora divulgado por um consórcio de jornalistas como Swissleaks, já era conhecido desde 2008, altura em que a lista de nomes agora conhecida foi entregue à Senhora Lagarde, hoje presidente do FMI e na altura ministra das finanças no governo francês.
Consta que os diversos governos europeus começaram de imediato a actuar contra os respectivos cidadãos para recuperar os impostos desviados. E que foi assim que a Espanha recuperou 260 milhões de euros, a Itália 570 milhões e o Reino Unido 180 milhões em impostos.
De Portugal não se sabe nada. Sabe-se que Ricardo Salgado e José Sócrates – ou Carlos Santos Silva? – declararam valores ao abrigo de uma amnistia fiscal justamente criada por Sócrates. Mas nem um nem outro(s) constam da lista portuguesa agora conhecida onde, à excepção de Américo Amorim e de empresas do agora falido GES – que se calhar por isso mesmo desmentiram o indesmentível -, não há nomes de gente famosa ou simplesmente conhecida. Sabe-se que os pouco mais de 200 portugueses da lista com 611 nomes somam cerca de mil milhões de dólares... Mas que, desde 2005, Portugalamnistiou o correspondente a cinco vezes esse valor!
Não é, por isso, nada difícil de concluir que o governo português, que foi tão implacável a cobrar aos portuguesesimpostos colossais, não mexeu uma palha para ir recuperar os impostos sobre estes 1000 milhões de dólares que de Portugal voaram para a Suíça. Antes pelo contrário, amnistiou toda a gente. Se calhar não é por acaso que ninguém conhece a cidadã de Vila Real que encabeça a lista... Nem o cidadão de Castelo Branco que vem a seguir!
Nem ninguém pergunta pela exemplar eficiência da máquina fiscal, essa autêntica máquina de extorsão, que nunca chega tão longe. Nem para tanto!
Gente fraca, esta que é forte com os fracos ... E assim se faz fraco um forte povo!
O mote para o jogo desta noite na Luz - cheia, mas não como um ovo, com algumas clareiras - tinha sido dado ontem, com o empate no clássico do Dragão. Onde as coisas até correram bem, com as habituais broncas de fim do jogo a fazerem de cereja no topo do bolo, que era o resultado.
Este jogo com o Moreirense, que até tem pregado umas partidas na Luz, era para ganhar. Não era para mais nada, mas sabe-se que jogar bem é sempre o caminho mais perto, e seguro, para ganhar.
Ainda antes de conseguir dar a perceber se vinha para jogar bem, já o Benfica estava a ganhar. O relógio marcava 6 minutos quando Pavlidis converteu em golo o penálti que aconteceu à passagem do primeiro minuto, praticamente na sequência de um primeiro lance em que Aursenes, depois de perfeitamente enquadrado, e com espaço para um remate de golo, acabou por decidir atravessar com a bola toda a frente da área adversária, até a perder. Dificilmente a entrada no jogo poderia correr melhor. Ou, se calhar, pior ...
Porque, se um golo logo a abrir era tudo o que melhor se podia esperar do jogo, a (in)decisão do Aursenes dava também o mote para o que seriam praticamente 90 minutos de más decisões.
Entrando a perder, o Moreirense não foi de experimentalismos, e pegou no jogo. Pressão alta sobre a defesa do Benfica, muita posse, e boa troca de bola. Se logo no pontapé inicial fora Aursenes a pronunciar más decisões, na resposta do Moreirense foi Bah, aos 11 minutos. Quando a equipa não se conseguia libertar da pressão alta do adversário, numa bola vinda de um ressalto no lado esquerda da defesa benfiquista, Bah, à vontade, e com o corredor aberto, em vez de correr para a bola para arrancar em posse, decidiu que era melhor deixá-la sair pela lateral, e usufruir do lançamento.
Bah não conseguiu perceber aquele momento do jogo. Não percebeu que um ressalto tinha resolvido (mudança súbita de flanco, é assim que se responde à pressão alta!) o que a equipa não conseguia resolver. E, depois, não percebeu que, com aquela pressão, na reposição entregaria - como entregou, não havia alternativa - rapidamente e de novo a bola ao adversário.
Estava o Moreirense entretido a jogar à bola quando o Benfica engata a única transição rápida em todo o jogo: Kökçü tentou lançar Schjelderup no ataque, Dinis Pinto conseguiu a intercepção, mas a bola sobrou para Pavlidis. Que abriu em Aktürkoğlu, que rematou para grande defesa de Kewin para canto. Cobrado pelo turco para o bis de Pavlidis, no sítio certo a aproveitar um ressalto.
Em quinze minutos, e três remates, o Benfica marcava dois golos. Melhor só o Moreirense, que marcava ao primeiro remate. Apenas 4 minutos depois de sofrer o segundo golo, e depois de mais uma trapalhada de Carreras, a perder a bola quando queria entrar com ela por onde não cabia uma agulha.
Em 20 minutos, três golos. Em quatro remates. E o Moreirense, que nunca saíra do jogo, antes pelo contrário, regressava à discussão do resultado.
O jogo só dava Moreirense quando Bah se lesionou. Gravemente, pareceu. Logo a seguir foi Manu. Lesão grave, pareceu também. Entraram António Silva (para Tomás Araújo passar para a lateral direita) e Florentino. As lesões fazem mal à equipa, mas as substituições fizeram-lhe bem. Não muito, mas Tomás Araújo e Florentino passaram a estar melhor no jogo que os infortunados Bah e Manu.
Menos de um quarto de hora depois de ter sofrido o golo o jogo voltou a sorrir ao Benfica. Mais um canto, agora na esquerda, cobrado por Kokçu, para Otamendi marcar o terceiro. E repor a tranquilidade de dois golos de vantagem, antes do intervalo que, por força dos 7 minutos de compensação, chegaria 10 minutos depois.
A segunda parte foi mais do mesmo, entre a chatice e o suplício. Aos 85 minutos o Moreirense marcou, ainda a tempo de acentuar ansiedade nas bancadas da Luz. Mais um clássico do "não é preciso muito para o Benfica sofrer golos": Carreras foge para o meio e arrisca um passe em profundidade, permitindo a intercepção da bola e o golo de Ivo Rodrigues, a finalizar com competência. A competência que Aursenes - mais uma vez -, à passagem do primeiro quarto de hora, não teve quando desfrutou de idêntica oferta do guarda-redes Kevin.
Mas mais frustrante, ainda, que a primeira parte. Foi um acumular de decisões erradas por parte de jogadores e treinador, e a gritante exposição da falta de rotinas. Os jogadores não sabem o que hão-de fazer e por isso tomam sucessivamente más decisões. O treinador ... idem, idem ... aspas, aspas!
Bruno Lage está perdido. Perdido no seu discurso labiríntico, nos seus equívocos e, receio, que na sua incompetência. E a encaminhar-se em passo acelerado para um beco sem saída.
Bruno Lage quer esconder este Benfica de oito, incapaz de transportar para os adeptos as sensações que vêm da classificação. Para que os benfiquistas acreditem que é possível recuperar os quatro pontos de desvantagem para o Sporting, poderá não ser preciso um Benfica de oitenta. Mas é preciso um Benfica constante, pelo menos de setenta.
Uma última nota para as substituições, onde Bruno Lage ficou logo condicionado pelas duas a que foi obrigado pelas lesões. Não tendo optado por utilizar o intervalo, o treinador ficou com três substituições para um único momento: a 25 minutos do fim, tirando os três da linha avançada - Aktürkoğlu, Pavlidis e Schjelderup. Entraram Leandro Barreiro, que desperdiçou a segunda maior oportunidade da segunda parte, e Belotti e Bruma, que só perderam a oportunidade para uma boa primeira impressão. Jogadores, e treinador, não conseguiram mostrar nada que abonasse a sua contratação.
Não foi um grande jogo, o derbi desta noite. Foi um jogo fechadinho, apertadinho, que só abriu – partiu-se, na gíria do futebolês – nos últimos 10 minutos. Não admira que tenha sido nesse período que surgiram os dois golos que deixaram o jogo empatado, repetindo o resultado da primeira volta, na Luz.
Sendo um jogo apertadinho, de muitas marcações foi, ao contrário do que seria de esperar, um jogo com poucas faltas. Praticamente só com as do Benfica, as que aconteceram e as que, não tendo acontecido, foram assinaladas. As do Sporting nunca contaram…
O Sporting talvez tenha sido ligeiramente melhor, mas nada que por si só justificasse a vitória que esteve prestes a acontecer quando, a 3 minutos dos 90, o melhor jogador do Benfica neste derbi – Samaris – se lembrou de fazer um passe para trás que isolou o João Mário, que deu no golo que incendiou Alvalade. E foi ligeiramente melhor porque o Benfica, mais uma vez, chegou a um jogo importante e descaracterizou-se, não quis ser igual a si próprio. Não sei se são resquícios dos dois campeonatos – seguidinhos – perdidos, quando dava espectáculo pelos campos deste país, alguma lição que venha desses dois anos se, simplesmente, sem Gaitan e com Olá John desaparecido, de férias, como acontece em mas de 90% dos jogos em que é titular, Jesus acha que o melhor mesmo é fazer aos outros aquilo que geralmente lhe fazem a ele.
Foi um jogo muito equilibrado, com posse de bola repartida e apenas mais uns poucos remates para o lado do Sporting. Grande desequilíbrio só mesmo nos cantos (10 a 1) mas isso resulta de uma opção estratégica do Benfica. Da resposta que a equipa quis dar à miserável campanha da imprensa para destabilizar o guarda-redes Artur: cantos, muitos cantos para mostrar a essa gente a massa de que Artur é feito!
E serviu para o Sporting alcançar o notável e raro feito de uma época sem perder com o Benfica. Estava agendado um tira teimas para a próxima quarta-feira, na Luz, mas afinal é o Vitória de Setúbal que lá vai aparecer…
Desconfio que até os mais distraídos, e os mais crentes, já perceberam que já chega de CHEGA. Que o limite não é o céu, e que, pelo contrário, o Partido de André Ventura já só faz caminho no comboio descendente - tudo á gargalhada, todos á janela, todos em grande reinação ...
André Ventura foi capaz de fazer o seu projecto político pessoal crescer vertiginosamente em pouco tempo. Seria difícil fazer de um projecto pessoal um partido, e virtualmente impossível mantê-lo sozinho.
Um projecto político pessoal basta-se de um bom actor, que saiba manipular exponenciar emoções. Um partido político precisa de muito mais. E precisa acima de tudo de pessoas qualificadas, de quadros.
O projecto político de André Ventura é pessoal. E uni-pessoal. Não tem mais ninguém. Por isso agarra tudo o que venha à rede, sendo que convoca quem queira aparecer, e que quer aparecer quem não tem por onde se mostrar.
E por isso não surpreende que um roube malas nos aeroportos, e aproveite até portes mais baratos da Assembleia da República para vender o produto do roubo. Que outro, muito marialva e ainda muito mais macho, seja apanhado em relações homossexuais pagas com um menor. Ou que não faltem deputados - quase um quinto deles - acusados de crimes como roubo, imigração ilegal, falsificação de documentos, ou desobediência.
Deixei ontemaquia ideia que, ao contrário do que muita gente pensa, o processo em curso que opõe a Grécia à ortodoxia alemã – as coisas são cada vez mais assim, não é a Europa que está de um lado e a Grécia do outro – não está bloqueado. Que, antes pelo contrário, está agora aberta a fase de negociação. E que, depois de reafirmadas as posições de cada uma das partes, se entrará num processo de cedências onde a semântica tratará de esbater muita da conflitualidade que hoje está á vista.
Não sei se será assim que as coisas se irão passar. Sei que é esse o meu desejo, e que seria assim que o bom senso mandaria. Mas também sei que, antes pelo contrário, o bom senso não abunda na Europa... E que os tratados pós Mastricht que a Alemanha impôs à volta do euro são irredutíveis, precisamente com o objectivo - antidemocrático, como todo o processo de construção do actual edifício europeu - de amarrar os governos á suabíblia ideológica. Às escolhas que os cidadãos europeus façam pelo seu voto livre e democrático, sobrepõem-se sempre os compromissos impostos pelostratados alemães, que osvelhos centrõeseuropeus correram a subscrever sempre à revelia do mandato popular, fugindo dos referendos como diabo da cruz. Não deixa de ser insólito que uma união que tinha justamente a democracia como condiçãosine qua nonde acesso, tenha acabado na sua sistemática negação.
E, francamente, também sei que a falta de bom senso é ainda agravada pela falta de estatura e de visão política dessa gente que manda na Europa. Que é gente bem capaz de a deixar cair no abismo que está aí, mesmo à frente dos olhos…
Trump pretende transformar a Faixa de Gaza - um território de “localização fenomenal, junto ao mar ... com o melhor clima” - na "Riviera do Médio Oriente". E para explorar ao máximo o potencial imobiliário da região pretende deslocar para países vizinhos os mais de dois milhões de pessoas que lá vivem, actualmente sob os escombros da guerra.
A expulsão de um grupo de uma determinada região ou território pela via da força com o objectivo de homogeneização populacional constitui limpeza étnica. Trump está a declarar a limpeza étnica da Palestina, que não só se enquadra no âmbito dos crimes contra a humanidade, como constitui crime de genocídio, tipificado pela Convenção de Genebra como acções que visam destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso.
Até aqui os Estados Unidos foram cúmplices dos crimes de Netanyahu. Com Trump passam de cúmplices a criminosos activos ... à procura de novos cúmplices.
Esperemos que a decência encontre formas de sobrevivência, e consiga erguer-se para barrar o caminho para a institucionalização da barbárie. Não é fácil, pelo menos a ver por quem nos governa.
Será que custa assim tanto dizer que isto é intolerável e de todo inaceitável?
Pelos vistos, para quem nos governa, custa. Tanto que já nem há MNE. Tanto que Paulo Rangel, que tem sempre tudo a dizer sobre tudo, desapareceu de cena.
O governo, e a opinião publicada que o sustenta, estão seriamente empenhados no falhanço do processo grego. Passos Coelho deu o mote, com a já famosahistória para crianças, e a máquina não parou mais. E no entanto o interesse nacional aconselharia, se não um apoio entusiástico àcausa grega, que isso seria pedir muito a um governo que tem a história – para crianças e adultos – que este tem, pelo menos que se mantivesse quedo e mudo. Na expectativa. Porque o país não tem nada a perder, ou melhor, o que tem a perder é imensamente menos do que o que tem a ganhar!
Mas, porque as eleições estão aí, o governo, e os poucos – estou em crer – que o apoiam, sobrepõem os seus interesses eleitorais particulares aos interesses do país, importa-lhes que a Europa bloqueie as pretensões do governo grego, obrigando-o a reconhecer a sua incapacidade e a capitular. Demitindo-se ou, e isso seria melhor ainda, traindo e negando as suas promessas e o seu eleitorado.
O que nesta altura ao governo de Passos e Portas mais importa é que não se confirme que há, e sempre houve, alternativas ao modelo que a Alemanha impôs, e que tão entusiasticamente abraçou. O que o governo não quer é pôr agora em causa a teoria da inevitabilidade em que fez assentar a sua governação. É justamente isso que sustenta a sua solidariedade com Merkel, que também tem na mesma TINA (there is no alternative) o seu ponto de não retorno.
E no entanto o bloqueamento a que ontem se chegou, quando o périplo grego chocou de frente com Berlim, não é mais que aparente. Nem é a derrota da Grécia, como o governo de Passos e a sua gente pretenderiam, nem é a apregoada saída épica do governo grego que, entre a espada e a parede, teria heroicamente preferido a espada.
Creio que está agora oficialmente aberto o espaço de negociação. Ninguém poderia admitir que a Alemanha reconhecesse humildemente que falhara, que tudo o que impusera estava errado, e que bastaria aparecerem uns tipos desempoeirados e desengravatados para desdizer tudo o que disse. Também me parece que ninguém acreditaria que uns tipos tão desempoeirados não tivessem expressões mais suaves na gaveta para ir gradualmente substituindo as mais radicais. Como hair cut, por exemplo!
Varoufakis, o ministro das finanças grego, já pelo menos por duas vezes recorreu, em jeito de desculpa, aos erros de tradução. É aí, não em erros de tradução mas na semântica, que as coisas se vão passar a jogar. Deixará de se falar em perdão da dívida, ouhair cut, para se falar, por exemplo, em empréstimos perpétuos. As reformas que, como se sabe, para os alemães – e para o governo português, sempre em sintonia – querem dizer cortes de salários e de despesa social, substituirão a austeridade. E quererão dizer, para o governo grego, ataque às oligarquias, aos grupos de interesses organizados, à corrupção e à evasão fiscal (onde, por exemplo, seria bonito ver o governo português disponibilizar-se para dar uma ajuda).
A Grécia é um pequeno país, mas é um país muito importante. Para a Europa e para o Mundo. Por isso o BCE fechou, com estrondo, de um lado e abriu do outro. E assim irá continuar a ser nos próximos dias, até que todo o pó assente, e a dignidade regresse á Grécia. E à Europa!
Temos visto de tudo, na Comissão Parlamentar de Inquérito ao BES. Declarações de todo o feitio – de amor e ódio, com a propósito e despropositadas, fidelidades e traições…
Ontem, João Moreira Rato, o antigo presidente do Instituto de Gestão do Crédito Público (IGCP) que acompanhou Vítor Bento na última administração do Banco, que foi surpreendida com a medida de resolução, foi uma novidade. Tido como um dos maiores especialistas do país nas coisas da banca, e com uma passagem tão curta e supostamente tão desprendida dos interesses que possam estar em confronto, acabou por mostrar que tecnocrata pode ainda ser pior que político ou banqueiro.
Com uma arrogância ainda não vista, adoptou uma postura que foi da simples recusa a responder, a respostas porsinsenãosou pela sucessiva repetição das anteriores. Irritou toda a gente e acabou por forçar o presidente da comissão, Fernando Negrão, a umpuxão de orelhas, visivelmente a contra-gosto. Coisa nunca vista, quando por lá já passou tudo o que de mais sensível havia para passar…
Temo bem que este seja o espelho de uma nova linhagem da tecnocracia: arrogante, acima de tudo e de todos e comprometida com o não comprometimento!
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