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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Um início que pode não suceder a um fim

Já há uma playlist para a tomada de posse de Joe Biden e Kamala Harris

 

Joe Biden toma hoje posse como 46º presidente dos Estados Unidos da América, colocando finalmente termo à mais negra presidência da ainda maior potência mundial. 

Trump, o primeiro presidente americano a não comparecer na tomada de posse do seu sucessor, vai embora. Provavelmente não regressará. Porque não mais conseguirá voltar a recolher votos para isso, e porque  o impeachmente em curso, que já não foi a tempo de lhe retirar esta presidência, fará provavelmente o seu curso e impedi-lo-á de voltar a candidatar-se. Poderá até estar polticamente morto, mas o que fez e o que representa, o que designa de trumpismo, não morreu e não será hoje enterrado.

Podemos ser levados a pensar que a América inicia hoje uma nova era. Que o que se inicia hoje, como qualquer início, é sempre o fim do que antecedeu. Temo que não seja!

“I want you to know that the movement we started is only just beginning"  - disse Trump na despedida. Não quer que este seja o fim, mas o princípio. Como dissera aos assaltantes do Capitólio, há duas semanas: "we love you". 

São muitos os sinais preocupantes. Entre eles está o afastamento de 12 membros da Guarda Nacional da gigantesca operação de segurança para a tomada de posse de hoje, depois de investigação do FBI, identificados como membros de organizações de extrema direita apostadas em manter o trumpismo vivo e activo.

Era uma vez na América

Após invasão do Capitólio, Bolsonaro se diz ligado a Trump e fala sem  provas em "denúncia de fraude" Por Reuters

 

O Capitólio, a casa da democracia americana que alberga as duas câmaras legislativas do país, foi invadida, assaltada e saqueada por uma multidão de fiéis de Trump liderada pelas suas milícias armadas, os auto-designados "prowd boys", naquilo que Biden classificou o maior assalto à democracia americana da História.

Nada semelhante alguma vez acontecera na História da América. É ainda inacreditável.

Sempre se disse que a democracia americana resistiria a Trump, que a solidez das Instituições americanas era suficiente para impedir este louco de a destruir. Hoje temos dúvidas, que se adensam com a constatação da actuação da polícia. Da mesma polícia que reprime com a maior das eficácias as inúmeras manifestações pacíficas na sociedade americana, seja pela defesa do clima, ou contra o racismo, mas que foi incapaz de salvar a América de tão triste imagem.

Sabia-se que Trump não aceitaria a derrota facilmente. A sua estratégia estava há muito anunciada. Logo que começou a perceber que não seria reeleito anunciou que estava a ser preparada uma fraude eleitoral. À medida que as eleições se aproximavam reforçava essa ideia força: as eleições são fraudulentas. Realizaram-se, perdeu, como bem sabia, e "passaram mesmo a ser fraudulentas". Litigou por todo o lado e de toda a maneira. Aceitou a derrota, mas continuou. A ponto de, já esta semana, ter sido apanhado a ligar ao secretário de Estado da Geórgia, o republicano Brad Raffensperger, ordenando-lhe que recontasse mais uma vez os votos e que encontrasse os votos necessários para inverter o resultado eleitoral: "só quero encontrar 11.780 votos" - dizia.

Como este seu colega de partido, e autoridade eleitoral daquele Estado, lhe respondeu que os resultados divulgados tinham sido mais que recontados e estavam correctos, não hesitou em mandar assaltar o Capitólio, para impedir a sessão em que o Congresso ia certificar a eleição de Biden.

Uma situação limite, mas nem por isso de todo imprevisível. Por isso menos aceitável ainda a passividade da polícia, na imagem trágica que a maior potência mundial dá ao mundo.

Tudo foi destruído e vandalizado. E só a lucidez e o sangue frio de um funcionário impediu a destruição dos caixotes dos boletins de voto.

Veremos o que se segue. Há imagens chocantes, mas são também imagens que identificam pessoas. Veremos se servirão para alguma coisa. E veremos também o que virá a acontecer na tomada de posse de Biden, daqui a menos de duas semanas.

"Condescendente"

Trump admite retirar apoio a juiz nomeado para o Supremo Tribunal

 

Três semanas depois, Donald Trump percebeu que tinha perdido as eleições, e que era necessário iniciar os protocolos de transição de poder. Não reconheceu que perdeu as eleições, condescendeu apenas. Porque continua a garantir que continua  na luta contra os resultados, e que acredita que a vai ganhar.

"No melhor interesse do nosso país, recomendei a Emily e à sua equipa para fazerem o que tem de ser feito em relação aos protocolos inicias [de transição de administrações], e disse à minha equipa para fazer o mesmo"  - escreveu no twitter.

A Emily é Emily Murphy, responsável da Administração dos Serviços Gerais dos EUA. Que só depois daquela publicação deu nota que Biden é o "aparente vencedor" das eleições presidenciais, e que por isso 'abriu caminho' para o processo de transição de poder.

Daqui dá para perceber como é curta a distância que separa as apregoadas instituições americanas da Casa Branca. E de como personagens como Trump as conseguem rapidamente resumir à simples forma de verbo de encher.

 

 

Negro

Expresso | O cenário do Apocalipse: como Trump abriu a porta a um golpe na  noite eleitoral

 

Da América, tudo na mesma. Sem fumo branco.

Apenas fumo negro, bem negro, de um troglodita que uma vez foi feito presidente da mais influente país do mundo. O sistema que Trump, irresponsavelmente e sem apresentar uma única prova, ou sequer indício, acusa de fraudulento, corrupto e ladrão é o sistema institucional de que ele deveria ser o garante e responsável máximo. É o mesmo que o fez Presidente, com menos votos que a adversária, e com dezenas de delegados conquistados por escassas diferenças de votos. E o mesmo que ainda agora está a eleger mais senadores republicanos que democratas.

Mesmo que aqueles 15 ou 20 minutos de ontem da conferência de imprensa de Trump, na Casa Branca - que usa como sede de campanha, como usa o AIr Force One como se fosse o seu avião particular - de conteúdo vazio e repetitivo, como sempre, tenham sido o discurso de derrota de Trump.

Preocupante e perigoso, evidentemente. Mas não se esperava outra coisa.

A mítica democracia americana

Trump fala em votação viciada, Biden aposta em 'roubar' estados  republicanos — DNOTICIAS.PT

Tudo aquilo a que estamos a assistir nestes dias que se estão a seguir ao das eleições nos Estados Unidos leva-nos como nunca a questionar a democracia americana.

Desde logo, um país imenso, dividido em cinquenta estados, mais Washington DC, mas apenas dois partidos. Depois, num regime ultra-presidencialista, o presidente não é eleito por sufrágio directo, tornando frequente - tão frequente que aconteceu por duas vezes nas duas últimas décadas - que o presidente eleito não seja o que teve mais votos. Depois ainda, as diferentes diferenças nas votações que permitam a um candidato requerer judicialmente a recontagem dos votos: 1% nuns estados, menos ainda, noutros. E por último a cereja no topo do bolo: os delegados resultantes dos resultados eleitorais  em cada estado, que no colégio eleitoral vão finalmente eleger o presidente, poderão até nem votar no candidato para que estão mandados pelo voto popular que representam. O candidato mais votado de um estado assegura a totalidade dos delegados desse estado ao colégio eleitoral; mas cada um desses delegados poderá depois até votar no candidato adversário. Nalguns estados, o delegado que o fizer é obrigatoriamente substituído na votação. Mas noutros sujeita-se apenas a uma multa, e mantém o voto contrário ao mandato que recebeu.

No meio de tudo isto não surpreende o que Trump está fazer para se agarrar no poder. Está a fazer tudo o que um anquilosado processo velho de século e meio lhe permite. O que surpreende é a massiva participação dos americanos nestas eleições. A maior dos últimos 100 anos, que já fez de Biden o candidato mais votado da História da América.

Talvez seja isso que ainda alimenta a mítica democracia americana. Em tudo o resto é uma democracia cada vez menos democrática, como é timidamente cada vez mais reconhecido. Mas, à americana, os americanos acham-na perfeita!

 

Era uma vez na América...

EUA. Manifestantes de Portland processam Departamento de Segurança Interna

 

Portland é a maior cidade do Oregon, no noroeste dos Estados Unidos. Mas uma pequena cidade à escala americana, com cerca de 650 mil habitantes. É uma cidade de parques verdes e ciclovias, aberta às causas da cultura e do ambiente.

Mereceria viver em paz mas Trump, a três meses das eleições, e perante as piores expectativas, escolheu-a para palco do seu limitado argumento eleitoral. Os protestos na sequência da morte de George Floyd, que também lá tinham chegado, já estavam em fase de desmobilização.Trump entendeu enviar para lá a polícia federal, não porque fosse necessária para ajudar a polícia estadual a conter um movimento que já estava em desmobilização, mas precisamente pelo contrário. Para gerar revolta. E para depois lhe responder em nome da ordem e da autoridade, o único argumento eleitoral de Trump.

O resto não lhe interessa para nada. 

Oito minutos de pose*

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Dificilmente se poderia admitir uma primeira semana do ano mais agitada. Trump achou que, com um impeachment em curso e a dez meses das eleições, o melhor que tinha a fazer era incendiar o Médio Oriente e deixá-lo arder como arde a Austrália.

Sem consultar as instituições, sem estratégia e sem justificação, mandou assassinar altas figuras da estrutura militar do Irão, entre as quais o General Soleimani, mais que uma proeminência do regime, o número dois da teocracia no poder. Acto contínuo disse ao mundo que, para fazer a guerra, não precisava de consultar ninguém. Que lhe bastava informar pelo seu twitter, e que já tinha definidos 52 alvos iranianos, entre os quais lugares históricos e património da humanidade, para atacar em caso de retaliação iraniana. Que, timidamente é certo, aconteceu logo de seguida, com o ataque às bases americanas em Bagdad. Obra das milícias iraquianas, que não exactamente do Irão, mas daria no mesmo…

É então que, pela primeira vez, num mandato que vai já no último ano, com uma assertividade sem paralelo, e em apenas oito minutos, a América apresenta ao mundo o seu famoso sistema de checks & balances.

Oito minutos foi quanto durou esta demonstração. Foi o tempo que Trump demorou a ler o discurso que lhe mandaram ler. Oito minutos de Trump em pose de Estado, mesmo que em cuecas!

 

* Da minha crónica de hoje na Cister FM

 

Checks and balances

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A eleição de Trump para o topo do poder na maior potência mundial foi vista com preocupação em grande parte do planeta, mas nunca como uma irremediável catástrofe. É que a opinião pública mundial acreditava na rede de checks & balances do sistema político americano, uma democracia institucionalmente bem dotada, ao contrário, por exemplo, do que aconteceria depois no Brasil, com a eleição de Bolsonaro.

À entrada do último ano do mandato, e mesmo com um processo de empeachement em curso, haveria certamente quem pudesse duvidar desta fé no funcionamento das instituições americanas, e quem achasse que Trump fez, e fará, tudo o que lhe apeteceu, e lhe apetecer, e ainda lhe sobrou, e sobrará, tempo. 

Oito minutos bastaram para convencer os últimos resistentes. Foi quanto durou o discurso de Trump de ontem. Um discurso - ninguém terá dúvidas - que não escreveu. Um discurso que lhe mandaram ler, e que leu a preceito e com inatacável pose de Estado. Oito minutos em que saíram da boca de Trump palavras que ninguém acreditaria vir a ouvir, numa postura de todo incomportável com a figura.

Depois dos ataques de anteontem à noite, à hora a que fora assassinado o general Soleimani, às bases americanas no Iraque, esperava-se que tivesse sido dado o mote para a retaliação que Trump desejaria, e para a uma escalada de violência no Médio Oriente de limites incontroláveis. Inesperadamente, em vez de um Trump furioso a confirmar os 52 alvos iranianos a atingir, incluindo as relíquias históricas e de património da humanidade, que anunciara na véspera, surge um presidente americano a dizer que os Estados Unidos "estão disponíveis para abraçar a paz com aqueles que a procuram", a desejar um "óptimo futuro" para o Irão, e até a falar num regresso ao acordo nuclear que unilateralmente rasgou.

Poderão dizer que nada disto passa da mais profunda hipocrisia. Mas não é isso que está em causa, e a hipocrisia é parte integrante da política. Em causa está apenas que a intensa pressão interna e internacional obrigaram Trump, num Momento Histórico decisivo, a fazer tudo ao contrário do que naturalmente, por si só, faria.

Desta vez os checks & balances levaram o presidente americano a evitar a guerra que Donald Trump irresponsavelmente precipitara. Não é coisa pouca!

 

 

Irresponsabilidade premiada

Resultado de imagem para trump não precisa do senado, apenas do seu twitter

 

Como facilmente se previa Trump incendiou o Médio Oriente e colocou o mundo ocidental sob novas ameaças com enorme potencial devastador, tanto mais graves quanto mais evidente se torna a irresponsabilidade que sustenta a escalada de ameaças do presidente americano.

Trump nunca teve a noção da responsabilidade de presidir à maior potência mundial. Sempre achou que a Casa Branca seria um brinquedo com que gostaria de brincar. Por isso a sua relação com a mentira nunca foi nada que verdadeiramente o incomodasse, e revelou-se um mentiroso compulsivo. Por isso a sua relação com as instituições foi sempre secundarizada e o seu sentido do dever uma simples miragem. Por isso Trump acha que não precisa da aprovação do Congresso para desencadear operações de guerra, bastando-lhe anunciá-las no seu Twitter.

E é este homem que a América vai voltar a eleger lá mais para o final do ano. Ou, mais dramático ainda, é assim, é por fazer tudo isto assim, que Trump conta que a América o reconduza para novo mandato na Casa Branca!

 

A mesma América

Polícias a cavalo transportam negro com uma corda

 

Mais uma imagem que nos envergonha. Vem de Galvestone, no Texas. Por acaso - ou talvez não - no mesmo Estado em que, dois dias antes, em nome da supremacia branca, um rapaz de 21 anos desatou aos tiros num supermercado, matando mais de 20 pessoas e ferindo outras trinta.

Donald Neely - assim se chama o homem negro - atado por uma corda a dois polícias montados em cavalos, é conduzido sob prisão à esquadra da polícia local...

Mais uma vez, isto pode nem ser Trump, já vimos imagens destas noutras presidências. Mas com Trump é mais fácil...

Sempre se minimizou a perigosidade de Trump justamente por ser na América. Das instituições. Da maior e mais avançada democracia. Dos "checks & balances". Mas, depois... temos imagens destas ... E o que temos para dizer é: "só nos Estados Unidos". Ou: "tinha de ser nos Estados Unidos". Na mesma América!

 

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