Começa hoje, com a entrada de metade dos 5,2 mil milhões de euros que nos vão tirar dos nossos bolsos, o processo de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos. Que não tem presidente, como se sabe... Porque se sabe que houve uma troca de sms entre Domingues - que hoje poderá explicar qualquer coisa no Parlamento - e Centeno...
Enfim... a Caixa não precisa de presidente. Nem de ministro das finanças, precisa é de dinheiro. E para isso cá estamos nós. Sem cheta, completamente depenados, mas sempre e ainda com uns trocos para os bancos.
Não olhemos muito para trás. Nem é preciso recuar dois anos:
2015 Novo Banco - 4,9 mil milhões;
2016 Banif - 3,3 mil milhões;
2017 CGD - 5,2 mil milhões.
Tudo pelo cano. Como já se viu no Banif, e se está a ver com o Novo Banco. Que, sem que ninguém lhe pegue, ainda aí está para lavar e durar. Quer dizer: de mão estendida apontada aos nossos bolsos.
António Guterres, ou Tony Guterres, espécie de nome artístico que o mundo do showbiz da política internacional lhe quer atribuir, vai hoje ser empossado como Secretário Geral da ONU, uma das mais prestigiantes funções do mundo, mesmo que a sua importância real pouco tenha a ver com isso.
Em New York, para assistir ao acto de posse, quando forem três da tarde em Portugal, estará o mundo inteiro. De cá, partiram o presidente Marcelo, o primeiro-ministro António Costa... e o Padre Milícias, para dar um ar de inner circle do homemque o país hoje venera e há pouco anos crucificava.
Com os olhos e o coração em Nova Iorque ninguém vai sequer notar que são hoje conhecidos mais uns capítulos do despudor da governação, e do caracter, de Passos Coelho. Sabia-se o que tinha feito em última hora com a TAP e com os transportes públicos. O que não se sabia é que, nos quatro ou cinco dias do seu segundo governo, saído do último fôlego de Cavaco, teve ainda tempo de entregar aos angolanos a participação do Estado Português na Empresa Nacional de Diamantes de Angola. Nem que Passos Coelho, que ainda no fim de semana se manifestava surpreendido com a forma como subitamente tinha disparado o volume do mal parado da Caixa, tinha afinal mantido escondidos dois pareceres da Inspecção-Geral de Finanças que relatavam justamente o agravamento das imparidades no banco público.
Não admira que, já com a careca toda a descoberto, todos o queiram ver pelas costas. E que os candidados à sucessão comecem a sair da toca, todos ao mesmo tempo.
Não limpa nada. Esta é uma fotografia onde todos ficam mal. Fica mal o governo, fica mal o primeiro-ministro. Fica mal o ministro das finanças. Ficam mal os administradores da Caixa. Fica mal Passos, que já não fica bem em nenhuma. Ficam mal uns esganiçados deputados da oposição. Não há quem se possa ver... Nem o presidente Marcelo escapa.
Mal fica também a Caixa. Mas não é só na fotografia...
Começa a ser demasiado frequente e comum que, mais cedo ou mais tarde no ciclo da legislatura, os governos comecem a embrulhar-se em trapalhadas.
Nunca ninguém está livre de cair em trapalhadas, e por isso a trapalhada não está em cair numa trapalhada. Está em não sair dela depressa. Está em criar uma nova para esconder a anterior, criando um ciclo de trapalhadas.
O actual governo, que parecia capaz de romper com tanta coisa que atrapalhava, não está a conseguir fugir a este fatalismo da trapalhada, com dois pontos altos nestes dias: o primeiro, ainda no já longo ciclo de trapalhadas à volta da nova administração da CGD é, depois do salário milionário e da legislação especial à revelia do estatuto de gestor público, a dispensa de apresentação da declaração de rendimentos e interesses às entidades competentes; o segundo é a inexplicável falta de dados que fazem normalmente parte do relatório de um Orçamento.
Com tanta e tão grossa trapalhada na nomeação da equipa de António Domingues, o mais elementar bom senso aconselharia a evitar mais esta. Ninguém consegue apresentar uma boa razão para esta isenção declarativa, e teria sido muito fácil emendar a mão. Mas o governo preferiu, como de costume, insistir na trapalhada.
No meio desta trapalhada, bem que o governo devia fugir como o diabo da cruz de tudo o que lhe pudesse cheirar a mais trapalhada. Tinha de preocupar-se em canalizar as energias para defender o seu orçamento e, se faltavam dados, reconhecê-lo e entregá-los. De preferência com um pedido de desculpas. Mas não. Começou por negar ("o que faltam é os números que a oposição quer" - chegou a dizer o ministro das finanças) e, depois de instalada a confusão, acabou ainda ontem por entregar novos dados e prometer os restantes para a próxima sexta-feira.
É uma espécie da atracção fatal. Com Mário Centeno sempre bem no centro da fotografia ...
Os vencimentos da nova administração da Caixa Geral de Depósitos voltaram à ordem do dia, e prometem algumas fissuras no edifício que alberga a propalada geringonça.
O tema não é novo. Nem pacífico, sabendo-se que o novo responsável máximo da Caixa – o CEO como agora se diz – não exigiu apenas um salário confortável, ao nível do melhor que se pratica na praça, logo a seguir ao que pagam BPI e Santander Totta, e acima de todos os restantes. Mas sabendo-se também que apenas aceitou o cargo depois de ver garantidas as condições de sucesso, designadamente de capital, que lhe permitam atingir os objectivos que lhe possam garantir os ainda mais chorudos prémios.
Não admira que o Bloco tenha declarado inaceitáveis esses “salários milionários”, e que não dará o tema por encerrado. Nem que o PCP tenha levado ao Parlamento, à Comissão de Orçamento e Finanças; uma proposta para limitar as remunerações dos gestores. Se calhar não admira que tenha sido prontamente chumbada pelos votos do PS e do PSD, mesmo que admire que o CDS tenha votado a favor, ao lado dos partidos do lado esquerdo de geringonça. Ou que o Presidente da República se tenha juntado ao coro de protestos, mesmo depois de ter promulgado o diploma que o governo já fizera à medida das exigências do novo “patrão” da Caixa.
Nada disto deixa de ser engraçado. Mas, graça mesmo, têm as justificações do primeiro-ministro. Poderia simplesmente dizer que os gestores bancários constituem um mundo à parte. Tão à parte que destroem bancos e ainda recebem prémios por isso. Mas, não. Teve de dizer que têm de ganhar bem para que não sofram pressões do accionista.
Acaba Agosto, o mais mítico e romanceado dos meses do ano. Acabam as férias e praticamente acaba o Verão. Mais que mudar o calendário muda uma forma de vida.
É sempre assim, todos os anos. Hoje no entanto é muito mais que isso. Muitas páginas se viram hoje com a do calendário.
Mesmo que o mercado de transferências no futebol feche sempre nesta data, nunca fechou como hoje, com a porta a ir lentamente fechando com inusitado suspense. Nunca a coisa por cá fervilhou tanto, com tanto negócio de última hora, tanta volta e reviravolta, tanta lágrima, tanto amúo e, inevitavelmente, tanto dinheiro.
Chega ao fim o processo de impeachement de Dilma Roussef no Brasil. Depois de mais um longo e insuportável desfile de senadores, cada um a tentar ser ainda mais deprimente que o anterior. Depois da advogada anónima que virou gente - figura central em todo este processo, Janaína Paschoal de seu nome - garantir, em choro por ventura comovido mas nada comovente, que o impeachment era um ato divino, e de, não menos absurdo, pedir desculpas aos netos de Dilma. E depois do advogado de defesa chorar, porque a outra já chorara, o golpe de Estado está consumado. Na América Latina, agora, os golpes de Estado são assim. Os generais já passaram de moda!
Em Espanha, Rajoy tenta ser de novo empossado à frente de um governo que já tarda vai quase para um ano. Não vai dar em nada. Mesmo com o acordo com o Ciudadanos, faltam-lhe seis deputados que, diga-se, não fez muito por encontrar. É agora claro que a alternativa a novas eleições - as terceiras consecutivas, e provavelmente também inconclusivas - é a geringonça portuguesa. Com molho á espanhola.
E é também hoje que toma finalmente posse a nova administração da Ciaxa Geral de Depósitos, naquele que se espera seja o último capítulo de uma novela lastimável, toda ela cheia de tesourinhos deprimentes. Mas caros, todos muito caros.
É verdade. Não me lembro de um 31 de Agosto tão quente!
Ficamos a saber através de Marques Mendes - uns, logo na trasmissão em directo da sua homilia dominical na SIC, outros pelas onde de choque que provoca em todo o sistema mediático nacional - que a obcessão pelo plano B também atinge a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos.
Disse-nos este alcoviteiro dos domingos que o BCE enviou uma carta ao governo português, já há mais de um mês, a exigir um plano alternativo de recapitalização, para a eventualidade do plano apresentado - de capitalização pelo Estado, accionista único do banco público - não vir a ser aprovado pelas instâncias europeias. Curiosamente, o alcoviteiro que também é membro do Conselho de Estado, o que não deixa de ser outra curiosidade, passou por cima desta revelação a grande velocidade, como se estivesse a pisar uma braseira, para passar ás recomendações sobre a constituição da administração, da mesma referida carta. Que 19 é muito, quinze chegam bem. E que saibam do negócio, que tenham experiência em banca.
Não se percebe por que estas recomendações prenderam tanto a atenção de Marques Mendes: já toda a gente tinha dito que 19 administradores são administradores a mais; e que para administrar o maior banco português seja requerida experiência na banca é também do mais elementar bom senso. Para adminsitrar os maiores bancos mundiais é que não é preciso nada disso, como acaba de se ver com Durão Barroso...
O que se percebe, mesmo que o comentador e conselheiro de estado não queira que se perceba, é que o plano alternativo que o BCE reclama é a privatização da Caixa. A alternativa ao capital do estado é o capital privado. Este plano B é exactamente isso, é a alternativa que não deixa alternativa. Como, de resto, tudo o que é plano B que os exilados não páram de exigir aos usurpadores do governo.
Não importa que não haja capital para isso. Não há cá mas há noutro lado qualquer. E com tudo o que se tem vindo a fazer à Caixa para a desvalorizar, quaisquer que sejam os valores da recapitalização são suficientes para garantir uma posição maioritária de capital.
Toda a gente sabe que o estado a que o banco público chegou é da responsablidade dos partidos do até aqui chamado arco do poder. PS, PSD e CDS, todos sem excepção, utilizaram sempre a Caixa para alimentar as respectivas clientelas.
Nenhuma dúvida a esse respeito. Não admira, por isso, que o PS se oponha a tudo o que seja mexer no assunto. Na mesma linha, poderia pensar-se que também que o PSD e o CDS não estivessem nada interessados nisso, ao contrário do Bloco e o PC, de mãos limpas.
Sobre estes já aqui vimos que, surpreendentemente ou talvez não, não queriam, também eles, que se mexesse no assunto. O Bloco já entretanto mudou de posição. No PC, como se sabe, essas coisas são sempre mais difíceis...
Quando o PSD e o CDS, contrariando as aparências, querem a todo o custo levar o assunto para o parlamento, com o PSD a impôr a constituição de uma Comissão de Inquérito potestativa (sem ter de ser votada), não estão no entanto a surpreender ninguém. Isso corresponde à cara de pau que têm para mostrar, e que há muito vêm mostrando, mas é também estratégia política. Na verdade não lhes interesa apurar o que quer que seja. Têm até tudo apurado, deixaram o governo há apenas seis meses. O que lhes interessa é explorar a clivagem que o assunto necessariamente provoca na geringonça.
A nós, aos contribuintes que vamos voltar a ser chamados a pagar os dislates desta gente, interessa-nos que o assunto seja debatido. No parlamento, em todo o lado. Mas o que nos interessa mesmo é exigir responsabilidades.
O que nos interessa é saber quem emprestou centenas de milhões de euros sem garantias. Quem andou a gozar com a nossa cara, financiando gente que compra acções dando por garantia essas mesmíssimas acções, com tudo a ganhar e sem nada a perder.
O que nos interesa é que, de uma vez por todas, haja responsabilidade e responsáveis. A sério, de verdade. O que nos interesa é que se deixe de fazer conta que ninguém está acima da lei.
O país não pode tolerar mais impunidade. E não pode tolerar que, ainda antes de conhecer a responsabilização, já saiba que não há bens para responder pelas responsabilidades. Como acaba de acontecer com Dias Loureiro...
Mas não é nada disto que interessa ao PSD e ao CDS. Na comissão de inquérito ou em qualquer outra sede. Ao PS não interessa nem isto nem outra coisa que não seja aceitar que ... tudo isto existe, tudo isto é triste... Tudo isto é fado!
Não consigo entender por que é que a esquerda se opõe à constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para analisar a situação da Caixa Geral de Depósitos (CGD). Não se percebe que o Bloco e o PCP, que tanto contribuiram para os bons resultados das CPI´s ao BPN e ao BES, se oponham agora a esgravatar na Caixa, escudados no dogma da bondade do banco público, que só tem é que ser capitalizado. E esquecendo-se, vá saber-se por quê, que o banco público é ... um banco. Onde acontecem as mesmas coisas que acontecem nos outros bancos, e com as mesmas consequências. Quando somos chamados a entregar mais 4 mil milhões de euros para a CGD, estamos a entrar com mais 4 mil milhões para o sistema financeiro. Para os bancos, sejam públicos ou privados.
E temos, no mínimo, o mesmo direito de saber o que fizeram ao dinheiro que agora nos estão a pedir que repunhamos. Porque, repito, no banco público acontecem as mesmas coisas que acontecem nos privados, mesmo aquelas que não podem acontecer.
Na Caixa aconteceram os efeitos da crise económica, houve má gestão do risco de crédito, aconteceram imprevistos como a crise financeira de 2008, com os seus derivados na crise das dívidas europeias. Como nos bancos privados. Mas também aconteceu ser instrumento ao serviço de interesses políticos conjunturais. Ou de interesses de facções e grupos.
Foi lá que o governo de Sócrates foi encostar o BPN. Foi lá que o governo de Passos e Portas, que pretendia privatizá-la, é bom não esquecer, foi encostar o BES. E o Banif.
Por lá passaram, e deixaram marcas, as guerras na PT com os sinais digitais de Ricardo Salgado, Nuno Vasconcelos (Ongoing, ainda se lembram?) ou Zeinal Bava. De lá saiu dinheiro - muito, imenso, mas não sabemos quanto - para Joe Berardo brincar ao BCP. Por lá passou Armando Vara, no centro de todos os furacões. Que, de lá, saiu directamente para o privado - privadíssimo - BCP. Com o presidente Santos Ferreira.
Nos últimos anos nós, cidadãos contribuintes, entramos com 3 mil milhões de euros para o capital da Caixa. Pedem-nos agora mais 4 mil milhões, e a coisa ganha forma de BPN ou de BES. No mínimo deveríamos ter direito a saber quanto desse dinheiro todo respeita a coisas normais da vida dos bancos e quanto respeita respeita a vigarice com cobertura política. E não se percebe que seja a esquerda a negar-nos esse direito. Não por ser a esquerda, embora também por isso. Mas por ser o único espaço do parlamento sem o pecado da governação.
Os dogmas turvam tudo. E chegam a cegar!
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