No próximo domingo os alemães vão a votos, e ninguém dá por isso. Não se ouve falar das eleições alemãs...
E no entanto a Alemanha é o mais determinante país das nossas vidas. Na Europa nada se faz sem a Alemanha, e muito menos contra a Alemanha.
Há um ano eram as eleições na América, e não se falava noutra coisa. Há pouco tempo foram as eleições em França, e o tema estava na ordem do dia. Até as eleições na Holanda, há pouco mais de um ano, mereceram muito mais interesse do que, agora, as alemãs.
Há dois ou três anos que andamos a deixar temas pendurados, sempre com o pretexto das eleições na Alemanha. Isto só depois das eleições na Alemanha. Aquilo nunca seria objecto de discussão anes das eleições. Fosse isto e aquilo o que quer que fosse: imigração, refugiados, dívida, etc. E agora que aí estão, ninguém fala nelas...
Estranho? Não, Merkel!
Angela Merkel vai voltar a ganhar as eleições na Alemanha, sem qualquer sombra de dúvida. E Angela Merkel é hoje uma líder europeia bem mais consensual que há dois ou três anos. Mais que consensual, é indiscutível. Tudo à sua volta é tão volátil, tão cabeça no ar, tão desprovido, que acabou por emergir com o estatuto do grande estadista que a Europa há muito não tinha.
Por isso não há notícia. Por isso as eleições alemãs já não têm qualquer interesse.
Depois da Comissão Nacional de Eleições – a CNE – ter emitido uma recomendação desaconselhando a realização de jogos de futebol no dia das eleições autárquicas, corre por aí que o governo se prepara mesmo para proibir, por lei, os jogos de futebol em dia de eleições.
Como, pela tecnicidade da lei, ela tem que ser geral e abstrata, irá certamente encontrar uma abrangência que vá para além do futebol e que nem deixe escapar os sempre bem regados jogos entre solteiros e casados, que acontecem pelo país fora. Nem sei se museus, cinemas e teatros escapam…
O governo poderá até vir a recuar nesta intenção - acredito até que venha -, mas confesso que ela não me surpreende. Está-lhes na massa do sangue. A primeira coisa que vem à cabeça desta gente é legislar: faça-se uma lei. A segunda é proibir: proíba-se! É assim que, de há muito, as coisas se resolvem em Portugal.
Vemos que em boa parte dos países, na Europa, mas não só, se vota durante a semana, num normalíssimo e corrente dia de trabalho. Começamos a ver surgir o voto electrónico, que agiliza todo o processo, e facilita a vida a toda a gente. Mas nada disso se aplica a nós, aqui neste cantinho da Europa, que o Senhor Juncker já não enxerga.
Por cá tem de se votar ao domingo, e na agenda de cada um nada mais pode constar que a deslocação à assembleia de voto, de manhã, o regresso a casa para almoço com a família, e o aconchego do sofá para fazer contas à vida enquanto as urnas não fecham.
Enquanto se pensar assim, não se pensa que os cidadãos não vão votar porque a sociedade não está virada para promover a consciência cívica e os valores da cidadania. Porque a pobreza de ideias, o mau gosto, os dislates e os disparates das campanhas eleitorais conseguem destruir qualquer réstia de consciência cívica que possa ter resistido. Ou porque, cansados de falsas promessas, de abusos, de comportamentos à margem da ética, muitas vezes irresponsáveis, ou mesmo delituosos, muitos desistiram da democracia.
Ah… Já agora recomendaria que se pedisse ao resto da Europa para também não jogar à bola, nesse dia. É que a malta não vai à bola, mas também não sai de frente da televisão para ir votar.
Se Fernando Medina comprou o seu apartamento (a uma familiar próxima da administração da Teixeira Duarte) com um desconto de 200 mil euros sobre o preço de mercado (seiscentos e tal mil euros, contra mais de 800 mil de valor de mercado), pode simplesmente ter feito um bom negócio. O que não tem nada de errado.
Ou pode ter fugido com a diferença à escrituração. O que está errado.
Se a Teixeira Duarte não tinha negócios com a C.M. de Lisboa, e passou depois da data dessa transacção a ter, pode até não ser simples coincidência, mas pode nem assim não ter nada de errado. Se todos esses negócios eram de valor inferior a 5 milhões de euros, e por isso dentro dos limites da adjudicação directa, não tem nada de errado.
Mas que, tudo junto, e tudo sendo verdade, tem tudo para parecer errado, lá isso tem. E quando assim é, lá vem a mulher de César para a conversa... Por isso, quando assim é, dizer que é tudo uma cabala da oposição escondida atrás de uma denúncia anónima, e que quando comprou a casa não fazia ideia nenhuma da ligação da vendedora à Teixeira Duarte, é pouco. Pode ser verdade, mas não chega.
E Fernando Medina sabe bem que não chega. Mesmo que chegue para ganhar as eleições...
Em contraste com o tempo frio e chuvoso do inverno que começa a apertar, este era um fim de semana de alta temperatura política aqui pela Europa.
Na Àustria, que antecipou em quase duas décadas o esgotamento do centrão que serviu de forma de governo à Europa do pós-guerra, e o reforço da extrema-direita, votava-se para as presidenciais. E temia-se pela eleição de Norbert Hofler, o candidato da expressiva extrema-direita austríaca, naquilo que vinha sendo prognosticado como a primeira presidência engolida pelo tsunami nacionalista e xenófobo que está previsto assolar a Europa neste ciclo eleitoral que se está a iniciar. Para já, e pela Áustria, não se confirmaram essas premonições: o novo presidente austríaco é Alexender Van der Bellen - que já havia sido o mais votado na primeira volta, em Maio -, um ecologista e um progressista.
Em Itália votava-se num referendo (mal estruturado) para uma complexa revisão constitucional (não deve ser fácil conceber um modelo simples e eficaz de referendar alterações que mexem com mais de 40 artigos da Constituição) que o primeiro-ministro italiano resolveu simplificar transformando-o num simples plebiscito ao seu governo. Quando Renzi, há mais de quatro meses, anunciou que se demitiria se o "não" ganhasse, deixou tudo mais simples: afinal os italianos já não tinham que se preocupar muito se faz sentido (que não faz) que o Senado e a Câmara dos Deputados tenham o mesmo poder e façam a mesma coisa; ou se o sistema eleitoral deve facilitar a constituição de governos, favorecendo os grandes partidos (que, com 40% dos votos garantiam 54% dos lugares) para reduzir o incómodo dos pequenos - só tinham que dizer se queriam ou não aquele governo.
E não quiseram... Tão claramente que Renzi nem precisou de muito tempo para declarar finito o seu governo.
Também aqui estamos perante o copo meio cheio. Está meio cheio se entendermos que os italianos simplesmente disseram que querem outro governo, e que acham que vivem bem com o sistema político com que sempre viveram. Isso é normal em Itália, habituada a mudar de governo como quem muda de camisa, sem que daí venha mal ao mundo. E a eles próprios, a oitava economia do mundo...
Mas o copo já poderá estar meio vazio se a este se seguir outro, já colocado na agenda política pela maior parte da forças agora vitoriosas, para decidir a continuidade na União Europeia.
A Europa está de cabelos em pé. Será bom que respire fundo, reflita e corrija o rumo. Mesmo que se saiba que em Itália tudo é diferente. Que a Itália é diferente, tão diferente que nenhum outro país sobreviveria às condições em que tem crescido. E afirmado!
Agora, que os saldos também chegaram ao do petróleo, é que dizem?
Já se vê, com esta é que Passos Coelho não contava. Já sabia há um ano, mas quis também guardar o petróleo para as eleições... Não imaginaria é que estivesse agora ao preço da uva mijona... Mas nada de desanimar, daqui até às eleições os preços ainda podem subir. Ou podem até os ingleses decidir-se a dizer onde é que está mesmo esse petróleo todo!
Já não bastava tudo o que se tem passado à volta das eleições para a Liga Portuguesa de Futebol Profissional, a mostrar a verdadeira face do dirigismo do futebol em Portugal. Não bastava o discurso do presidente do Sporting. A figura do presidente do Vitória de Guimarães e a do Nacional. De cada um e de ambos em simultâneo. Para não falar do triste espectáculo de uma figura da magistratura e outra da política, qual delas a mais triste, a mostrar que quando os dirigentes do futebol estão atolados na lama há sempre quem, de fora, sirva para ... trazer mais lama ainda. Nem da falta de transparência dos três grandes, sem excepção!
Não bastava tudo isto, era ainda preciso que, das quatro candidaturas, apenas a do anterior presidente, apresentada em última hora, fosse regular. Uma coisa é certa, goste-se ou não - e poucos gostam - Mário Figueiredo confirma que o último a rir é o que ri melhor. Só não ri sozinho porque seremos certamente muitos a rir de Fernando Seara. E de Rui Rangel. E de Júlio Mendes. E de Rui Alves. E de Pinto da Costa. E de ... Luís Filipe Vieira!
E, claro, o Bruno de Carvalho acaba por também se partir a rir...
Desta gente, que pelo tacho faz tudo, não se pode esperar mais nada. Nem que tenha o mínimo de vergonha para manter agora algum recato!
Os mercados estão à beira de um ataque de nervos com os resultados eleitorais em Itália. A Europa não está mais tranquila, e a Alemanha, essa, já arranca cabelos!
Mas o que mais marcadamente caracteriza estes resultados das eleições em Itália é a normalidade. E a previsibilidade.
É o resultado normal porque, em boa verdade, a instabilidade política, e até a ingovernabilidade, é a principal característica do sistema político italiano. Foi sempre assim no pós guerra, e só deixou de o ser nos últimos anos, com os governos do Il Cavaliere, essa figura única nascida das cinzas do sistema, depois do ciclone que no final do século arrasou o edifício político do país.
E é um resultado previsível depois desta pouco original ingerência da União Europeia (UE) na política italiana. Na verdade Bruxelas resolveu suspender a democracia em Itália e impor aos italianos um governo de comissariado próprio em substituição do governo que tinham elegido. Impndo aos italianos, não só - como aos portugueses e aos gregos - uma política de austeridade, mas também um governo para a executar, nem a UE, nem ninguém, poderia esperar que os italianos votassem de outra maneira.
Aconteceu em Itália, como já tinha acontecido na Grécia – onde a solução acabaria por passar por novas eleições, onde os eleitores foram sujeitos à humilhação máxima de votar sob a ameaça de uma arma alemã apontada à cabeça. Não aconteceu em Portugal porque não houve eleições, tudo aconteceu em plena primavera do ciclo político. Mas lá virá!
Não se sabe bem quem ganhou as eleições. Acontece o que é costume: todos ganham, e ganham todos à medida de quem faz a avaliação. Bersani e Berlusconi dividiram 70% dos votos, mas para a direita, Berlusconi ganhou sem qualquer sombra de dúvida. E para o centro esquerda foi Bersani o vencedor. Para a esquerda, o Movimento 5 Estrelas do humorista Beppe Grillo – um movimento de cidadania, em terceiro lugar na contagem dos votos, com 25% - foi o grande vencedor destas eleições.
Mas sabe-se quem perdeu: Monti, o homem da Goldam Sachs, o comissário de Merkel. O homem dos mercados - que não o dos italianos – serviu para fantoche. Agora não fica a servir para nada. Nem certamente para muleta de Bersani!
Não sei se estas eleições italianas resultam no caos. Mas sei que estes resultados assustam mais os mercados e a nomenklatura europeia que os italianos. E como o que mais por cá falta é mesmo quem possa assustar os actuais senhores da Europa, esta é uma boa notícia!
O Benfica vai hoje a votos. Pelo que a esta hora se sabe, a afluência estará tão longe de bater recordes quanto de ser uma decepção. Longe da compreensível mobilização das eleições de há doze anos, quando foi preciso correr o pano sobre o período mais negro da sua História, e provavelmente aquém do esperado para uma disputa a dois.
Não será porventura grande a mobilização da nação benfiquista para estas eleições: a campanha não foi entusiasmante, antes pelo contrário. Foi, no meu entendimento, desinteressante e de pouca utilidade. À boa maneira de tudo o que é eleições em Portugal, viveu de sound byte, da demagogia e de populismo. Mas passou ainda das marcas, com o debate num nível muito baixo, centrado no ataque pessoal, que acabaria numa espiral de violência verbal que não enobrece os candidatos. Nem o Benfica!
Ainda bem que tudo acaba hoje. Corria-se o risco de não saber até onde chegaria esta espiral de demagogia. Luís Filipe Vieira já não faz a coisa por menos: 3+1+50. Quer ele dizer que os próximos quatro anos são para ganhar 3 campeonatos, 1 competição europeia e 50 títulos nas modalidades. Rui Rangel não foi tão longe – não poderia ir – mas também não ficou aquém ao prometer o título já para este ano. Do mal, o menos, e ainda bem que isto acabou aqui: corriam-se riscos de fortes contributos para o anedotário do clubismo nacional e de encher um certo bloco de notas, pronto a usar para memória futura.
A única coisa séria que sobrou desta espécie de debate foi mesmo a dos direitos de transmissão televisiva, e a ruptura com a Olivedesportos. Mas, apesar de me parecer que em regime pay per view não seja muito difícil superar os valores oferecidos por Joaquim de Oliveira, até disso tenho dúvidas: não serei certamente dos mais surpreendidos se daqui por um mês ou dois houver uma reviravolta e tudo acabe por ficar na mesma…
É por isto que o meu voto, desta vez, é um simples voto de que mais nada sobre desta campanha eleitoral que os próprios resultados da eleições, pacífica e democraticamente aceites por todos os benfiquistas. Com votos de que melhores dias venham…
PS: Afinal, e para surpresa minha, a afluência às urnas acabou por ser a maior de sempre. Ainda bem!
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