A convocatória do novo seleccionador nacional de futebol surpreendeu meio mundo. Terá indignado um quarto e agradado a outro quarto…
É uma convocatória alargada – 24 jogadores – como se tratasse de uma convocatória para uma fase final, e isso, como primeira convocatória deste seleccionador, compreende-se perfeitamente. E explicará que comporte seis jogadores do Sporting – uma das surpresas, que indignará muita gente e agradará aos sportinguistas –, algumas estreias – José Fonte e Ivo Pinto – que não cabem exactamente no conceito de renovação, que de todo não serve de mote nem alimenta a convocatória, e muitos regressos.
Foquemo-nos nos regressos, em boa verdade, a par das mais que justificadas ausências do Miguel Veloso, do Raul Meireles, do João Pereira ou do Eduardo, o mais picante da convocatória. E deixemos de lado o regresso de Eliseu, que o simples facto de estar a jogar no Benfica torna normal, para nos determos nos de Dany, Quaresma, Tiago e Ricardo Carvalho, que desde logo terão, no mínimo, soado a murros no estômago do Paulo Bento.
Destes, o regresso de Quaresma acabará por ser o mais pacífico. Traduz uma opção política, natural também numa primeira convocatória. É dar mais uma oportunidade ao Quaresma, para que dela ele faça o que entender, e assim resolver um problema que tem sido sempre incómodo. Se o jogador a agarrar está tudo resolvido. Se a deitar fora também!
Por isso se percebe. E se justifica!
O de Dany justifica-se perfeitamente porque é neste momento um dos melhores 10 que por aí andam, mesmo que, recorde-se, nunca tenha atingido na selecção o alto nível que apresenta no seu clube. Para além disso percebia-se claramente que sóo mau feitiode Paulo Bento o mantinha afastado da selecção, onde tanta falta fez no Brasil.
O afastamento de Tiago da selecção não tem nada a ver com Paulo Bento. O mesmo não se pode dizer por não ter regressado, que não pode deixar de ser levado a débito do mau feitio do ex-seleccionador. Toda a gente percebeu, e o próprio Tiago ainda primeiro que todos, que há quatro anos atrás a sua carreira dava todos os sinais de ter entrado na sua decisiva fase descendente. Deixara de ser titular na selecção e terá entendido que, a ter de deixar a selecção, sairia pelo seu pé. Uma decisão legítima!
É nesta altura, e não noutra qualquer, como o anterior seleccionador deixou que se confundisse, e como muita gente tenta confundir, que Paulo Bento o tenta demover dessa decisão, com as tais deslocações a Madrid. Só que Simeone não mudou apenas a vida do Atlético de Madrid, mudou também a de Tiago. Não lhe deu um novo fôlego, deu-lhe uma nova vida tornando-o, depois dos 30, num jogador como nunca antes tinha sido. Com esta nova realidade o Tiago estava evidentemente disposto a regressar, disso deu por diversas vezes sinal, e a selecção só tinha evidentemente a ganhar com o seu regresso. Mas aí já o seleccionador punha o seumau feitioacima dos interesses da selecção.
O regresso de Tiago, mais que justificado, é a mais merecida bofetada em Paulo Bento!
É diferente o regresso do Ricardo Carvalho, por muito que o mesmo mau feitio possa ter sido responsável pela irreflectida atitude do jogador. Nenhuma condenação pode ser eterna, por isso não há prisão perpétua em Portugal. O que neste caso deveria ter sido amplamente divulgado, e não o foi, era o castigo aplicado pela FPF pelo comportamento de grave indisciplina do Ricardo Carvalho. Um, dois ou três anos de castigo, fosse lá o que fosse, estaria já cumprido. O jogador teria pago pelo seu erro e, mesmo aos 36 anos, estaria em condições de ser convocado. Estranho é que só hoje se tenha sabido que o jogador foi castigado por um ano!
Entendia-se que Paulo Bento nunca o convocasse, tinha com ele um problema pessoal que ia para além do castigo aplicado. Da mesma forma que se entende que Fernando Santos não tenha qualquer objecção à sua convocação. Que provavelmente justificará por política de pacificação!
Veremos se lhe dará a titularidade. Apostaria que não!
O estatuto especial de Hong Kong, desenhado pelas autoridades inglesas e chinesas no quadro da devolução daquele território à soberania chinesa está, desassete anos depois, aparentemente esgotado. A população quer mais, quer escolher os seus governantes sem qualquer tipo de condicionalismo. Quer democracia, mesmo a sério, e por isso está há muitos dias na rua...
Por enquanto o movimento atravessa a sua fase romântica. Já conhecida por revolução dos chapéus (arma de defesa contra o gás lacrimogénio), a emergência da liderança de um rapaz de 17 anos - Joshua Wong - acentua-lhe o romantismo. Mas não deixa de colocar a China perante uma encruzilhada em que reprimir os protestos, seguindo a sua matriz natural, será pôr tudo em causa; mas também acolher as reivindicações do território, poderá pôr tudo em causa.
E tudo é mesmo tudo. Desde logo aquela base programática deum país e dois regimesem que a China pretende sustentar a sua condição de superpotência!
Para já o regime parece apostar no tempo, confiando que o tempo se encarregue de vencer, pelo cansaço, os protestos. As notícias de hoje dão conta de confrontos entre manifestantes e opositores, provavelmente induzidos e provocados, justamente para acelerar o poder do tempo.
Noite de gala na estreia da Luz na Champions, à Benfica. A lembrar as grandes noites europeias do passado glorioso, com mais de 62 mil nas bancadas, sempre em festa, e a empurrar a equipa sempre para mais. E mais!
Com uma exibição perfeita, das mais completas de que temos memória, o Benfica - este novo Benfica de Bruno Lage - reduziu esta equipa de estrelas do Atlético de Madrid (desconfio que, desta vez, ninguém terá a lata de dizer que é a mais fraca de há quantos anos quiserem) a um conjunto de jogadores vulgares que custaram muito, mas mesmo muito dinheiro.
O Benfica não foi apenas sempre melhor. Foi esmagador. Esmagador na exibição, e esmagador dos números. Sem precisar de ter muito mais bola (52% "apenas"), o Benfica fez 19 remates, contra apenas três da equipa de Simenone. Desses três, nenhum foi à baliza. Um deles não foi sequer remate, foi um cruzamento falhado que acabou com a bola na barra da baliza de Trubin, que não teve uma única defesa para fazer. Dos seus 19 o Benfica enquadrou 10 com a baliza de Oblack - do nosso velho Oblack, que - dois com os ferros, três a rasar os postes e fez quatro golos. Oblack, que regressou à Luz - como o nosso velho Witsel - fez 6 defesas. Dessas, metade eram bolas de golo.
A equipa - com Bah, regressado de lesão, a ser o nome novo no onze inicial, que não a única novidade (Bruno Lage preferiu transferir Tomás Araújo para o lado de Otamendi, deixando António Silva no banco) - entrou confiante, personalizada e, percebeu-se desde cedo, com a lição bem estudada. Os jogadores todos no máximo da concentração mental na execução das tarefas que lhe estavam destinadas. Aursenes descaía para a direita (na verdade estava em todo o lado!), para dar o apoio a Bah que Di Maria não podia dar numa faixa onde subiam Reinildo, que jogou na equipa B do Benfica, e Samuel Lino (o jogador em maior evidência, que há dois anos Simeone veio buscar ao Gil Vicente, a provar, com ambos, que também sabe viver sem contratações milionárias) e para onde descaía Alvarez, a contratação (ao Manchester City) mais cara do último mercado.
Na esquerda, uma ala menos explorada pelos colchoneros, era Akturkoglu quem dava o equilíbrio com Carreras (que grande jogo!).
Florentino fazia o que sempre faz, e bem. Kokçu (o homem do jogo para a UEFA) deu-lhe apoio e ainda teve tempo para ser maestro, dividindo a batuta com Di Maria. E Pavlidis, entre linhas, assegurava as ligações. Na frente de ataque fazia as diagonais curtas que abriam espaços na defesa contrária.
Bem cedo, numa dessas diagonais, Witsel interceptou-lhe o remate, para canto. No canto - dantes não davam em nada, agora dão em tudo - Oblack negou o golo ao grego, na primeira oportunidade de golo criada. Pouco depois, aos 13 minutos, Akturkoglu marcou o primeiro golo. Para o Benfica foi como se nada mudasse. A equipa espanhola reagiu ao golo, e terá então vivido alguns dos poucos momentos em que não esteve subjugada à arte e ao engenho da equipa de Bruno Lage.
Em cima do intervalo mais uma oportunidade de ouro para o Benfica marcar, numa grande jogada de ataque em que Di Maria isolou Pavlidis, que rematou cruzado à base do poste de Oblak. Batido.
Ao intervalo Simeone quase esgotava as substituições - ficou apenas com uma para fazer - para promover uma revolução no jogo. Só que era noite de Benfica, e não de revoluções. O segundo golo, num penálti (duplo, dois jogadores pisaram os dois pés de Pavlidis) que o árbitro não quis ver, mas que o VAR não podia deixar passar, convertido por Di Maria, acabou com a revolução intentada pelo Simeone.
A partir daí o Benfica refinou a exibição, e o Atlético ficou a ser sucessivamente atropelado. Um amigo meu, lagarto, enviou-me uma mensagem dizendo que "os espanhóis já não tinham tamanha humilhação desde Aljubarrota". Achei-a simpática, mas parecida com uns "olés" que se começavam a ouvir nas bancadas, que Bruno Lage mandou calar!
À entrada para o último quarto de hora, num canto - pois claro, agora é assim - Bah marcou o terceiro. Não matou o jogo porque há muito que estava morto. Mas foi o golpe de misericórdia na equipa de Simeone, então perdida em campo, sem crença, sem força e já sem vontade.
A Luz queria mais. E, empurrado pelos adeptos, o Benfica continuou na procura de mais golos. Alcançou apenas mais um, novamente de grande penalidade, por derrube de Giménez a Amdouni, aos 84 minutos, convertida por Kokçu. A noite de sonho acabava em goleada. Foram quatro, mas bem poderiam ter sido uns escandalosos sete ou oito!
Foi bom. Muito bom, mesmo. Mas foi só isso. Já ficou para trás. Ganhou-se apenas um jogo que vale três pontos nesta estranha Champions. Mas ver estes jogadores felizes a jogar à bola, libertos de medos e fantasmas, leva-nos a acreditar que é possível voltar a ter noites destas!
Enquanto, depois de bombardear Beirute, Netanyahu manda invadir o Líbano, e chama o Irão para a guerra; e Putin reforça o orçamento e o recrutamento para a guerra para fazer capitular a Ucrânica, por cá brinca-se ao braço de ferro num jogo de palavras à volta do orçamento.
Evidentemente que o Orçamento reflecte opções políticas, e que essas variam em função de muita coisa. Às vezes - e nem tem sido raro - até só de estar no governo ou na oposição. E que serve para muita coisa, até para forçar eleições.
Foi assim há três anos, em Outubro de 2021, quando António Costa forçou o chumbo do Orçamento para 2022, para ir procurar a maioria absoluta - que lhe fugira em dois anos antes - que lhe permitisse descartar-se da antes utilitária geringonça. E volta a ser assim agora, para o dois em um de Montenegro.
De uma só assentada Montenegro - em campanha eleitoral desde que empossado primeiro-ministro - empurra o PS para mais longe e o Chega mais para baixo. Os dois movimentos bem podem até abrir espaço para a maioria absoluta. Se não der, mas ficar lá perto é, ainda assim, muito melhor do que o que há.
Tal como há três anos ninguém se importou muito com a falácia justificativa de Costa para rejeitar qualquer negociação, também desta vez ninguém se importará nada com a de Montenegro. Que também não é melhor engendrada: as virtudes da "sua" redução de IRC ainda estão por provar; e "o IRS Jovem" tem tudo para ser inconstitucional e, portanto, impossível de levar à prática.
Fica-se a saber que Montenegro vai forçar o chumbo do Orçamento por duas medidas inócuas: uma que ainda em lado nenhum provou funcionar; e outra que nunca poderá entrar em funcionamento. Mas isso pouco conta. O que vai contar é que Montenegro virá dizer que quem lhe chumbou o orçamento é que atirou o país outra vez para eleições. E o eleitorado, tal como em Janeiro de 2022, nem vai pestanejar para punir os "culpados".
Sabemos desde o sorteio que, nesta edição da Champions, a sorte não estava muito disposta em sentar-se ao lado do Benfica. Quando o Bate Borisov ou Maribor aqui se chama Mónaco, está tudo dito…
No primeiro jogo, há duas semanas na Luz com o Zénite, houve aqueles vinte minutos iniciais. E aquele Hulk, que fica endiabrado quando pela frente lhe aparece o Benfica. Depois a equipa reagiu, os adeptos gostaram e aplaudiram e, no fim, até ficou a ideia que aquela derrota não passaria de um incidente, perfeitamente remediável no jogo de retribuição, em S.Petersburgo. E até já hoje em Leverkusen com a equipa das aspirinas…
Afinal… nada disso. Só dores de cabeça, sem aspirinas que lhe valham. Dores de cabeça que já dão num sério problema mental com a Champions!
Com Jesus tem sido sempre assim. Dá a ideia que ele acha que nunca tem equipa para a Champions, quando a ideia que deixa é que é ele que não é treinador de Champions. Hoje o Benfica foi completamente trucidado, com duas agravantes para Jorge Jesus: a primeira é que a equipa foi “comida” exactamente da mesma forma que o fora pelo Zénite, naquela primeira meia hora de há duas semanas, sempre atropelada na faixa central do meio campo; e a segunda é que o Leverkusen jogou exactamente como joga sempre. É aquela a sua forma de jogar: pressão alta, grande povoamento da faixa central, com as alas abertas para os laterais, marcações impiedosas e ritmo altíssimo enquanto a capacidade física der!
É inacreditável, mas Jorge Jesus não teve resposta para isso. E a equipa afundou-se, perante um adversário que em valores individuais não lhe é de maneira nenhuma superior. Bem, de maneira nenhuma, tenho que confessar, é um exagero…
Porque, 15 milhões depois, o melhor trinco de que a equipa dispõe – quando permanecem lesionados Fejsa e Ruben Amorin – ainda é o André Almeida. Porque a equipa continua sem guarda-redes: o Júlio César foi a parte mais activa do primeiro golo, meteu dó no segundo e foi simplesmente humilhado no terceiro. E porque o Eliseu é um especialista em pirotecnia: apreciamos as suas bombas, mas preferíamos que fosse, se não especialista, pelo menos competente a defender!
Jorge Jesus já diz que a final da Liga Europa é mais importante que os quartos da Champions. O costume… Se calhar é por isso que ainda há dois anos - lá está, a contar para a Liga Europa - ganhou os dois jogos ao adversário de hoje... Até pode ser, mesmo que financeiramente – e é em dinheirinho que o ordenado lhe é pago – seja muito menos rentável. O problema é que assim nem sequer vai entrar na Liga Europa, quanto mais chegar à final!
No entanto o "pantomineiro-mor" do país troca esta realidade pela narrativa que lhe alimenta a pantominice, e marca uma grande manifestação para Lisboa contra a imigração. Freta autocarros por todo o país, e arregimenta todas as estruturas para este objectivo principal do partido. Disse-se por aí que quem não apresentasse resultados ficaria com contas para ajustar.
E ontem lá se encontraram todos - gente que não sabia o que ali estava a fazer, gente que também tinha sido emigrante, "mas dos bons, nada destes que para cá vêm", e gente que sabia bem ao que vinha, como um tal Mário Machado com o "seu" 1143 - percorrendo precisamente o eixo da capital mais marcado pelas mais degradantes imagens da exploração associada à imigração.
O pantomineiro tinha à sua volta câmaras e microfones que bastassem. Para elas dizia que não, que não era nada contra a imigração, enquanto descia pela Almirante Reis debaixo da gritaria "nem mais um, nem mais um". Novo microfone à frente e, de novo, não, aquilo era apenas contra a desregulação, contra a "bandalheira" das portas abertas.
As tais que, dizem os empresários deste país, a fecharem-se, seria devastador!
Pantominice é isto. Também lhe chamam populismo, mas isto é mais propriamente pantominice!
Carlos Moedas foi hoje ouvido no Parlamento Europeu, numa espécie de prestação de provas, na condição de comissário europeu indigitado. Provas - nesse sentido - tanto mais necessárias quanto, pela evidente falta de peso político, o parlamento desconfiava da sua preparação para a função.
Saiu-se bem, dizem. Apresentou-se como umprodutodo fenómeno de mobilidade social ascendente, imagem de marca da democracia europeia, o que é sempre bonito, e fez a sua mais surpreendente revelação quando disse que esteve muitas vezes em desacordo com a troika.
A surpresa - ninguém nunca deu por nada, antes pelo contrário, alinhou sempre pela ala mais dura do governo, na linha da frente da defesa da troika - deixou de ser surpresa quando se percebeu que, antes, o próprio Parlamento tinha criticado fortemente a intervenção da troika no nosso país. É sempre a mesma coisa: o que é preciso é saber dançar certinho ao som da música de cada momento. Acertar com a música...E isso aprende-se facilmente por Wall Street e pela City...
Não é o primeiro, nem será certamente o último, a pontapear a gramática de forma grosseira e violenta. Sucedem-se diariamente agressões à língua portuguesa nas primeiras páginas dos jornais - de todos, dos generalistas aos desportivos e aos económicos, como neste exemplo -, nas reportagens, nas notícias e nos comentários das televisões portugueses. Sempre sem que nada se passe. Sem a mínima responsabilidade de quem tem a obrigação de ter a máxima. Sem que ninguém simplesmente peça desculpa...
A primeira obrigação de quem vive da escrita é escrever sem erros. É cumprir o mínimo. Se nem esse cumpre, cai em falência. Ainda primeiro que as tintas ...
O país vibrou com as primárias do PS, disso não me parece que fiquem dúvidas. Muita gente correu a inscrever-se para votar e muita gente seguiu a par e passo a campanha, como o provam as próprias audiências dos debates televisivos.
Não sou dos que pensam que isto represente um sobressalto cívico, que o país tenha de repente saltado da cadeira – ou do sofá – e acordado para o activismo perdido. Que de repente o país se reconciliou consigo próprio, e quer intervir activamente no seu destino. Nada disso, os números ainda não dão para isso. E os partidos ainda são muito como o clube de futebol…
Mas também não acho que se possa ficar pela mera escolha de um novo líder partidário, que foi verdadeiramente a escolha de um candidato a primeiro-ministro, exista ou não essa figura.
Não sei se esta ideia das primárias veio assim tanto para ficar quanto nos vão dizendo muitos dos analistas políticos. Enquanto primárias, não me parece. Mas enquanto forma de legitimação democrática e agente da transparência e da revitalização que é necessário levar aos partidos políticos e, por essa forma, ao regime, não tenho qualquer dúvida que é muito importante que seja uma ideia para ficar. Quero com isto simplesmente dizer que não me parece que se institucionalize como ideia de primárias propriamente ditas, mas que não poderá deixar de ser a forma dos partidos escolherem as suas lideranças.
Para além do que deste processo fique para o futuro do regime, também este resultado expressivo de dois terços que António Costa alcançou, se torna no mais relevante e decisivo facto político desta parte final da legislatura.
É que ninguém no PSD pensará neste momento que Passos Coelho, com o que foi e é o governo e ainda com todos os problemas que o envolvem, e que, tantas as contradições e trapalhadas, estão longe de estar ultrapassados, tenha qualquer hipótese de ganhar as próximas eleições a António Costa. Que, há não muito tempo, sagaz,anunciou ser Rui Rio o seu adversário…
Mas Rui Rio não é apenas o adversário que o PSD tem para António Costa. É também, e acima de tudo,o líder que o PSD tem para se coligar com Costa. Quer isto dizer que o PSD percebe neste momento que só com Rui Rio garante a manutenção do poder. Contra António Costa ou com António Costa!
Creio que Passos Coelho percebe isto. E percebe que, se como António José Seguro insistir em resistir ao óbvio, poderá abrir a caixa de Pandora que afastará por muitos anos o PSD do poder. Posso estar enganado, mas não vejo como Passos possa estar a fazer outra coisa que não seja escolher a melhor forma de sair pelo seu pé…