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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Tour 2014 VI

Por Eduardo Louro

 

 

Depois deixar os Alpes, da etapa de transição (15ª) para os Pirinéus – com o australiano Jack Bawer e o suíço Martin Elmiger a morrerem na praia, engolidos pelo pelotão a 10 metros da meta, e nova vitória do norueguês Kristoff, da Katusha que, com Greipel a não corresponder e Kittel desaparecido em combate, passou a dominar as escassas oportunidades que o Tour tem agora para dar aos sprinters – e do segundo e último dia de descanso, correu-se hoje a primeira das três etapas pirenaicas que arrumarão a classificação final.

A notícia do dia é, no entanto, anterior e exterior à etapa. É, evidentemente, o abandono de Rui Costa, vencido pela bronquite que, conta o próprio na sua presença diária nas redes sociais, evoluiu para pneumonia. É o culminar de um Tour de que tanto se esperava, mas que tinha tudo para correr mal… A começar pela equipa!

A 16ª etapa, e primeira dos Pirinéus era, com perto de 240 quilómetros, a mais longa deste Tour, com quatro contagens de montanha de segunda, terceira e quarta categorias, e uma, a última, de grande dificuldade - a escalada de Port de Balès, com quase 12 quilómetros de alta montanha, de categoria especial, a escassos vinte quilómetros da meta. Que foi abordada por um grupo de vinte e um corredores, entre os quais o polaco Kwiatowski, o terceiro classificado da juventude, com mais de doze minutos de vantagem sobre o pelotão.

Pela montanha acima o grupo desfez-se por completo, com o jovem polaco a ser um dos primeiros a ceder, como vem sendo habitual – não se esquece como traiu aquele esforço épico e inglório de Tony Martin, na décima etapa –, sobrando na frente apenas o colombiano José Serpa, da Lampre, colega de Rui Costa de que já aqui falamos, o francês Thomas Voeckler e o australiano Michael Rogers, por esta ordem na contagem de montanha.

Lá atrás sucedeu o mesmo, e o pelotão esfrangalhou-se completamente, não resistindo ao inevitável Nibali, que desta vez se limitou a responder aos poucos ataques dos adversários. Um ou dois de Valverde, sempre bem acolitado por três colegas de equipa, e uns esticões de Pinault, que não se destinavam directamente ao líder da corrida mas, antes, ao seu compatriota Bardet, portador da camisola branca da juventude, e terceiro classificado. Tudo – e não é pouco – o que lhe interessava. O também francês Péraud, limitou-se a segui-los, completando o grupo do camisola amarela.

A louca descida de vinte quilómetros até à meta fez autênticos milagres. Por exemplo, Kwiatkowski recuperou do imenso tempo perdido na subida e chegou à meta em sétimo lugar, a apenas 36 segundos do vencedor, o australiano Rogers que também aproveitara bem a descida para ganhar a etapa, com perto de 9 minutos sobre NIbali. Ou o bielorusso Kiryenka, que depois de fraquejar na subida seria terceiro, atrás de Voeckler. Ou o americano Van Garderen, que não resistira no grupo de Nibali, ficando muito para trás para, no fim, chegar praticamente com eles.

Quem tirou grandes dividendos de tudo isto foi Kwiatkowski que, com os 9 minutos recuperados, regressou ao top ten, no nono lugar. E Péraud, que trocou tudo com o seu compatriota Bardet. Mas tudo isso está preso por apenas 36 segundos!

 

 

Tour 2014 V

Por Eduardo Louro

 

 

Na despedida da curta passagem pelos Alpes, correu-se hoje aquela que terá sem dúvida sido uma das mais exigentes etapas deste Tour. Anunciava-se uma grande jornada de ciclismo e não desiludiu!

Nibaldi voltou a confirmar que não tem par. Desta vez não ganhou, mas foi por mero acaso!

Foi segundo, atrás de Rafal Majka. O inverso de ontem, o que diz bem do extraordinário desempenho deste jovem polaco de 24 anos, companheiro de equipa de Sérgio Paulinho e estreante, quase forçado, porque participara no Giro de Itália e não era suposto participar no Tour. Continua fora do top ten, mas se nos Pirinéus confirmar o que fez nos Alpes ficará, logo no seu primeiro ano, como uma das figuras da competição. Lidera já o prémio da montanha, em igualdade pontual com Joaquim Rodriguez, que amealhou nas contagens intermédias e falhou sempre na alta montanha. Que ontem desiludiu, e hoje, andando sempre na frente à procura de pontos, foi simplesmente penoso na última e decisiva montanha.

Também o colega de fuga de ontem (terceiro) do polaco, o checo Leopold Konig, voltou a estar hoje muito bem. Foi nono na etapa e do décimo lugar, atrás de Rui Costa, subiu para oitavo da geral.

Rui Costa teve um dia bastante mau. Bem pior que ontem, mesmo que a classificação na etapa – 24º lugar a 4´46´´ do vencedor – possa não sugerir todas as dificuldades por que passou, tendo mesmo chegado a pensar em desistir, como referiu no seu Diário. Ontem ainda contou com o apoio de Chris Horner, e depois com a companhia do francês Pierre Rolland na fase decisiva da subida. Hoje ficou sozinho naquela subida tenebrosa, a contas com a bronquite por curar…

E no entanto teve um colega de equipa, o colombiano José Serpa sempre na frente, como documenta a imagem, onde puxa o grupo em fuga que apenas serviu Rodriguez (à esquerda) Não se consegue entender o funcionamento da equipa. Que é fraca, uma das mais fracas em prova, mas não precisava de ser uma anarquia. À excepção de uma ou outra prestação pontual do americano Horner, apenas o Nelson Oliveira, enquanto pôde, foi neste Tour verdadeiramente posto ao serviço do líder. Hoje, sem o americano e sem o português para dar uma ajuda, viu-se o colombiano andar todo o tempo na frente, inclusivamente com fogachos de ataque. Se tinha disponibilidade física para aquelas palhaçadas, é de todo inaceitável que a não tenha utilizado ao serviço dos interesses da equipa e do seu líder.

Poderia até aceitar-se se, perante o fraquejar do líder, o colombiano tivesse condições de seguir por ali acima e ganhar a etapa. Ou se estivesse em circunstâncias de atingir um lugar na geral a que o líder da equipa já não pudesse aspirar. Mas não, nada disso. Esgotadas as forças em autênticas palhaçadas, o colombiano entrou em queda livre e acabou ultrapassado por tudo e por todos, sem uma única pedalada de apoio ao português ….

Provavelmente Rui Costa não terá acesso a uma equipa mais forte na condição de chefe de fila. O que se passa na sua anterior equipa, na Movistar, aponta nesse sentido. Mas caramba, uma coisa é uma equipa fraquinha, outra é uma equipa desorganizada e sem rei nem roque. À Lampre não faltam apenas corredores!

Não vai ser fácil a Rui Costa regressar a um lugar entre os dez primeiros, que era evidentemente o mínimo que poderia esperar!

Tour 2014 III

Por Eduardo Louro

 Contador foi assistido e voltou à estrada, mas abandonou pouco depois (foto AP)

Photo By Christophe Ena/AP

 

 

Tínhamos deixado o Tour na quinta etapa, a do abandono de Froome. Regressamos hoje, com a décima, a do abandono de Contador (na foto). Estão fora as duas figuras maiores do Tour, de quem tudo se esperava!

A sexta e a sétima etapas não tiveram grande história. A sexta foi ganha ao sprint por outro alemão – Greipel, com o seu compatriota Kittel a passar por problemas e a ficar sem possibilidade de discutir o sprint final. E a sétima pelo italiano Matteo Trentin, de novo com Kittel eclipsado, a ter agora de esperar pela última etapa, em Paris.

No sábado correu-se a oitava etapa, que anunciava a chegada da montanha. Contador mostrou-se, e mostrou que era aquele o seu terreno. Atacou, mas a verdade é que os principais adversários responderam. Nibali e Richie Porte, agora no papel de Froome, não se deixarm ficar. O italiano reagiu mesmo em grande estilo…

Ganhou o francês Blel Kadri – primeira vitória francesa –, isolado, único sobrevivente na meta de um grupo que esteve em fuga durante muito tempo, com Contador em segundo logo seguido de toda a concorrência – Nibali, Porte, Pinault e Valverde, separados por pouquíssimos segundos uns dos outros. Rui Costa teve algum azar, saltou-lhe a corrente na altura decisiva e, mesmo que subindo ao oitavo lugar da classificação, perdeu algum tempo, passando a ficar a quase 3 minutos de Nibali. Que, ao contrário do que aqui cheguei a admitir, despiria a amarela na nona etapa, ontem, a cobrir os 170 quilómetros entre Gérardmer e Mulhouse, pela Alsácia, com seis montanhas para subir.

Foi uma corrida extraordinária de um corredor extraordinário, o crónico campeão do mundo de contra-relógio Tony Martin. Fez mais de 140 quilómetros em fuga, os últimos 70 sozinho, num contra-relógio individual só ao alcance dos sobredotados. Ganhou o que havia para ganhar, incluindo todas as contagens da montanha, e ganhou quase três minutos a um numeroso grupo perseguidor, que integrava os portugueses Sérgio Paulinho e Tiago Machado e o francês Toni Gallopin, e mais cinco ao pelotão. Com esta vantagem de 5 minutos o francês Gallopin tirou a amarela a Nibali – em boa verdade foi o italiano que preferiu entregar-lha – e, notável, o Tiago Machado subiu ao terceiro lugar. Rui Costa caiu de oitavo para décimo-primeiro!

Hoje, à décima etapa, no dia nacional de França – comemora-se a tomada da Bastilha - foi um francês a trazer vestido o maillot jaune. No dia da França, mas também numa das mais difíceis etapas desta edição do Tour. Que voltou também a ser a das quedas, quando se pensava que isso era coisa da primeira semana!

Muitas pequenas quedas e pequenos incidentes, que subir e descer com chuva e mau tempo dá nisso. Mas também quedas graves. Primeiro foi o Tiago Machado, que nem teve tempo de desfrutar do seu extraordinário terceiro lugar. Foi ainda dada a notícia da sua desistência, depois desmentida. Depois Contador, que ainda fez por regressar à corrida, mas acabou mesmo por desistir.

Não se ficou por aqui a história desta etapa. Que, claro, é feita pela vitória – categórica e já a segunda – de Nibaldi, que regressa à amarela, na afirmação clara de que é o grande favorito. Está num grande momento de forma, e será injusto lembrarmo-nos que já lá não estão Froome nem Contador.

É também feita do festival de Joaquim Rodriguez, a sprintar pelas montanhas fora para conquistar a camisola da montanha, a das bolinhas vermelhas. Que parecia estranha no corpo de Tony Martin, que mais parecia estar com varicela. Das sete, o espanhol, discutiu seis e ganhou cinco. Foi batido por Vockler – com batota – na primeira e já não teve força para discutir a última, e a etapa, com Nibali.

Mas foi, acima de tudo, feita de novo pelo alemão Tony Martin. Que, indiferente ao esforço de ontem, pegou no seu colega Kwiatkowski e levou-o por ali acima. Chegou a um grupo de 7 corredores já em fuga e rebocou aquilo tudo durante quilómetros e quilómetros e cinco montanhas. Encostou para o lado na penúltima subida, dizendo ao seu jovem colega de equipa que fosse e aproveitasse bem o que ele tinha feito. Não aproveitou, e acabou até por cair na classificação, mas nem por isso é menos épico. Mais que nova fantástica corrida, o alemão deu um fantástico exemplo: um campeão que faz isto é mais que um campeão!

Rui Costa esteve sempre onde devia estar. Cedeu ao ataque – fulminante – de Nibali, para quem perdeu perto de 2 minutos mais. Mas subiu dois lugares, para nono: os que Tiago Machado (terceiro) e Contador (nono) deixaram vagos.

Tour 2014 I

Por Eduardo Louro

 

Cá está de novo o Tour, na sua 101ª edição. Começou em Inglaterra, e por lá andou estes três primeiros dias.

Hoje chegou a Londres, e lá esteve José Mourinho a receber Rui Costa. Bonito de ver! É sempre bonito, portugueses a ver portugueses que o mundo admira...

E portugueses é coisa que não falta neste Tour. Em destaque em várias funções, mas também  no pelotão, em cima da bicicleta:o campeão do mundo não está só, está até muito bem acompanhado. Disso e doutras coisas falaremos aqui ao longo destas três semanas!

Com mais regularidade lá mais para a frente, quando as coisas aquecerem... Na linha dos anos anteriores!

Por agora ainda não há muito a dizer. A não ser que está a começar como acabou a última, com Marcel Kittel a ganhar. Das três etapas inglesas, ganhou duas... Nibali ganhou a segunda, ontem. Ou que Mark Cavendish, a quem Kittel inequivocamente sucede como rei dos sprinters, voltou a não ter sorte e abandonou, por queda, logo na primeira etapa. E que se espera um duelo entre Froome e Contador... E que estamos todos com uma expectativa enorme à volta do nosso campeão do mundo! 

O melhor

Por Eduardo Louro

 

A recente vitória de Rui Costa no campeonato do mundo de ciclismo de estrada de que aqui se deu na altura conta – a propósito, aqui fica a pitoresca narração em directo na televisão espanhola  – prestou-se a que se instalasse de imediato uma nova discussão, a que uma certa parte do país dá muita importância: seria ou não já Rui Costa o melhor ciclista português de todos os tempos?

Bem nos lembramos que, ainda há poucas semanas, bastou que Cristiano Ronaldo marcasse três golos em Belfast, e atingir e bater uma velha marca de Eusébio - lograda em bem menor número de jogos, mas não é isso que interessa – para ser aberta idêntica discussão à volta dos dois futebolistas, que foi até levada muito a sério por muita gente. Desde logo pelos adeptos, e em particular pelos chamados notáveis, de Benfica e Sporting, mas também por Luís Figo, certamente sentido – e avisado da velha máxima portuguesa de que “quem não se sente não é filho de boa gente” – por o terem deixado de fora, que decidiu a contenda sentenciando que king só há um: Eusébio e mais nenhum!

O Eusébio do ciclismo é, como se sabe, Joaquim Agostinho. O benchmarking de Rui Costa faz-se pois com Joaquim Agostinho que, sendo uma figura tão nacional como Eusébio é, para os adeptos leoninos, o Eusébio do Sporting, o que não deixará de ser irónico à luz da discussão com Cristiano Ronaldo.

São discussões que não fazem sentido, porque não faz sentido comparar o que não tem comparação tal a distância, no tempo e em todas as envolvências que determina, que separa cada realidade.

É uma discussão que - mesmo quando bem conduzida, como os interessados aqui poderão ver - não deixa de ser estúpida. Mas que é muito frequente entre os portugueses, que precisam sempre de encontrar o melhor, o maior… Perdem-se nesses exercícios, sempre condenados à parvoíce, ao disparate, ao non-sense

Quem não se lembra no que deu aquela do maior português?

Não nos preocupamos muito em honrar os verdadeiramente grandes. Nem em admirar sem condições os que dentre nós mais se distinguem. Parece que somos de coração pequeno, com apenas um lugar. Ali não cabe mais que um…

Isto poderá ter alguma coisa a ver com a nossa ancestral inveja, que nos condiciona no reconhecimento valor e mérito aos outros de nós. Se temos tanta dificuldade nisso poupamo-nos e reconhecemos apenas um – o maior!

Mas poderá também ter a ver com o individualismo e o espírito competitivo que se acentuou na sociedade portuguesa, particularmente nos últimos vinte anos. Tem sempre de se encontrar o melhor!

 

Um domingo de ouro

Por Eduardo Louro

 

 

A culminar uma época brilhante Rui Costa sagrou-se hoje campeão mundial de estrada, em ciclismo, competição realizada na região italiana da Toscana, com chegada a Florença. O pódio completou-se com Joaquim Rodriguez, que o ciclista português venceu sobre a meta, e Alejandro Valverde, até aqui colega de Rui Costa na Movistar.

Portugal tem, pela primeira vez, um campeão do mundo de ciclismo!

Ao contrário do que é habitual nas provas do campeonato do mundo de estrada, provas habitualmente desenhadas para roladores, esta era uma corrida destinada a seleccionar os melhores – como o próprio pódio confirma - com muita e variada montanha nos seus mais de 200 quilómetros. Um aprova para fazer jus ao título de campeão do mundo!

Foi, para Rui Costa, a cereja no topo do bolo, depois da vitória na Volta à Suíça e da brilhante Volta à França, com vitória em duas etapas, que fazem deste o ano de ouro do ciclismo português. Também Rodriguez e Valverde confirmaram, com a sua presença no pódio, a excelente época que fizeram.

Como se esperava o alemão Tony Martin venceu ontem a prova de contra-relógio, revalidando o seu título de campeão mundial da especialidade pela terceira vez consecutiva. Nos restantes lugares do pódio ficaram o brtânico Bradley Wiggins) e o suíço Fabian Cancellara. 

Depois do tenista João Sousa se ter hoje tornado hoje no primeiro português a vencer um troféu do ATP, ganhando o torneio de Kuala Lumpur, bem se pode dizer que este foi um domingo de ouro para o desporto nacional!

100º Tour de France VII

Por Eduardo Louro

 Rui Costa vence 19.ª etapa e iguala Joaquim Agostinho

Não tinha a mínima intenção de regressar ao Tour já hoje, depois da etapa de ontem do Alpe d`Huez. Pensava juntar a etapa de hoje -  que ligou Bourg d'Oisans a Le Grand Bornand - com a de amanhã, ambas no pacote das duas últimas grandes e decisivas etapas deste Tour número 100.

O Rui Costa obrigou-me a voltar aqui hoje, a abordar separadamente esta 19ª etapa, com mais de 200 quilómetros e, de todas, a que mais montanhas somava.

Porque voltou a ganhar - a décima terceira de ciclistas portugueses, e a terceira de Rui Costa, a igualar Acácio da Silva e a duas de Agostinho - apenas dois dias depois. Porque voltou a ganhar categoricamente, agora na alta montanha. Porque agora, com mais vitórias que ele neste Tour, apenas o sprinter Kittel e o rei Froome. Porque, com esta segunda vitória, repetiu e fez-nos lembrar Agostinho, logo na estreia, em 1969. Porque confirmou que é  um ciclista de eleição, inequivocamente no top ten mundial. Não tem nada que ver com Agostinho - disso já há muito que não há, se é que alguma vez houve -, está mesmo nas antípodas dessa inultrapassável figura do ciclismo nacional. Não tem, nem de perto nem de longe a mesma força, mas tem uma enorme inteligência competitiva capaz de o levar ao topo do ciclismo mundial.

E foi isso que hoje confirmou. Depois da vitória de terça-feira, hoje, dois dias depois, em terreno completamente diferente, a mesma receita: a fuga certa, bem numerosa, e o ataque infalível, na hora certa, não dando a mínima hipótese a quem quer que fosse. Pelo meio, nesses dois dias, uma lição - mesmo para quem, como eu, tendo percebido não tenha gostado - de gestão de esforço em competição: primeiro no contra-relógio, que já não lhe aquecia nem arrefecia, e depois, ontem: ainda experimentou entrar num grupo em fuga, mas rapidamente abdicou quando percebeu que aquilo não iria dar certo, nada preocupado em deixar-se ficar para trás.

males que vêm por bem, diz a sabedoria popular. O Rui Costa tinha deixado a ideia que poderia fazer um grande Tour, dizendo que tudo dependeria de como corresse a primeira semana, sempre recheada de incidentes, num pelotão imenso e difícil de entender e gerir. Correu-lhe bem, e parecia que tínhamos homem, até chegar aquela maldita etapa 13. O mal que veio por bem: atirou-o para fora da disputa da classificação geral, mas libertou-o para estes feitos. Que, feitas as contas, são bem maiores que os que conseguiria no outro tabuleiro, condicionado ou não pela sombra de Valverde!

É uma grande vitória, esta de hoje do Rui Costa. Começou por integrar uma fuga madrugadora de 44 ciclistas, que foi gradualmente mingando. Para a frente saíram dois ciclistas, um dos quais o francês Rolland, que persegue a camisola das bolas vermelhas - da montanha, que durante muito tempo vestiu – e grande ganhador dos pontos em disputa nas cinco das seis montanhas. Pouco depois do início da última do dia, quando uma forte trovoada se abatia sobre a corrida, iniciaram-se no grupo os primeiros ataques. Quando o Rui Costa entendeu atacou ele, e deixou logo ali toda a concorrência. Se rapidamente alcançou Rolland, rapidamente o deixou para trás, montanha acima, sempre debaixo de chuva e com a diferença para os perseguidores a crescer. Chegado lá acima ficava a faltar a descida até à meta. Treze quilómetros, sempre a descer e sempre debaixo de chuva.

De cortar a respiração. Até à meta e à festa!

Dez minutos depois chegava o grupo dos primeiros da classificação geral, com todos juntinhos.

100º Tour de France V

Por Eduardo Louro

 

Rui Costa ganhou, na chegada a Gap, a etapa de hoje do Tour, a 16ª. Integrou a fuga do dia, num grupo de perto de vinte corredores e, na altura certa, lançou o ataque certo. E certeiro!

Depois do acidente de sexta-feira, e do descalabro de domingo, Rui Costa teria de mudar rapidamente a agulha. Sem aspirações na classificação geral, uma vitória numa etapa - numa equipa que ainda não vencera nenhuma - passava a ser o objectivo. E já não havia muito tempo, nem sobravam oportunidades para isso. Era hoje, numa etapa que, não sendo de alta montanha, era de montanha. Uma montanha que teve espectacularidade no ataque de Rui Costa, mas também nos ataques de Contador, qua atacava ali o segundo lugar, se bem que tivesse sido Froome, de novo sozinho, a responder. De tal forma que viriam ambos a cair, já na descida para a meta, e a terem de cooperar ambos para recolar ao grupo dos primeiros da geral, que chegaria doze minutos depois do Rui Costa.

Tinha de ser hoje. E foi. E não certamente por ter sido ali, também em Gap, que o outro português do pelotão - o Sérgio Paulinho de quem nunca se ouve falar - ganhou em 2010. Mas pode bem ter sido por ontem, no dia de descanso, ter sido dado como o ciclista mais popular do pelotão. Popularidade - disse-se - medida pelo número de cartas de incentivo que recebe. Estranha - ou talvez não - esta forma de medir a popularidade... Certo é que a popularidade também ajuda a empurrar. Não é só a noblesse que oblige!

100º Tour de France IV

Por Eduardo Louro

 

Aí está Tour a fechar a segunda semana. Falta uma!

E o Tour não é só Pirenéus e Alpes. E contra-relógios!

Comecemos por aí. Pelo contra-relógio de quarta-feira, o primeiro deste Tour, que permitiu a Froome reforçar a sua condição de grande candidato à coroa de louros em Paris, de hoje a uma semana. Foi ganho - por uma unha negra – pelo alemão Tony Martin, a unha negra que o separou de Froome. E que permitiu ainda a Rui Costa, apesar de um desempenho muito abaixo das expectativas – esperava-se um lugar entre os dez primeiros, mas ficou muito longe, perto do 30º posto – subir um lugar top tem que trazia dos Pirinéus. Nos dez primeiros do contra-relógio nem o seu chefe-de-fila - Valverde – coube!

É ainda a subida ao Mont Ventoux, na etapa de hoje - 14 de Julho, o dia nacional francês, o dia da tomada da Bastilha – a mais longa, mais difícil e talvez decisiva etapa deste Tour, a caminho daquela paisagem marciana, onde os ciclistas enfrentam a terrível subida e o não menos terrível vento que lhe dá o nome. E onde Froome chegou primeiro que todos os outros, a confirmar uma superioridade imensa. Que não, felizmente, incontestada!

Mas é – e eis a surpresa – também feito de etapas como a 13ª, 13 de azar, no dia 12 - que ligou Tours a Saint-Amand-Montrond. Uma etapa curta – 170 quilómetros -, de altos e baixos, mas sem montanha, para roladores, para ser discutida ao sprint e ganha por um dos sprinters glutões do pelotão. Como foi, ganha – mais uma – por Cavendish, caído em desgraça dois dias antes, quando – se não foi assim, foi essa a ideia que passou – derrubou em pleno sprint final um adversário que preparava a ponta final para um colega, o alemão Kittel, que viria a ganhar a etapa, maior rival do inglês e único ciclista com três vitórias até ao momento. Pois foi esta etapa, uma das que parecem destinadas a simplesmente não ter história, que se veio a revelar uma das mais decisivas e espectaculares deste Tour. Pelos sortilégios do ciclismo, mas também pelo vento, muitas vezes mais temido que as montanhas. Vale a pena contar: ia a etapa a menos de meio e já o pelotão estava partido em três grupos. No da frente seguiam as principais figuras, quando Valverde - segundo classificado, principal adversário de Froome e colega de equipa de Rui Costa – furou e perdeu o contacto. Toda a equipa (Movistar) ficou para trás para o levar de volta ao grupo da frente, à excepção dos outros dois ciclistas no top ten: Rui Costa e Quintana. Não tendo sido de imediato bem sucedidos, quando estavam apenas a doze segundos mas já com o segundo grupo do pelotão a chegar, a direcção desportiva da equipa deu ordens a Rui Costa para, também ele, esperar pelos seus companheiros, ficando lá na frente apenas o jovem colombiano Quintana. Foi então que o grupo da frente decidiu arrumar ali mesmo com toda a Movistar, que “apenas” liderava por equipas, tinha a vice liderança da prova, a liderança da juventude e três corredores nos dez primeiros. Olhando para a corrida, a equipa de Contador, toda ela no primeiro grupo, resolveu ainda atacar, deixando Froome angustiado, a olhar para o lado à procura da equipa que não tinha ali. Valeu então a Froome a sorte dos campeões - com a Team Saxo-Tinkoff de Contador tinham também seguido os sprinters – quando a BMC, de Cadel Evans, que já nada tinha a ganhar, e a Katusha, de Rodriguez, ainda com alguma coisa a defender, resolveram assumir a  perseguição e defender-lha a camisola amarela. Quem pagou tudo isto foi a Movistar, com Valverde e Rui Costa a perderem mais de uma dúzia de minutos que os atiraram bem para fora do top tem. Rui Costa caiu vinte lugares!

Claro que a espectacularidade desta etapa, e a volta que promoveu na classificação, nada retiram à etapa de hoje, com a subida ao Mont Ventoux. Mas não deixou de a influenciar, porque a Movistar, que perdera a cabeça e a corrida quando mandou Rui Costa esperar pelo grupo de Valverde, voltou a fazer hoje tudo errado. O português atacou quando faltavam onze quilómetros para a meta – que no Mont Ventoux são uma enormidade. No mesmo quilómetro, só para se ter uma ideia, foi absorvido e despejado. Quer dizer, em poucas centenas de metros, fugiu, foi apanhado e ficou para trás. Logo a seguir, também sem grande sentido por muito cedo, jogou o às de trunfo – o colombiano Quintana, um trepador que bem poderia ganhar ali.

Froome, que mais uma vez se despediu de Contador quando muito bem quis - em montanha tem sido sempre assim – viria a alcançá-lo, chegando a parecer que lhe agradaria a companhia até à meta. Mas não. Despediu-se também do colombiano e seguiu sozinho até lá cima. O holandês Bauke Mollema é – com alguma surpresa - o segundo classificado. E Contador, que pouco mais tem feito que aguentar-se. o terceiro, ambos a mais de quatro minutos.

Vem aí a última semana, a dos Alpes. E a do contra-relógio de montanha. Mas também de Paris, de hoje a oito dias!

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