Este era o pior momento para António Costa entrar no buraco escuro em que se meteu. Não conseguiu resistir aos encontrões que foi levando de todo o lado, e acabou por se deixar cair num buraco donde dificilmente sairá.
A chinesice em que se embrulhou, e que enche hoje o espaço mediático, é apenas o exemplo mais acabado desse buraco negro onde António Costa anda às apalpadelas, cuja menor das consequências será certamente o abandono em estado envergonhado do histórico Alfredo Barroso, que há muito andava a bater com a porta.
A António Costa está a faltar estofo, e isso vai ser fatal. Já foi fatal para Seguro, mas agora vai ser fatal para o PS. Quando a falta de estofo vitimou Seguro ainda sobrava Costa, que ainda por cima parecia ter disso para dar e para vender. Agora não sobra ninguém!
As coisas já não estavam fáceis. As dificuldades do PS já seriam enormes, como se vê pelo que tem acontecido com os seus congéneres da Internacional Socialista, todos eleitoralmente dizimados pela sua conivência com os desastres neo-liberais. Com consciência disso, António Costa, em vez de assumir o quadrado ou o círculo, optou por tentar a quadratura do círculo. Não o conseguiu, como ninguém conseguiu, nem conseguirá!
Quando, na mesma semana, António Costa diz que não faz propostas porque tudo depende depois de Bruxelas e de Berlim, que o país está melhor ao fim destes quatro anos e elogia o investimento chinês, o paradigma da política de investimento deste governo, que se limitou a entregar ao estado chinês as maiores empresas monopolistas do nosso país e a vender casas a cidadãos chineses a troco de vistos e corrupção, não assinou apenas a sua sentença de morte política. Retirou também de vez a esperança a milhões de portugueses!
O estatuto especial de Hong Kong, desenhado pelas autoridades inglesas e chinesas no quadro da devolução daquele território à soberania chinesa está, desassete anos depois, aparentemente esgotado. A população quer mais, quer escolher os seus governantes sem qualquer tipo de condicionalismo. Quer democracia, mesmo a sério, e por isso está há muitos dias na rua...
Por enquanto o movimento atravessa a sua fase romântica. Já conhecida por revolução dos chapéus (arma de defesa contra o gás lacrimogénio), a emergência da liderança de um rapaz de 17 anos - Joshua Wong - acentua-lhe o romantismo. Mas não deixa de colocar a China perante uma encruzilhada em que reprimir os protestos, seguindo a sua matriz natural, será pôr tudo em causa; mas também acolher as reivindicações do território, poderá pôr tudo em causa.
E tudo é mesmo tudo. Desde logo aquela base programática de um país e dois regimes em que a China pretende sustentar a sua condição de superpotência!
Para já o regime parece apostar no tempo, confiando que o tempo se encarregue de vencer, pelo cansaço, os protestos. As notícias de hoje dão conta de confrontos entre manifestantes e opositores, provavelmente induzidos e provocados, justamente para acelerar o poder do tempo.
Não vão gostar… É certo que já não temos mais EDP´s nem REN´s para lhes vender mas ainda temos muitos vistos gold para lhes entregar. E não é com vinagre que se apanham moscas!
Quero crer que o governo está atento, e que tudo vai fazer para resolver isto...
Diz-se que todos temos uma criança dentro de nós. Uns mais vezes que outros, não conseguimos deixar de soltar a criança que os anos nunca nos fizeram largar. Os psicólogos explicarão isto muito bem; eu, certamente que não. Limito-me por isso a dizer que isso é normal e até saudável, e que não é isso que faz de nós mais ou menos adultos, mais ou menos responsáveis.
O que nos distingue uns dos outros é a oportunidade em que deixamos que isso aconteça. É o momento que cada um escolhe para soltar a criança que tem lá dentro, e a frequência com que o faz, que revela a maturidade e o sentido de responsabilidade de cada um e que, em última análise, projecta a sua respeitabilidade e a sua credibilidade.
Sabemos que há adultos que nunca cresceram – e não me refiro, evidentemente, aos casos de patologia física ou psíquica - que são eternamente crianças. Não dão descanso à criança que têm lá dentro, de tal maneira que nunca recolhe, está sempre cá fora.
Não dão tréguas à traquinice, e passam todo o tempo em brincadeiras e jogos e joguetes tão mais sofisticados quanto mais desenvolvida seja a mente adulta prisioneira e refém da criança que deixam permanentemente à solta.
Quando pensamos nisto lembramo-nos imediatamente de dois nomes. Aí estão eles já na sua cabeça, amigo(a) leitor(a). Exactamente: Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo Portas!
São pessoas divertidas, às vezes mesmo entusiasmantes, que quase conseguem que os levemos a sério. No entanto, pensando bem, ninguém lhe compraria um carro usado…
Marcelo Rebelo de Sousa, que nunca chegou ao poder – tentou a Câmara Municipal de Lisboa, mas na altura Jorge Sampaio não lho permitiu e, depois, quando Cristo veio à terra para lhe entregar a liderança do seu partido, com o pote ali tão à mão, foi curiosamente uma traquinice do menino Portas que lhe tirou o pão da boca para o colocar na de Durão Barroso – já só pensa nas presidenciais que já se começam a avistar. Ainda não deverá ser desta, mas a televisão faz presidentes…
Paulo Portas, mesmo sem nunca atingir grande expressão eleitoral – quer dizer, mesmo sem nunca ter conseguido vender o carro – já por duas vezes, mercê da nossa geografia eleitoral, chegou ao poder. Chegou ao quarto dos brinquedos de sonho e conseguiu mesmo, desta vez, depois de uma mistura de brincadeiras e joguetes com algumas birras pelo meio, apoderar-se sozinho de tudo o que era brinquedo.
E é vê-lo brincar. Brincar perdidamente… Dá gosto, só de ver. Brincou como se não houvesse amanhã com todos nós com o tal Guião da Reforma do Estado. Quando pensávamos que estaria exausto, cansado de tanta brincadeira, ei-lo de partida para a China para dar pessoalmente aos donos da EDP os esclarecimentos que eles tinham pedido por carta, explicando-lhes que aquilo do novo imposto sobre a energia (que os Catrogas e os Mexias nos farão a nós pagar) não é nada, comparado com o que ganharão com a redução do IRC. Para disfarçar a brincadeira, para que se não pensasse que só tinha ido dar explicações aos homens da Three Gorges, agendou mais umas brincadeiras para Macau. A uma delas chegou com duas horas de atraso, coisa que, pese a sua mítica paciência, os chineses tomam por ofensa e falta de consideração. Foram embora antes que Portas chegasse e, como se nada fosse, sem desculpas a pedir a ninguém, começasse a ler para uma plateia de portugueses um discurso destinado a empresários chineses. Que já lá não estavam, sem paciência para o aturar!