Cavaco avançou com o perfil dos candidatos e logo foi entalado pelos candidatos ao perfil.
Agora, para levar a sua água ao seu moinho, vai ter que acrescentar mais qualquer coisa. Se calhar ainda o vamos ouvir dizer que tem que se chamar José. E que o último nome deve ser Barroso…
Chamar os bois pelos nomes nunca foi coisa a que Cavaco nos habituasse. Mas como está de despedida… E já nem tem ponta de vergonha, não se incomoda nada de ser ele próprio a lançar quem monarquicamente escolheu para lhe assegurar a dinastia...
Cavaco estará a esta hora a condecorar Durão Barroso. Nada de especial, Cavaco é pródigo a distribuir comendas pelos seus, e só lamentará que muitos tenham borrado a pintura antes de ter tido oportunidade de lhes pôr o colar ao peito. Se calhar é mesmo por isso que Cavaco se apressou. É que ainda na sexta-feira Barroso estava em Bruxelas, a despedir-se da Comissão...
O que se torna difícil de perceber são os serviços de especial relevância para Portugal e para a Euopa com que Cavaco justifica a condecoração. Como é que o rosto que inundará a memória dos portugueses e dos europeus sempre que fale da maior crise do projecto europeu, pode ser condecorado por serviços de especial relevância aos portugueses e aos europeus?
É a segunda condecoração com o Grande Colar da Ordem do Infante D. Henrique, normalmente destinada a Chefes de Estado extrangeiros. A primeira fora concedida há uma dúzia de anos a Rocha Veira, o último governador de Macau. Hoje, sem surpresa, ligado aos interesses chineses no nosso país, e que ainda há pouco condenava as reivindicações de democracia em Hong Kong...
Durão Barroso revelou que Putin lhe tinha dito que, se quisesse, tomava Kiev em duas semanas, e deixou os líderes europeus de cabelos em pé. E foram reagindo, até que o Kremlin desmentisse e desse dois dias a Barroso para se retratar, sob pena de revelar integralmente a conversa. Acabou hoje o prazo, e o ainda presidente da Comissão Europeia, de rabinho entre as pernas, veio dizer que a declaração tinha sido tirada do contexto. E que tinha sido divulgada uma conversa privada, acusando terceiros, como fazem as crianças quando a coisa dá para o torto, do que tinha sido exactamente ele a fazer: nem mais nem menos que, de uma conversa privada, retirar uma expressão do seu contexto!
É um tipo deste calibre que presidiu à União Europeia nos últimos 10 anos. Como é que alguém se pode admirar do estado a que isto chegou?
Tanta Gente Extraordinária neste país... E de caracter!
Decorreu ontem na Gulbenkian, com a participação do ainda presidente Cavaco Silva, de todo o governo e de seis comissários europeus, o comício de lançamento oficial da campanha de Durão Barroso às presidenciais. Na imagem, o momento simbólico da passagem de testemunho, justamente quando Cavaco, depois do elogio ao candidato, lhe cede o seu lugar.
Bem pode ter sido um arranque em força. Mas bem pode também ter sido uma falsa partida... Bonito é que não foi, foi assim bem mais para o vergonhoso!
A entrevista deste fim-de-semana de Durão Barroso à SIC e ao Expresso traz-nos de volta a Porca da Política, de Rafael Bordalo Pinheiro.
Durão Barroso diz que, presidenciais, nem pensar. Fora de causa. Os barrosistas, que pé ante pé passaram de simples apoiantes de Passos a posições dominantes em boa parte do aparelho do partido, fazem coro: Durão Barroso deixou claro que não é nem quer ser candidato a Belém!
Quem parece não acreditar muito nisso é Marcelo. Ficou nervoso, e logo veio dizer que a entrevista era inoportuna e estranha. Que Durão Barroso deveria ter esperado pelo menos um ano, para dar uma entrevista como esta. Que estranhou, sobretudo, a avaliação que o presidente da Comissão Europeia faz de si próprio, e que se tinha alguma coisa a ver com a candidatura à Presidência da República, correu muito mal.
E faz muito bem, porque aquela linguagem não engana. Dizer agora que está farto de avisar o Pedro que há limites (lembra o outro, o avisador, quando também dizia que havia limites) quando ainda há dias dizia que agora é que se não podia abrandar, é gato escondido com rabo de fora. Se bem repararam nem o BPN escapou: quando era primeiro-ministro bem perguntou o Constâncio…
E se dúvidas ainda sobrassem lá está o apelo a um governo do bloco central, e ainda com o CDS, naturalmente liderado pelo PS, de Seguro. E, the last not the least, aquela ideia de que o presidente deveria ser eleito com o apoio daqueles três partidos!
Nem mais. Não dá ponto sem nó, como há muito se sabe. A partir das posições que já ocupa no aparelho partidário, e com Passos despachado pelos resultados eleitorais, Durão Barroso tem tudo para garantir o apoio ao PS para formar o próximo governo do bloco central. Claro que em troca só quer o apoio à sua candidatura... Então a única com condições de garantir o tal apoio dos três partidos do arco da governação…
Elementar, meu caro Marcelo. É a porca da política!
Durão Barroso não poupou em veemência ao declarar que “os tempos de soberania limitada acabaram na Europa”. Foi com grande convicção, e com a autoridade digna do que se diria ser um verdadeiro líder europeu, que Durão Barroso vincou a superioridade civilizacional da Europa e do seu projecto.
A Comissão Europeia advertiu o Tribunal Constitucional que “esta não é a altura certa para se envolver em activismos políticos”. É a Comissão Europeia, o órgão mais ilegítimo e anti-democrático da União Europeia, a imiscuir-se na política interna de um país membro, a violar um dos princípios da sua própria constituição e a promover a violação do princípio da separação de poderes num Estado de Direito, justamente o primeiro e fundamental requisito para a adesão.
São cidadãos portugueses que estão – não sei se em vão – a usar o nome da Comissão Europeia para ilegitimamente e de forma absolutamente intolerável pressionar o Tribunal Constitucional. Durão Barroso deu o exemplo, a ajudar-nos a lembrar da importância de ter um português ano topo da União Europeia. Como o exemplo veio de cima, os funcionários correm a imitá-lo.
Este podia chamar-se Miguel Vasconcelos, mas chama-se Luiz Pessoa e é o chefe da representação da Comissão Europeia em Portugal. E deveria evitar aproximar-se das janelas...