Esta Europa de Schauble que entende que os gregos votaram mal, já não pretende apenas sujeitar a Grécia à lei do mais forte, impondo-lhe a capitulação total. Quer mais, quer sujeitá-la à mais completa humilhação, para que fique a lição. Para que ninguém mais na Europa ouse votar mal. Para que não passe mais pela cabeça de um único europeu a ideia de votar fora da box, um simples passo para que ninguém mais ouse sequer questionar o poder desta direita de vistas curtas que manda na Europa.
Que é a mesma que, em violação dos mais velhos, sagrados e elementares princípios da União, acolhe um país com um governo como o húngaro. E a mesma que foi meter o bedelho na Ucrânia, e destruir o equilíbrio democrático baseado na alternância pacífica das duas grandes linhas de força da realidade social do país. Com as consequências que já se conhecem, e com as que ainda estão para vir…
O ministro das finanças, Varousakis, escrevia ontem no New York Times, em jeito de grito de desespero que seja ouvido pelo mundo fora, que o governo grego tem como única opção “… apresentar honestamente os factos da economia social grega, apresentar as nossas propostas para que a Grécia volte a crescer, explicando os motivos pelos quais elas são do interesse da Europa, e revelar as linhas vermelhas que a lógica e o dever nos impedem de ultrapassar”. E que a grande diferença entre este governo grego e o anterior está na determinação para “combater interesses, para dar um novo impulso à Grécia e conquistar a confiança dos nossos parceiros” sem “ser tratados como uma colónia da dívida que deve sofrer aquilo que for necessário”.
Nesta sua nova cruzada, esta direita europeia de vistas curtas nega a este governo grego tempo – pouco, seis meses apenas – para implementar as reformas que está determinado a fazer para atacar os interesses instalados que há muito bloqueiam a sociedade grega. E que os governos que o antecederam – esses sim, bons, responsáveis e bem escolhidos, pelo que se percebe das palavras de Schauble – deixaram intocáveis, enquanto aplicavam as suas receitas. Que em vez de resolverem, agravaram. Que já levaram ao perdão metade de dívida… Mas que em nome de um radicalismo que cega quer perpetuar, indiferente às consequências. Sem preocupação com o que vem a seguir. Seja Aurora Dourada na Grécia, ou Frente Nacional em França!
Numa altura em que a questão da Grécia divide – artificialmente, diria eu – a opinião pública europeia com, de um lado, os que perceberam e reconhecem que a política económica imposta pela Alemanha falhou em toda a linha e, do outro os que, tendo-o igualmente percebido, se recusam pelas mais diversas razões a reconhecê-lo, Vítor Bento, cavaquista inveterado e esteio ideológico do governo português, publicou no insuspeito Observador um interessante artigo que não poderia ser mais oportuno.
Vítor Bento foi sempre, mais que um apoiante desta política económica, uma espécie de reserva moral do governo (e do presidente da república). O homem que lhe emprestava alguma seriedade e alguma respeitabilidade, e com isso alguma autoridade. A Passos Coelho e Paulo Portas não é possível reconhecer grande competência. São – um mais que outro, mas para o caso pouco importa – de seriedade duvidosa, e sua respeitabilidade é engolida pela pantominice. São pessoas como Vítor Bento que vêm por trás disfarçar isso tudo…
É este mesmo Vítor Bento que vem agora explicar, como poucos ainda terão explicado, como tudo estava errado e como deu, como só poderia ter dado, errado. Analisou os últimos seis anos (2008 a 2014) em três blocos económicos distintos: Estados Unidos (EUA), União Económica e Monetária (UEM - zona Euro) e União Europeia sem euro (UE), para concluir que só na UEM o PIB caiu, que na UEM o desemprego cresceu cerca do dobro e que só as contas externas, mas na UEM à custa disso, tiveram idêntico desempenho. Sendo que a crise financeira teve um efeito mundial, e que nada neste três blocos os distingue mais que a receita seguida, os resultados não podem ter outra causa que justamente a política económica seguida. Detalhou a zona euro e dividindo-a entre países excedentários (Alemanha, Áustria, Bélgica, Luxemburgo, Holanda e Finlândia) e deficitários, concluiu que o que o ajustamento (desemprego, e quebra de salários para compensar o efeito cambial) retirou aos países deficitários entregou aos excedentários, que reforçaram a sua competitividade.
Conclui ainda Vítor Bento que “… a assimetria do ajustamento é o resultado da divergência entre as também assimétricas distribuições dos custos e do poder de decisão” e que “só reequilibrando a segunda se conseguirá reequilibrar a primeira”. Que de outra forma a zona euro continuará estagnada por muito mais tempo…E que o tratado orçamental é mais disto mesmo...
É também disto que os dois agitadores do governo grego começam a convencer cada vez mais gente. E que Merkel e Schauble não querem ouvir. Nem Rajoy, nem Passos Coelho… Mas desses já sabemos por quê!
Não deixa de ser estranho que Vítor Bento só agora tenha percebido tudo isto. Se calhar tem alguma coisa a ver com a sua passagem pelo BES… Quero eu dizer ... só depois de de lá sair é que ficou com algum tempo para estudar estas coisas!
"Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades"? Não acredito... Isso são coisas do povo!
Passos Coelho não cumprimentou o seu homólogo grego na reunião de hoje do Conselho Europeu. Questionado - foi logo a primeira questão que lhe foi colocada na conferência de imprensa - a esse propósito, respondeu que foi por falta de oportunidade que o não cumprimentou, o que revela a sua enorme cara de pau. Depois disse que novas oportunidades para o cumprimentar não haverão de faltar e seguiu desenfreadamente para um discurso decalcado do de Cavaco Silva, ontem.
Portugal forma hoje com a Espanha e a Alemanha um autêntico comboio dos duros. O núcleo duro da União Europeia que defende a ortodoxia austeritária na Europa, e que sustenta a inflexibilidade e o radicalismo perante as posições da Grécia.
Quem diria? A Alemanha acompanhada precisamente por dois dos PIGS... Metade dos países do Sul aliados á Alemanha contra os países do Sul...
Há aqui qualquer coisa que não bate certo!
A posição da Alemanha percebe-se: é mentor dessa política, e autor dos programas para a sua implementação, e tem por isso mais dificuldade em assumir o erro. Acresce que ganhou muito com o actual estado de coisas, e tem interesses de curto prazo no status quo!
As posições de Portugal e da Espanha só podem ser percebidas à luz dos interesses eleitorais dos partidos no poder. Não há, nem pode haver outros interesses. Têm ambos eleiçoes este ano e, em Portugal, Passos Coelho e Portas sabem que só podem aspirar a ganhá-las mantendo-se firmes na defesa de todo o mal que fizeram. Para defender os seus interesses particulares não podem agora negar tudo o que fizeram durante estes quatro anos, e colocar-se ao lado do que são hoje os interesses do país e da Europa. Em Espanha a situação é ligeiramente diferente, se bem que resulte exactamente no mesmo. Em Espanha é a afinidade do Podemos - já á frente nas sondagens - com o Syriza que leva Rajoy a tudo fazer para empurrar a Grécia para fora do euro. Derrotando o governo grego, derrotando o Syriza, Rajoy acredita que derrota o Podemos e que mantém o poder!
Hoje, umas dezenas de personalidades, de todos os quadrantes políticos, subscrevem uma carta aberta onde apelam a Passos Coelho que mude de posição. Cairá em saco roto, Passos não ouve nem vê para além do seu umbigo. A sua posição já mudou o que tinha a mudar: mudou da inicial história para crianças para o cinismo do recente queremos tudo o que for dado à Grécia. Não que pretenda seguir as posições do governo grego, mas apenas porque acredita que essa é a melhor forma de as inviabilizar, e de também ajudar a expulsar a Grécia da Europa.
Juntando-lhe as lamentáveis - para não dizer nojentas - declarações de ontem de Cavaco Silva. é caso para dizer que nunca tivemos tantas razões para ter vergonha de quem elegemos. Se este velho sonho da direita (uma maioria, um governo e um presidente) era para chegar a isto, bem podem limpar as mãos à parede!
A Alemanha expulsou a Grécia do Euro. Ameaçou com uma expulsão violenta, mas acabou por ser uma saída controlada!
A posição da Grécia foi sempre difícil, desde cedo se percebeu que só um milagre poderia evitar o que estava dado como certo. Samaras - este - ainda deu alguma esperança aos gregos, coisa em que o outro terá mais dificuldades. Mas foi uma esperança efémera, porque já não há milagres!
Merkel – essa – lá estava. Não sei se na qualidade de amante de futebol se na de carrasco dos gregos. As imagens que dela as televisões nos trouxeram não deram para esclarecer. Não tinham as repetições suficientes, nem passaram em slow motion. Ordens da UEFA, certamente. Há dúvidas que não gostam de esclarecer!
Claro que este era mais que um jogo. Mas era acima de tudo um jogo de futebol, e acabou por não ser nada mais que isso. À parte a senhora Merkel e o destino, que quis que o golo do empate – e da esperança, curta mas nem por isso menos esperança – tivesse o nome do novíssimo – mas velho conhecido – primeiro-ministro grego, tudo não passou de um jogo de futebol, em que um que teria de ganhar e outro de perder. Não havia três resultados possíveis, não podia haver empate: um seguiria para as meias-finais, onde Portugal está sentado num confortável cadeirão a ver o que se passa volta, e outra para casa. Mesmo que essa fique na Grécia!
O seleccionador alemão surpreendeu ao apresentar toda uma frente de ataque nova, deixando no banco os famosos Mário Gomez, Muller e Podolsky, que nem chegaria a entrar. Para estrear o velho Klose e dois promissores miúdos: Reus e Schurrle.
Excesso de confiança ou estratégia? Se calhar nem uma coisa nem outra: apenas excesso de opções. Ou, se calhar, todas juntas!
Do outro lado, Fernando Santos não tinha problemas desses. Bastava-lhe o de não ter Karagounis, que não era pequeno!
O jogo começou e a Alemanha não perdeu tempo a dizer ao que vinha. Estava ali para fazer o serviço – quer dizer, despachar os gregos – e, à boa maneira alemã, foi-se a isso!
Foi para cima dos gregos, encostou-os lá atrás – o que nem lhes exigiu grande esforço, porque eles também não estavam muito dispostos a sair de lá – e cedo as oportunidades de golo começaram a surgir. Mas o tempo ia passando, e de golos só havia o cheiro. Veja-se só: em apenas dois minutos - do 23 ao 25 – a Alemanha construiu quatro oportunidades de golo. No entanto, e como a Senhora Merkel ainda não tinha aparecido com toda a sua exuberância, a festa era dos gregos. Parecia que no estádio havia muito mais gregos que alemães, percebia-se pela festa, mas mais ainda pelos assobios. Estava-se nisto quando, aos 39 minutos, Lahm marcou o golo que há muito estava anunciado. A equipa grega estava metida dentro da sua grande área e esqueceu-se que os alemães sabem que, quando assim é, remata-se de fora. Pareceu um grande golo. O remate até foi bom, mas beneficiou de um desvio num defesa, que talvez tenha impedido o guarda-redes Sifakis – que não tem nada a ver com aquele Nikolaidis que nos fez a vida negra em 2004 -, que ainda tocou na bola, de evitar o golo. Até ao intervalo – em que os alemães tiveram 70% de posse de bola, 13 remates contra 2 da Grécia e cinco cantos, contra nenhum (a Grécia apenas beneficiou de um em todo o jogo) - apenas e ainda mais uma oportunidade de golo para a Alemanha, num grande remate de Schurrle.
E ao intervalo Fernando Santos fez aquilo a que já nos habituou: mexeu na equipa como só ele sabe. Fez duas substituições, mudou mais outras tantas peças e surgiu uma Grécia diferente. Não era a primeira vez!
E o golo do empate – o tal da esperança de Samaras – surgiu logo aos 10 minutos. Obra de Salpingidis – o mais excitante jogador grego, embora não seja o mais influente – que fugiu pela direita para cruzar para o golo. Quando parecia que o relógio andara para trás e que o jogo regressara à primeira parte, Khedira, pouco mais de cinco minutos depois, desfez o sonho grego com o que seria um grande golo, se porventura um golo com a canela pudesse ser isso. A Grécia ainda esboçou uma reacção nos 5 minutos seguintes – aconteceu então o único canto a favor – mas não passou disso. De um esboço!
Porque, logo a seguir, o velho Klose fez aquilo que há muito sabe fazer: não perdoar erros aos guarda-redes. Mais 5 minutos e seria o miúdo Reus a molhar também a sopa, fazendo o 4-1 que atiraria violentamente com a Grécia para fora do Euro. Valeu o penalti, já no fim – aos 88 minutos – que permitiu a Salpingidis suavizar um bocadinho o empurrão violento dos alemães!
Teria sido bonito umas meias-finais integralmente PIGS…
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