2016 está absolutamente insaciável, e disposto a continuar levar-nos os nomes maiores da música dos nossos tempos.
Acaba de nos levar mais um dos maiores de todos. Leonard Cohen não era só um grande cantor, de estilo único. Nem apenas um grande compositor. Nem tão só o melhor escritor de canções. Era tudo junto, mas era ainda um grande escritor e um enorme poeta!
Judeu, como o próprio nome deixa perceber, tornou-se budista. A dimensão espiritual que introduziu na sua vida e a intensidade amorosa com que a viveu, constituem a marca da sua arte. Foi homem de muitas mulheres e de muitos amores, que lhe marcaram também as canções: "Chelsea Hotel No. 2" foi escrita para uma delas - a mítica Janis Joplin; "So Long, Marianne", para outra - a norueguesa Marianne Ihlen, recentemente falecida (em Julho), a quem declarou "amor sem fim".
Há pessoas que achamos que nunca morrem. E se calhar não morrem mesmo: Mário Moniz Pereira era uma delas. Mas dizem que morreu...
Dizem que morreu o Senhor Atletismo. Claro que é a referência do Atletismo mas, além de atleta, foi também praticante de andebol, basquetebol, futebol, hóquei em patins, ténis de mesa e voleibol. E foi treinador e professor. E músico. E poeta...
Não, não morreu o Senhor Atletismo. Morreu um grande Senhor!
Lembro-me como mandava naquela ala direita, num vai-vem diabólico. Como dava tudo em campo, como poucos. Como ninguém mais, naquela raça inesgotável, na entrega que punha na defesa da gloriosa camisola vermelha. Era um símbolo. Era a mística encarnada num corpo franzino que chegava para tudo.
Num certo dia, corria o Verão quente de 1977, alguém entendeu que tudo aquilo era pouco. Sentiu-se empurrado para fora do seu clube de nascença, e partiu. Para o rival, porque é sempre assim...
Lembro-me como me doeu. E como me doeu mais a ingratidão do meu clube que propriamente a sua saída para o rival. Não havia nada para lhe perdoar e havia tudo para não perdoar aos que o empurraram para fora da sua casa de sempre. Aos 27 anos, no apogeu!
A vida caprichou em desalinhar dos sentimentos dos benfiquistas, como que não quisesse perdoar-lhe o que todos nós perdoávamos. E cedo lhe começou a trocar as voltas, não mais o deixando em paz. Até hoje. Aos 66 anos.
O Benfica, sempre muito maior que as pessoas e as conjunturas, por muito grandes que alguns se achem, ou tenham achado, pediu-lhe desculpa. Envergonhadamente...
A oportunidade, e uma ingrata actualidade, leva-me hoje por um caminho diferente. Não podia passar sem um pequeno apontamento de pesar pelo desaparecimento de um dos melhores de nós. Alcobaça acaba de perder um dos seus melhores: Timóteo de Matos.
Um profissional de corpo inteiro, um dirigente desportivo ímpar, um homem de letras e de cultura mas, acima de tudo, um espírito livre e um homem bom.
Um apaixonado do ciclismo, onde cultivou amizades como só ele sabia cultivar. Foi a cara do ciclismo em Alcobaça – que me perdoe o meu bom amigo Fernando Vieira, certamente o primeiro a subscrever esta minha afirmação – e a cara de Alcobaça no ciclismo.
Não foi apenas um profissional respeitado pelos seus pares. Foi um profissional notável, ao mais alto nível. E um cidadão exemplar. Exigente, crítico e digno. Com a dignidade dos Homens de H, a que a terrível doença - a que resistiu como ninguém - só deu maior dimensão!
“Um homem da cidadania, da família, da tertúlia e dos amigos, que gosta da vida e de quem a vida gosta”, como um dia escrevi. Que gostava da vida, e de quem a vida gostou. Que nada temia, excepto as palavras, como escreveu ele, também. Um Homem que deixa em Alcobaça um enorme vazio. E muita saudade, a cuja memória me curvo respeitosamente.
Mais que uma lenda do futebol, foi quem provavelmente mais contribui para o que é hoje este grande espectáculo, que não do negócio, do qual - curiosamente - se demarcou como poucos. Primeiro, como jogador único, dos poucos com lugar reservado no Olimpo. Do restrito número dos três ou quatro que poderão ser apontados como os melhores de sempre. Depois, como mestre do futebol. Cruiff não foi um treinador, embora tenha sido como treinador que inventou o actual Barcelona. O seu Barcelona. Foi um mestre que pintou futebol e que espalhou a sua arte pelo mundo!
Mas foi ainda um mestre que, mais que saber, acrescentou mundo ao futebol, rompendo com todos os estereotipos que o apequenavam. Sempre irreverente. Sempre altivo. Sempre vertical, a nada se dobrando.
E nisto não há quatro, nem três, nem dois que se lhe equiparem. Nisto, Cruyff foi único. É único!
Recusou-se a jogar o Mundial de 1978, na Argentina, para denunciar a sanguinária e terrorista ditadura militar, e dizer bem alto não à farsa da FIFA ao serviço da propaganda dos generais da Junta Militar, como sempre se recusou a curvar perante os interesses. Fossem eles quais fossem!
A imagem que fica de Nicolau Breynar é a de um hino á vida. De um homem que viveu muito, que viveu tudo e que viveu como quis: Feliz e Contente!
Para viver tanto, terá provavelmente abdicado de muito do que o seu talento enorme lhe prometia. Ter-nos-á privado - a nós - de muito do seu talento para se não se privar - a ele - de tudo o que queria da vida. E isso não está ao alcance de todos. São poucos os que são capazes de fazer essa escolha, e são menos ainda os que, depois de a fazerem, têm ainda tanto para nos deixar...
O Nicolau Breyner viveu como quis. Não sei, mas fico com a ideia que também morreu como quis. Quem vive assim, quer morrer assim!
Morreu Almeida Santos. Ontem, ao final do dia, já perto da meia-noite...
Ainda na véspera o tínhamos visto, vigoroso, num comício de apoio a Maria de Belém. Na véspera tínhamo-nos - se não todos, a grande maioria de todos nós - emocionado com a participação de João Semedo, também num comício de campanha eleitoral, mas agora de apoio a Marisa Matias...
Coisas da vida: a morte é mesmo assim. Dissimulada!
Dois dias apenas depois de lançar "Blackstar" - o seu último album, extarordinário como sempre e mais surpreendente que nunca - justamente no dia que assinalava os seus 69 anos de vida David Bowie surpreendeu-nos com a morte.
Não se esperava. Ninguém esperava... Depois da surpresa de sexta-feira - o Blackstar é, pelo jazz, mas também por uma voz mais aveludada que nunca, todo ele uma surpresa - ninguém esperaria esta outra, logo a seguir.
Até na morte, Bowie foi camaleão. O homem das mil faces que o mundo não esquecerá.
Rezam as notícias que morreu durante a noite, enquanto dormia... Morreu durante o sono, tranquilamente como merecia. A lenda, essa não morre. O Rapaz dos Blues, o Rei dos Rapazes dos Blues...
Há pessoas que ao passar pela política lhe emprestam nobreza e lhe dão dignidade. Há pessoas que ao passar pela política a deixam mais rica. Há pessoas capazes de dar à política o que a grande maioria lhe tira... Mariano gago, o político da Ciência, era uma dessas pessoas. E não é por ter morrido!
Não sei se foi por isso que foi o ministro que mais tempo foi ministro no pós 25 de Abril. Mas se calhar foi por isso que nem se deu por isso...
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