Fica hoje concluída a remodelação do governo, com a tomada de posse de quinze secretários de Estado. Entre eles, João Galamba, a estrela da companhia, com a pasta da energia. Mesmo quando a companhia inclui Raquel Duarte Bessa, na Saúde, que recentemente se demitiu do Hospital de Gaia, em protesto contra a falta de condições no SNS. Ou João Correia Neves, na Economia, que foi chefe de gabinete de Manuel Pinho, quando este por lá passou em part-time, no governo de Sócrates, dividido entre o ministério, a EDP e Ricardo Salgado, como agora se sabe.
Vir-lhe-á o estrelato da pasta da energia?
Provavelmente, não. Estrela rima com energia, como se sabe, ou não fossem justamente as estrelas as mais poderosas fontes de energia. Mas, em Portugal, energia quer simplesmente dizer EDP, China Tree Gorges e, agora também, Paul Singer, especulador americano da Elliott Management Corporation, acabado de chegar e de se tornar no 2º patrão da energia em Portugal... E rendas e cmecs...
E tanto quanto se sabe, Galamba não percebe muito disso.
Arriscaria que a sua fama vem de trás. E que, se calhar, tem a ver com a sua exposição na máquina da propaganda de Sócrates, circunstância que depressa o transformou num belo exemplar daquilo a que alguns gostam de chamar tralha socialista. Que depois reforçou quando o renegou que nem Pedro, e sem que o galo cantasse.
Não faço ideia se António Costa quis aproveitar o Leslie para tão grande grande remodelação no governo. Nem se os ministros deitados fora pelamadrugada, já coheciam do seu destino ao fim da noite por que se prolongou o sábado de trabalho nos últimos retoques no Orçamento. O que sei é que o primeiro-ministro é especialista em dar a volta às coisas, faz isso bem, mesmo que nem sempre depressa. Mas isso, depressa e bem...
O ministro da economia não se soltava, mantinha-se preso, acanhado. Do da cultura, nem falar... O da saúde estava de rastos, e o da defesa já tinha ido, pelo seu próprio pé. Antecipando-se ele próprio, e obrigando também António Costa a antecipar-se...
O Bloco e o PC andavam numa roda viva a dar notícias do orçamento. As suas notícias... As notícias das sua pequenas vitórias: livros gratuitos até ao 12º ano, dizia um, num dia; redução das propinas, dizia o outro, noutro. Ao aumento extraordinário das pensões, respondia o outro com a despenalização da antecipação das reformas nas carreiras contributivas com 40 anos. E por aí fora...
Era mais ou menos neste pé que as coisas estavam, quando se anunciava que o Leslie entraria por Lisboa e levaria tudo à frente. Nada melhor que remodelar o governo, e ... não se fala mais nisso - terá António Costa pensado. E nada melhor que reforçar o seu círculo mais apertado, porque o que aí vêm eleições, umas atrás das outras. Nem que para isso tenha de mexer na própria orgânica do governo: se Pedro Siza Vieira, agora também na economia, tem alguns conflitos de interesses com o sector energético - leia-se EDP e China Three Gorges - nada como passar a energia para a tutela do ambiente.
Tudo sem uma palavra aos parceiros de geringonça. Bem feito! Pelos vistos, não podem saber de nada...
... António Costa disse, inesperadamente, a um ano do fim do jogo, que não estava a ganhar. Quatro, que são cinco, é muita substiuição. É muita mexida para quem acreditasse que estava a ganhar... Parece que, afinal, o Leslie passou mesmo por Lisboa!
A tragédia que voltou a abater-se sobre o país, no domingo e na segunda-feira passados, acrescentando mais 43 mortes às 64 ou 65 de Pedrogão, quatro meses antes, destruindo o que faltava destruir da nossa floresta, incluindo agora o nosso Pinhal do Rei, aperta-nos o coração, mas também nos enche de revolta e de vergonha.
E mudou a face do país. Literalmente, porque toda aquela vasta mancha verde é agora negra. Porque o verde da esperança que renascia, se transformou num negro profundo de incertezas e dúvidas. No tal tão anunciado diabo, que de repente virou do avesso a situação política do país.
A dimensão da tragédia, pondo a nu fragilidades, se não desconhecidas pelo menos esquecidas, e confrontando os cidadãos com a incapacidade do Estado para os proteger, era já suficiente para romper com a confiança dos cidadãos no Estado e nas suas instituições. Que, como se sabe, é o mais forte cimento da estabilidade social e política. A forma desastrada como o primeiro-ministro (e deixemos de lado a já ex-Ministra e o Secretário de Estado da Administração Interna), lidou com a tragédia dinamitou completamente a sua relação com o país.
António Costa é invariavelmente apresentado como o mais hábil e experimentado líder político da actualidade. Percebemos hoje melhor o que isso quer dizer. Percebemos que corresponde a um estereótipo à medida do entendimento que nos querem impingir do que é a política.
A sua desastrada reacção - desastre que a intervenção do Presidente da República acelerou em progressão geométrica - foi o melhor exemplo disso mesmo. Afinal, a ideia que António Costa transmitiu foi que reduziu a dimensão da tragédia a uma maçada que atrapalhou o que estava a correr tão bem.
O que se seguiu não foi melhor. Na substituição da ministra finalmente demissionária, António Costa não procurou competência para a mais sensível e a mais destroçada pasta política do seu governo. Procurou amigos, e procurou lealdade!
Ora, isto é a animalidade da política em todo o seu esplendor!
O material roubado de Tancos apareceu. Tão - ou mais - misteriosamente como havia desaparecido, há perto de 4 meses...
A Lone Star, o tal fundo imobiliário a que alguns chamam de abutre, já ficou com o Novo Banco. Correu tudo bem mas, misteriosamente, Bruxelas autorizou o Estado português a responder às necessidades de capitalização que se vierem a colocar ao Banco... da Lone Star.
O primeiro-ministro já substituiu a ministra da administração interna. Depois do que se passou, esperava-se que António Costa reforçasse o governo com alguém com competência e provas dadas nas matérias da mais fragilizada pasta do executivo. Misteriosamente, em vez de reforçar o governo em competência, António Costa reforçou-o em amiguismo e lealdade pessoal
Não há dúvida - Portugal é um país cheio de mistérios. Talvez dê um bom slogan de promoção turística, mas parece-me pouco original!
Chama-se Anabela Rodrigues e é a nova ministra da administração interna. Se não é uma mulher de armas, irá passar a ser. Queira ou não, possa ou não...
Não tem peso político?
Mas...onde é que há disso?
Haver, até pode haver... A mão de Passos Coelho é que não chega lá!
Ainda ontem entrou aquela gente toda no governo, e já hoje há gente de saída. Não havia necessidade: Pires de Lima, o novo ministro que anunciam como milagreiro, bem podia ter evitado isto, tanto foi o tempo em que foi ministro em stand by... Podia tê-lo logo mandado com o Álvaro, que tanto, mas também tão cinicamente, elogiou à saída da tomada de posse.
À falta de outras políticas, o governo especializou-se na política selectiva de currículos. Pena é que o BPN não desapareça das nossas vidas tão facilmente como desaparece dos currículos!
Não deixa de ser curioso que o governo seja tão determinado em apagar o BPN da nossa memória colectiva como em pagar tudo o que dele reste. Apaga-o dos currículos, mas não das facturas que nos apresenta todos os dias!
Fora isso, ninguém percebe o que é que Rui Machete faz no governo. Menos ainda no Ministério dos Negócios Estrangeiros…
O governo - de que Cavaco passou de refém a tutor – “com garantias reforçadas de coesão e solidez”, onde Portas passa a coordenar a ministra que, de forma nenhuma, queria no governo, sem que se “sobreponha às suas competências próprias”, que “continua em funções”, aguarda posse.
Não. Não há confusão nenhuma, isto é um governo coeso e sólido, claramente capaz para mudar a agulha da governação... Isto é a estabilidade, não é incerteza. É disto que os mercados gostam!
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