À conta da pouca vergonha
Já nada falta acontecer ao Benfica nesta malfadada época, e nesta Liga manhosa. Hoje era finalmente a altura do Benfica da era Veríssimo alcançar a primeira sucessão de três jogos a ganhar. A ninguém passaria pela cabeça que não fosse desta, com o Vizela, na Luz. Mas não foi!
Começou cedo a desenhar-se este insucesso. Logo no início do jogo, quando Taarabt ... foi Taarabt. Uma besta, como é tantas vezes. E deixou a equipa a disputar todo o jogo com menos um jogador. Aquelas perdas de bola, sempre da mesma maneira, ou acabam em golo para o adversário, ou acabam em amarelos e vermelhos. E nem se fala do jogo de braços, que geralmente não acaba em nada de muito diferente, porque nem teve tempo para isso.
Desta vez aconteceu logo aos 5 minutos de jogo. O árbitro - Manuel Oliveira - sancionou com amarelo. O VAR - André Narciso - achou que aquilo era para vermelho. Teve razão, perdeu-a toda ao longo do jogo, mas naquele momento teve-a. Perdeu-a quando, mais tarde, não viu uma entrada exactamente igual sobre o Rafa. Quando não viu dois penáltis sobre o Darwin. E quando não viu um defesa do Vizela a tirar a bola com a mão da cabeça de Vertonghen, dentro da área. E lá começou o jogo de 11 contra 10.
O Benfica, com 10 jogadores, tem a obrigação de ganhar ao Vizela, com 11? Tem, claro que sim. E acabou a prová-lo. Porque esteve mais próximo de ganhar este jogo do que de esteve de ganhar qualquer dos últimos que não ganhou na Luz, em igualdade numérica com o adversário. E, mesmo que com diversos roubos de igreja, bem menos que os três desta noite.
Mas, à excepção dos últimos vinte minutos do jogo, nunca foi claro que a equipa tivesse estratégia e alma para tanto. Durante a primeira parte, mesmo assim, o Benfica foi superior ao Vizela, e podia ter chegado ao intervalo em vantagem, se tivesse aproveitado as duas claras oportunidades de golo que criou.
A segunda parte começou com mais uma oportunidade de golo para o Benfica. Mas também com duas substituições no Vizela à procura de soluções que lhe potenciassem a superioridade numérica de jogadores em campo, que não tinha sabido aproveitar. E durante perto de 20 minutos aproveitou-a para tomar conta do jogo. Durante esse período questionou-se se o Benfica tinha a alma e raça sempre necessárias para ganhar jogos, e imprescindíveis para os ganhar com menos um jogador. De tal forma que o golo do Vizela pareceu apenas uma questão de tempo. E foi. Chegou aos 65 minutos, e não foi surpresa nenhuma. Surpresa foi a forma como o Benfica reagiu ao golo, então sim, com raça e alma, muita dela vinda das bancadas. Que veio também do banco, com Nelson Veríssimo desta vez a acertar nas substituições. Primeiro com a substituição do - mais uma vez - nulo Diogo Gonçalves por Meité, finalmente a dar o equilíbrio ao meio campo que faltava desde a expulsão Taarabt, mais de uma hora antes. E, mais decisiva ainda, ao tirar um defesa (Mourato, no lugar do poupado Otamendi) para meter mais um avançado - o miúdo Henrique Araújo.
Poucos minutos depois de entrar Meité atirou à barra (mais uma para a estatística da equipa com mais bolas nos ferros do campeonato). Antes, no minuto anterior, o tal desvio da bola da cabeça de Vertonghen com a mão, no terceiro penálti que nem Manuel Mota nem André Narciso quiseram ver. E a primeira vez que o miúdo tocou na bola foi para marcar o golo do empate.
A partir daí foi um autêntico festival de desperdício. Com defesas impossíveis do guarda-redes vizelense, com cortes sobre a linha de golo, ou por falta de discernimento para tomar as melhores decisões, em especial de Darwin, o mais afectado pelas incidências do jogo, se for isso que chamem a uma arbitragem tão escandalosa. E lá ficaram na Luz mais dois pontos. Mais dois à conta da pouca vergonha instalada no futebol em Portugal!
E fica ainda uma factura para Amesterdão. Deveria ser apresentada a Tarrabt, mas vai ser paga por todos na terça-feira.