A eficácia é um problema
Depois da derrota, da miserável exibição de Braga, e de uma semana de convulsão - pela derrota, pela exibição mas, acima de tudo, pelo terramoto com epicentro em Enzo Fernandez - o jogo desta noite, na Luz, com o Portimonense, em dia do nono aniversário da morte do nosso maior símbolo, era de importância máxima.
Os adeptos perceberam essa importância e não só compareceram em grande número - perto de 55 mil -, como apoiaram a equipa durante todo o jogo, mesmo que em alguns períodos da segunda parte tenham tido mais razões para manifestar descontentamento do que para outra coisa. Foi incondicional, o apoio dos adeptos. E precioso!
Pena que, neste dia - tanto quanto me apercebi, que não estive na Luz e apenas segui o jogo pela televisão - Eusébio não tivesse sido lembrado.
Ainda sem Neres - entrou para jogar os últimos 10 minutos, e notou-se logo a falta que faz -, inevitavelmente sem Enzo, e sem Rafa, a cumprir castigo por ter completado a série de 5 amarelos, houve novidades na equipa. A primeira foi a primeira titularidade de Draxler. Na esquerda, em vez de Aursnes que - segunda novidade - passou a desempenhar mais uma nova função, desta vez a fazer de Rafa, como segundo avançado, atrás de Gonçalo Ramos. A terceira foi menos novidade: Chiquinho já tinha sido titular, e até já tinha feito de Enzo nos jogos da Taça da Liga, mas não deixou de ser novidade vê-lo ao lado de Florentino, em detrimento do norueguês, a alternativa mais esperada e fiável para substituir Enzo, cada vez mais um caso perdido.
A equipa não foi o somatório de equívocos apresentados em Braga. Também não o poderia ser. E voltou a apresentar o futebol a que nos habituara. Sem grande inspiração, é certo. Mas também já tinha faltado em alguns dos últimos jogos, ainda "no período bom". Mas lá estiveram a pressão alta, a recuperação rápida da bola e a matriz básica das dinâmicas de jogo. E as coisas começaram a acontecer.
O golo surgiu cedo, num penálti do guarda-redes Nakamura sobre Gonçalo Ramos, que João Mário converteu. Mas não convenceu. Nem ficou convencido. O guarda-redes japonês, que defendeu tudo, ainda tocou na bola, que acabou desviada para o poste, e só daí para dentro da baliza. Só que, o que se esperava ser o primeiro de muitos, ficou único.
O Benfica manteve o ritmo de jogo e as oportunidades de golo a surgirem, umas atrás das outras. Uma dúzia, na primeira parte. A mais flagrante noutro penálti, desta vez de Klismahn sobre Bah. Como João Mário não tinha ficado convencido, passou a responsabilidade a Aursnes. E Nakamura defendeu. No canto que se seguiu, António Silva rematou à trave. O resto foi Gonçalo Ramos divorciado do golo, Florentino a rematar muito, mas sem acertar na baliza, Draxler a não rematar, e João Mário a não se enquadrar com bolas de golo.
O tempo ia passando e os remates iam-se sucedendo. Golos é que ... nada. Aproximava-se já o jogo do intervalo quando o árbitro Vítor Ferreira, a sinal do assistente, assinalou um inédito (ou muito perto disso) terceiro penálti a favor do Benfica num único jogo em Portugal. Que reverteu - e bem - depois de consultar as imagens, imagino que com alívio para o João Mário, que pegara logo na bola.
Na segunda parte a qualidade do jogo do Benfica caiu acentuadamente. O jogo passou a ser muito mais mastigado, mais previsível e mais lento. Estranhamente deixou de jogar pela ala esquerda, e com isso perdeu dois jogadores. Não perdeu muito de Draxler, porque o alemão continua a ser muito pouco. Mas perdeu Grimaldo, que na primeira parte fora o principal fornecedor de jogo. Tudo o que aconteceu passou-se na direita, como se o campo estivesse inclinado para aquele lado. Como se fosse uma ravina por onde ia caindo a qualidade do futebol da equipa.
O resultado acabava a deixar que o jogo passasse a estar de feição para o Portimonense. Tivesse a equipa de Paulo Sérgio mais qualidade, e não fosse, apesar de tudo, o acerto defensivo do Benfica, e tudo poderia ter acabado mal. Não aconteceu assim, o jogo acabou por estar sempre controlado e, no fim, as preocupações acabaram por se reduzir à eficácia. Um golo, em dezena e meia de oportunidades, é preocupante. Mesmo que os entendidos digam que, preocupante, é não criar oportunidades!
Não criar oportunidades, é um problema. Criá-las, mas não ter uma taxa de eficácia aceitável é outro. São dois problemas diferentes. E a diferença entre marcar e falhar golos tem muito a ver com a confiança, que é coisa que os jogadores têm de recuperar. Depressa!