A epidemia*
Na América, Trump refinou o que chama de tolerância zero contra os imigrantes ilegais, mesmo que para isso arrancasse crianças às famílias e as prendesse em jaulas, que uma senhora do seu governo, com a pasta da imprensa, comparou a campos de férias. No fundo, são campos de férias para as crianças, garantiu a senhora. Coisa que, rezam as crónicas, lhe valeu sérios incómodos num restaurante em que jantava um destes dias. Se é que é senhora para se deixar incomodar…
Sim, porque nesta administração Trump não há muita gente para se deixar impressionar por estas coisas, havendo até quem, perante hipóteses de comparação com os nazis, negue qualquer semelhança: na Alemanha nazi, eles queriam evitar que os judeus partissem; agora, na América, pretende-se evitar que entrem. Não os judeus, evidentemente… Ou até quem, de mãos erguidas, invoque a Bíblia para justificar as suas monstruosidades. Soube-se que Melanie Trump se sentiu fortemente incomodada mas, como se sabe, não pertence à administração. É apenas primeira-dama. E mesmo assim só quando convém…
Em plena União Europeia, em cujo coração a Srª Merkel, outrora inimiga da Europa e agora sua última esperança, trava uma dura luta de sobrevivência com o seu ministro do interior exactamente por causa destas coisas, o Sr Viktor Orban, anteontem, em pleno dia mundial dos refugiados, fez aprovar no parlamento da Hungria um pacote legislativo que criminaliza, e pune com prisão, qualquer auxílio a qualquer imigrante ilegal ou refugiado. Ou quem ouse auxiliar alguém a pedir asilo.
Na Europa, um país membro da União Europeia, não se limita a inscrever na Constituição que “uma população estrangeira não pode fixar-se na Hungria”. Persegue quem defenda ou preste qualquer tipo de auxílio a estrangeiros que pretendam entrar no país de onde muitos cidadãos tiveram que sair para procurar melhores condições de vida. Como George Soros, hoje um dos maiores investidores e filantropos do mundo, e um dos maiores financiadores das organizações de defesa dos direitos dos imigrantes, também na Hungria.
Mas de tal forma objecto da ira fascista do líder húngaro que o regime não encontrou melhor designação oficial para esta legislação agora aprovada que, justamente, “STOP SOROS”.
* A minha crónica de hoje na Cister FM