A "estória" do grande jogo
Não foi muito diferente de quase todos os jogos com o Boavista, este desta noite, na Luz. Como também não foi muito diferente o futebol do Benfica do destes últimos jogos.
À excepção da primeira meia hora, quando só quis defender, o Boavista discutiu sempre o jogo e foi o adversário incómodo de sempre, mesmo que nesse período o Benfica tenha criado muito poucas ocasiões. Duas, pouco mais. A primeira aos 9 minutos, e a segunda a resultar no primeiro golo, ambas com a conclusão de Darwin.
Daí que o Boavista tenha sido o adversário incómodo do costume, e que o futebol do Benfica tenha sido também o do costume, com muita parra para pouca uva.
À meia hora, na primeira vez que se mostrou, o Boavista ameaçou. E dois minutos depois, marcou, e empatou o jogo. Num grande golo, é certo, mas no aproveitamento de um erro na defesa do Benfica, em que é fácil responsabilizar Weigl, que perdeu a bola onde não pode ser perdida, à saída da área.
Com o tal futebol de muita parra e pouca uva, com a história dos jogos com o Boavista, e aquele fantasma da época passada, à mesma sexta jornada, depois das mesmas cinco vitórias consecutivas, e até com o mesmo Hugo Miguel no apito, o golo do empate era uma péssima notícia. Valeu que apenas dois minutos depois Weigl redimiu-se do seu erro, e repôs a vantagem. Que durou até ao intervalo, sem grandes sobressaltos, mas no mesmo registo de baixa produção. Basta ver que ao intervalo o Boavista tinha os mesmos remates do adversário, e o Odysseas fizera duas ou três defesas quando, do outro lado, o Bracali ... nem uma.
Mais uma vez o treinador do Benfica viu uma grande primeira parte. Um grande jogo na primeira parte, garante!
A segunda parte não começou bem. O Diogo Gonçalves, mais uma vez lesionado, ficou na cabina e entrou novamente o Lázaro, que voltou a não convencer. Mas nem foi tanto por aí que não começou bem, foi mesmo por culpa do Boavista, que surgiu com mais atrevimento, com a equipa mais adiantada e mais rematadora.
Mas claro, com esse adiantamento o Boavista deixava mais espaço lá atrás, e abria novas perspectivas ao Benfica. Aquele jogo de muita parra e pouca uva de Kiev, e da primeira parte, que o treinador classifica de grande qualidade, passava a ser outro, mais parecido com o dos Açores, na semana passada. Com espaço nas costas da defesa adversária não é preciso inventá-lo.
E sem submeter o adversário, e até mesmo aqui e ali com dificuldade em manter o jogo controlado, o Benfica criou então sucessivas oportunidades de golo, e o guarda-redes Bracali teve então oportunidade de brilhar com pelo menos três defesas de enorme qualidade, daquelas que evitam golos certos. Darwin bisou aos 61 minutos, já à terceira oportunidade de golo criada. E depois do terceiro golo ainda houve tempo para mais três.
Pouco importa se o treinador diga que a equipa joga bem quando tem 70% de posse bola, com ela a circular para o lado e para trás, e sem criar espaços para chegar à baliza e para rematar. O que importa, e preocupa, é que enquanto os adversários não abrirem, a equipa tem muita bola mas não faz muito com ela. E na maior parte dos jogos os adversários apenas abrem depois de sofrer o golo. E se se aguentarem até ao fim pode acontecer como em Kiev… Ou pior.
Mas pode ser que Jorge Jesus diga estas coisas só por dizer, e que tenha perfeitamente percebido que, para que aquilo seja de grande qualidade, tem de ter mais velocidade, mais criatividade e mais intensidade. Se não for assim, o melhor é pensar em estratégias de engodo para tirar os adversários lá de trás.