A história das montras... ou as montras da História ...
Há não muitos anos as pessoas saíam para ver as montras. À tarde, os menos ocupados, ou à noite, mais generalizadamente, para ajudar à digestão do jantar.
Não há assim tantos anos, era frequente, depois do jantar, especialmente o casal mas muitas vezes a família toda, dar a sua voltinha pelas redondezas a apreciar o que as montras tinham para mostrar.
Foi a televisão que começou a acabar com este hábito, quase um ritual das nossas cidades. À medida que os aparelhos de televisão começaram a entrar nas casas – é difícil para os mais novos, que hoje vêm nas suas casas três, quatro, e às vezes mais, televisores, e computadores e smart phones que os tornam obsoletos, perceber que durante muitos anos a grande maioria das pessoas não tinha televisão em casa – as pessoas começaram a deixar de sair. Nunca há só uma causa para este tipo de roturas sociais, mas a televisão é a principal. E, lá dentro, o aparecimento das telenovelas, lá pelo fim dos anos 70 do século passado.
As montras das lojas cumpriam, como continuam a cumprir, a função de promoção da venda na forma de apelo à compra, mas também uma função lúdica e social. Se alguma coisa ficasse no olho, lá ficaria à espera de notícias do fim do mês…
Depois chegaram os centros comerciais, e depois os modernos shoppings. As montras fugiram das ruas para esses espaços gigantescos, onde tudo se concentrava. As pessoas passaram a visitar esses espaços ainda em passeio lúdico, e ainda para ver montras. Alguns para passar o tempo, e comprar o que o cartão de crédito deixasse; a maioria aos fins-de-semana porque o tempo foge, e as compras não podem deixar de ser feitas.
As dinâmicas sociais não param e, da mesma forma que acabaram com as passeios pelas montras, ameaçam já as visitas de fim-de semana pelos shoppings. As novas gerações acham que há coisas muito mais interessantes para fazer do tempo que simplesmente desbaratá-lo dessa forma. E a revolução digital em curso, o processo de digitalização das sociedades e da economia, fez o resto.
Hoje encontramos os centros comerciais à distância de um clique. Em sítios como este, sem sair de casa ou sem abandonar a cadeira do escritório, sem filas de trânsito e sem discussões por um lugar de estacionamento, encontramos tudo. Escolhemos tranquilamente em montras transparentes que são todo o armazém. Pagamos sem filas para a caixa, e pouco depois estamos a receber as compras em casa.
Não admira que pertençam já a esta nova área da economia as maiores empresas mundiais. Como vai longe o tempo de rua acima, rua abaixo, de olhos fixos nas montras iluminadas…