A lógica da falta de lógica
No novo aeroporto, em vez de levantarem e aterrarem aviões, há décadas que levantam e aterram trapalhadas. O tráfego é tão intenso que corre o risco de ficar saturado ainda antes de começar a ser construído.
A última era de ontem, antes de hoje, logo pela manhã, chegar mais uma, fresquinha.
Ontem foi publicado um despacho assinado pelo secretário de Estado das Infra-estruturas, Hugo Santos Mendes, do ministério de Pedro Nuno Santos, a determinar o aprontamento do Montijo para 2026, complementado pela construção do de Alcochete, a concluir em 2035, e ainda de mais obras na Portela, que encerraria com a abertura de Alcochete. À noite, o ministro passou pelas televisões a assumir a solução como decisão final. Finalmente!
As críticas não pararam de chover, de todos os lados. Ninguém tinha sido ouvido, e havia leis para alterar. Desde logo a que obrigava a parecer positivo dos municípios envolvidos, que há muito não estavam pelos ajustes. Era a maioria absoluta a funcionar em todo o seu esplendor, apenas uma semana depois do primeiro-ministro ter garantido no parlamento que aguardava a decisão do presidente eleito do PSD, Luís Montenegro, sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa para que houvesse “consenso nacional suficiente” tendo em vista uma decisão “final e irreversível” sobre esta matéria.
Não "batia a bota com a perdigota", mas isso já começa a não surpreender. Surpresa, que também já não surpreende, foi a reviravolta desta manhã, no comunicado publicado pelo gabinete de António Costa: “O primeiro-ministro determinou ao Ministério das Infra-estruturas e da Habitação a revogação do despacho ontem [quarta-feira] publicado sobre o novo aeroporto da região de Lisboa”... e “reafirma que a solução tem de ser negociada e consensualizada com a oposição, em particular com o principal partido da oposição e, em circunstância alguma, sem a devida informação prévia ao Presidente da República”. O remate final do comunicado, para quem pudesse ter ficado com dúvidas sobre mais um episódio da guerra aberta entre Costa e Pedro Nuno Santos, é esclarecedor: “Compete ao primeiro-ministro garantir a unidade, credibilidade e colegialidade da acção governativa..."
Agora é só esperar pela lógica demissão do ministro das Infra-estruturas. Ou, na falta dessa lógica, pela lógica exoneração de Pedro Nuno Santos pelo primeiro-ministro. Ou ainda que a lógica seja uma batata, que começa a ser a maior lógica deste governo que, tendo tudo para governar com alguma lógica de rumo, prefere prosseguir a navegação à vista, mesmo que no meio das nuvens.