À memória de Eusébio
Onze "Eusébios", como há dez anos. Então, em cima da sua morte, como hoje, dez anos passados, a homenagem ao "king", o rei eterno da República Benfiquista. Há dez anos o jogo foi na Luz, o adversário foi o Porto, e a vitória abriu o caminho para a conquista do campeonato, o primeiro do tetra. Hoje foi em Arouca que, com o novo treinador, vinha de quatro vitórias consecutivas, e expressivas. De Estádio cheio, como sempre sucede nas visitas do Benfica.
Simbolismos à parte - que nunca a memória do Rei -, o jogo correu na linha do que têm vindo a ser os últimos jogos do Benfica. Em relação ao último, na Luz, com o Famalicão, a diferença é que não houve qualquer momento de assombração. O Benfica foi sempre superior, e nunca perdeu o controlo e o domínio do jogo.
Mas voltou a permitir oportunidades de golo a mais ao adversário. Desta vez mais permitidas ainda, dado que as duas maiores oportunidades de que o Arouca dispôs resultaram directamente de "ofertas" benfiquistas na saída de bola, uma de Otamendi, e outra de Kokçu. Valeu novamente que o diabo nem sempre está atrás da porta. Não é habitual, mas aconteceu nestes dois últimos jogos.
Moralizado pelos resultados, sempre que pôde, o Arouca disputou o jogo no campo todo, e pressionou bem na frente. Mais pressão sobre os espaços que propriamente sobre o portador da bola, o que é sempre menos desgastante. Uma pressão inteligente, sem dúvida.
O Benfica ia alternando o ataque continuado, quando o Arouca recuava e criava dificuldades de penetração na sua defesa, com a exploração da profundidade, sempre que o adversário se aventurava na tal pressão mais alta. Jogava com qualidade em ambas as circunstâncias, mas foi sempre nas transições rápidas a explorar as costas da defesa do Arouca que criou mais perigo, sempre com João Neves, Kokçu, Rafa e Di Maria em destaque. Os dois primeiros no lançamento, os outros dois na criação e finalização.
Ao quarto de hora marcou, numa das muitas belas jogadas de transição. O passe de João Neves para Arthur Cabral foi de génio. O golo de Rafa seria no entanto anulado pelo VAR, por fora de jogo milimétrico do avançado brasileiro. À meia hora voltou a marcar, e o golo voltou a ser anulado, desta vez por fora de jogo - novamente milimétrico - do próprio Rafa. E às três foi de vez: Rafa marcou e contou mesmo. A assistência é de Di Maria, "o Eusébio" com a camisola 11, a levantar com classe a bola sobre a defesa do Arouca, por onde entrou Rafa para o golo. Numa primeira instância guarda-redes do Arouca - o excelente Arruabarrena - ainda defendeu o primeiro remate, mas Rafa nunca perdeu o sentido da bola e acabou por marcar já de ângulo apertado, com frieza e categoria.
Para trás ficara já o erro de Otamendi na saída de bola, que permitira a primeira oportunidade do Arouca. Praticamente a seguir ao golo foi Kokçu a imitar o capitão. Em ambas as situações foi Sylla, na tal pressão no espaço, a interceptar a bola, e Rafa Mújica a desperdiçar.
A segunda parte inicia-se praticamente com o segundo golo do Benfica, numa excelente abertura de Di Maria para Rafa, que ofereceu o golo a Kokçu, depois de enganar Arruabarrena. Não foi só o golo da tranquilidade, foi imprescindível golo do número 10, com o nome de Eusébio. O árbitro assistente ainda quis estragar a festa, voltando a assinalar fora de jogo a Rafa, mas o VAR escreveu direito pelas linhas tortas.
O jogo não ficou resolvido, mas encaminhado. O Arouca continuou com o seu futebol desinibido, virado para a frente, mas era o Benfica a criar e a desperdiçar sucessivas ocasiões de golo. Foi Rafa - mais um grande jogo - isolado a falhar o golo cantado quando, na altura do remate, a bola ressaltou num tufo de relva levantada. Foi João Mário, a passe de Cabral, a falhar o golo por um desvio milagroso do defesa Milovanov. Foi Di Maria a quase voltar a marcar de canto directo. Foi, de novo, João Mário a rematar para a baliza deserta, com a bola a sair ligeiramente ao lado.
Estávamos nisto quando Arthur Cabral foi alvo de uma falta dura, mas foi para ele o amarelo. E foi substituído por Musa. Como a seguir foi João Mário substituído por Florentino, imediatamente amarelado, também. Deu a impressão que o Benfica teve mais amarelos do que faltas cometidas - uma apenas, em toda a primeira parte.
As última três substituições, com as entradas dos "Eusébios" Guedes (Di Maria), Tiago Gouveia (Rafa) e Tomás Araújo (Aursenes) ficaram para os últimos minutos, já depois do "Eusébio" Musa ter marcado o terceiro. Não foi à Eusébio, mas foi o melhor dos três golos. Para quem se lembra, à Artur Jorge. Que também jogou com o King!