A "montenegrisação" em curso
Primeiro o povo correu aos supermercados e às bombas de gasolina. Depois passou a tarde nas filas e, por fim, bateu palmas à janela, ou nas ruas, à medida que a luz vinha regressando.
O povo não percebe nada de política energética, nem sabe que são os chineses que mandam na rede eléctrica. Mas ouviu Montenegro dizer que o problema nasceu em Espanha, e que foi com ele ao comando, a estabelecer prioridades, a garantir que a Saúde funcionava e que os hospitais tinham geradores e gasóleo, que o país resistiu incólume ao apagão.
Com as dispensas cheias de conservas e papel higiénico, o povo ouviu e gostou. E vai amanhã ouvir, e gostar de ouvir, Toni Carreira nos jardins de S. Bento, a festejar o 25 de Abril de Montenegro, empurrado pelo luto para a um salto no calendário.
O povo não sabe, nem quer saber, que a Protecção Civil andou à nora, que o governo ficou atarantado, que o Presidente da República esteve desaparecido, que o SIRESP voltou a não funcionar, que as estruturas estratégicas para a segurança e para a soberania estão à mercê do acaso, ou que o país não tem sequer um plano para uma coisa que corra mal em Espanha. E Montenegro sabe disso...
Se há coisa que Montenegro conhece bem, é o povo. E por isso lhe é tão fácil "montenegrisar" o país!