A perigosa rota do Minho
Não vão fáceis as viagens ao Minho, esta época. O jogo desta noite, em Vizela, confirmou as dificuldades que estão reservadas para o Benfica na longa rota minhota que integra o campeonato de há uns anos para cá. O Minho é hoje decisivo para a classificação do campeonato, mais parece o Rally de Portugal.
O Benfica entrou no jogo dentro do nível exibicional habitual, e na mesma linha estratégica. Quando assim acontece, o Benfica não joga mal. Pode não fazer tudo bem, nem da melhor da forma, e encontrar dificuldades. Mas não joga mal. E foi isso que aconteceu durante a primeira parte - sem fazer tudo bem, e longe de qualquer brilhantismo, o Benfica não jogou mal, e justificou a vantagem mínima que levou para o intervalo, materializada no golo de João Mário, aos 38 minutos.
Mesmo que a superioridade clara do Benfica se tenha começado a esvair a partir do início da segunda metade da primeira parte, altura em que o Vizela passou a acertar com as marcações, a jogar com mais velocidade e, acima de tudo, a disputar todas as bolas e a ganhar a maioria delas, as três jogadas de golo, e o marcado, justificarão o resultado ao intervalo.
Mas as indicações já não eram as melhores. As do jogo, e as do ambiente que o rodeava. À volta do relvado, porque o que tem vindo a ser criado longe dos campos, nas televisões, nos jornais e noutras esferas ainda menos próprias, vale para este e para todos os jogos que faltam ao campeonato.
No jogo, o Benfica chegara ao golo até no período de maior afirmação do Vizela, à custa de uma transição rápida, depois de um canto contra, que começou com Guedes a passar por toda a gente, e a conseguir, mesmo depois de derrubado em falta, libertar a bola para Neres fazer a sua parte, e deixá-la para João Mário marcar, perto da marca de penálti. No jogo, os jogadores do Vizela, pressionavam, e legitimamente, os do Benfica. Mas também, e aí com total ilegitimidade, a arbitragem.
Fora do relvado, era pior. A pressão sobre a arbitragem era enorme, e as provocações ao banco do Benfica ainda maiores. Durante todo o tempo, gente ali estrategicamente colocada e que não serão certamente adeptos vizelenses, disparou isqueiros, garrafas e cuspidelas sobre o banco. Tudo perante a indiferença das forças da ordem... E das câmaras da Sport TV.
Conseguiram o que conseguiram. E conseguiram até fazer expulsar Roger Schmidt, indiscutivelmente o treinador de comportamento mais tranquilo e pacífico do campeonato.
Com tudo isto, não era de esperar outra coisa que não uma segunda parte muito difícil, e cada vez mais complicada. Muito dificilmente os jogadores, mas também o treinador, conseguiriam ter o discernimento e a tranquilidade para tomarem as melhores decisões. E foi o aconteceu, não conseguiram, e o Benfica caiu na segunda parte para um dos piores jogos do campeonato, ao nível de Guimarães. Que não ainda ao de Braga.
A equipa sobreviveu a tudo isso, e à suas próprias limitações, e acabou até para marcar o segundo, num penálti indiscutível sobre Grimaldo, já dentro dos seis minutos de compensação. Que João Mário voltou a marcar, desta vez com enorme classe, tornando-se no surpreendente melhor marcador da Liga.
E o resultado acabou por ser claramente melhor que a exibição, francamente má durante grande parte da segunda metade do jogo. Que só não é preocupante porque teve todos aqueles atenuantes. E porque "é dos livros" que os campeonatos se ganham ganhando jogos destes.