A perna curta da mentira
Por Eduardo Louro
Afinal o milagre económico não aconteceu, como toda a gente que não corre atrás de canas de foguete sabia, e o anémico crescimento foi interrompido logo no primeiro trimestre deste ano. Como sempre aqui se disse a interrupção da recessão resultou mais de comportamentos da física do que da economia: simplesmente nalgum ponto deixa de se cair, é quando se toca no fundo.
O governo, este governo agora sempre em festa, reagiu aos dados do INE que agora lhe não davam jeito nenhum. Não deixou de ser curioso que a conta tenha sobrado para o ministro Marques Guedes. O primeiro-ministro Passos Coelho, o vice Portas ou o ministro da economia, Pires de Lima continuam entretidos, e embriagados, com a festa. Não podiam deixar que os números a viessem agora estragar…
Não menos curiosa é a explicação apresentada para o regresso ao crescimento negativo, como agora se diz. Para não estragar a festa o ministro Marques Guedes veio descansar os portugueses, dizendo que não havia qualquer razão para alarme porque a quebra do PIB no I trimestre resultava apenas de uma quebra nas exportações provocada por uma situação irrepetível durante o ano – o encerramento para manutenção da refinaria da GALP em Sines. Não é apenas curioso que no mesmo período não tenham diminuído as importações de petróleo. É mais curioso ainda que o governo vá pegar exactamente no ponto que sempre foi utilizado para negar a verdade do governo no sucesso da economia e das exportações. Toda a gente se lembra que o governo fazia assentar o seu sucesso económico no aumento exponencial das exportações quando muita gente, entre as quais este modesto escriba, alertava exactamente para o facto de estarem a crescer sim, mas à custa da exportação de refinados de petróleo coisa que, para quem não é infelizmente produtor daquele ouro negro, não tem grande significado porque justamente não tem valor acrescentado.
Não é ironia do destino, é simplesmente a perna curta da mentira. O governo vai buscar para explicar a diminuição exactamente aquilo que sempre negou que explicasse o aumento!