À procura de um fundo...
Por Eduardo Louro
Ontem, com os resultados das eleições ainda quentes – em boa verdade as projecções, porque os resultados, por força de mais uma das muitas aberrações que por aí se vêm, ficaram congelados durante horas, pelo que já estavam bem frios quando apareceram – olhei-os à procura de surpresas e novidades. Hoje olho-os como um túnel, lá para o fundo, à procura da luz …
A coligação no governo, mesmo com o pior resultado de sempre, acha que não foi mau. Perderam por poucos, disseram. E isso deixou-os felizes e satisfeitos, prontos para voltar hoje ao trabalho, cheios de coragem e motivação.
Na verdade não perderam por poucos. O pior resultado de sempre não dá para perder por poucos… Apenas olham muito curto, só ali para o lado. Para o adversário que é também parceiro … de partilha do poder!
Pretendem ignorar a derrota escrita nos 28% dos votos, e procurar a vitória nos escassos 4 pontos de vantagem do PS, S de Seguro. Que por sua vez pretende fazer crer que são suficientes para reclamar legitimidades que não se vislumbram e para os festejos patéticos a que assistimos. Realça o pior resultado de sempre da direita, mas quer ignorar que, sobre o ponto mais baixo de sempre do adversário/parceiro, não conseguiu mais que uns escassos 4 pontos, menos do que os 5 que perdeu desde as autárquicas, há apenas 8 meses. E que o resultado que lhe assegura esta vitória está praticamente ao nível do que, há cinco anos, com Sócrates, se traduzira numa das maiores derrotas do partido.
Quer isto dizer que em boa verdade ambos – e este é um caso de ambos os três – perderam! Uns, perderam perdendo. Outro, perdeu mesmo ganhando!
Estes três partidos que têm dividido entre si o poder, e que por isso se intitulam do arco da governação, ficaram pela primeira vez aquém dos 60% dos votos. Há razões para acreditar que a coligação salvou Portas e o CDS de serem varridos do mapa político, e isso não vai passar despercebido.
Quer isto dizer que a única razão para que a coligação se mantenha para as legislativas do próximo ano é levar o governo até ao fim da legislatura. Se, e quando, Portas perceber que não há coligação faz cair o governo, disso não há qualquer dúvida.
Porque se percebe que a mudança, mesmo que lenta, está em curso e que os portugueses começaram mesmo a responsabizlizar estes três partidos pela destruição do país. PSD e CDS já não são capazes de garantir fórmulas governativas maioritárias, o que devolve o mais pequeno à marginalidade. É agora inevitável que o próximo governo saia do bloco central, e que Portas se torne descartável. A partir de agora, no ponto a que chegou o processo de erosão do campo da governação, apenas PSD e PS juntos conseguem formar soluções governativas maioritárias. Tanto destruíram, cada um para seu lado, que foram ficando sem espaço. Resta-lhes agora um pequeno reduto onde, para sobreviver, ambos, bem juntinhos, se vão acantonar.
Com Seguro e Passos juntos num governo também esse pequeno reduto será rapidamente destruído. Só então se verá o fundo do túnel em que estamos metidos. Se ainda houver país, pode ser que lá esteja alguma luz...