A sentir-se à vontade...
Por Eduardo Louro
Estranhamente – ou talvez não – não tem sido dado grande relevo à unanimidade com que os ministros dos Negócios Estrangeiros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), na cimeira extraordinária realizada na passada quinta-feira, em Maputo, recomendaram a adesão da Guiné Equatorial.
A entrada deste país de língua espanhola, uma das mais antigas e repressivas ditaduras africanas – Obiang, o oitavo mais rico governante do mundo, num dos mais pobres países do planeta, tomou o poder há 35 anos através de um sangrento golpe militar – que viola os estatutos da organização, acontecerá já este mês, na cimeira de chefes de estado em Dili.
Para além de envergonhar Portugal e os portugueses – coisa a que Rui Machete já nos habituou – esta decisão confirma que, como também já há muito desconfiávamos (o Acordo Ortográfico é apenas um detalhe), o país não tem já qualquer peso na organização. Que também não é já uma comunidade de países que tem a língua portuguesa como eixo central, mas apenas um organização comercial ao serviço de intresses de estratégias de potência. Uns com vista para um estatuto de potência regional, e outros com horizontes mais ambiciosos, virados para o estatuto de potência global emergente. Uma organização que, por acaso agora com a Guiné Equatorial, passa a ter uma capacidade de produção de petróleo idêntica à do Médio Oriente!
Rui Machete, na sua linguagem muito própria, garantiu que "Portugal se sente à vontade com esta decisão". Não admira, também já sabemos como esta não é gente de grande exigência. Contentam-se com migalhas, como se tem visto nas privatizações. Bastou-lhes os milhões que o ditador mandou directamente para o Banif e para o BCP para que “se sintam à vontade”!