A surpresa de Simeone
Quando ouvimos falar de surpresas no futebol pensamos sempre em resultados inesperados como, por exemplo, a derrota de hoje do super Bayern com o Hoffenheim, por 4-1, ou a do Manchester City, em casa, com o Leicester, por 5-2. Mas essas são surpresas que nem são muito surpreendentes, já que, acontecendo por todo o lado, acabam por acontecer com alguma frequência.
Mas há outro tipo de surpresas, bem mais surpreendentes. E muito mais agradáveis. Hoje foi possível assitir a uma dessas, uma das maiores com que o futebol acaba de nos brindar. Refiro-me ao futebol que o Atlético de Madrid apresentou neste arranque da La Liga, que ninguém daria por possível sob o comando de Diego Simeone.
À equipa de Simeone nunca faltou capacidade competitiva, mas faltou sempre futebol espectáculo, bem jogado, daquele que enche olhos e corações. Ganhou algumas coisas, e nunca deixou de ser um adversário temível. Mas não ganhou muito, e não ganhou nunca a admiração dos amantes do futebol.
O clube ia adquirindo grandes jogadores, mas o seu futebol não mudava. Muita gente interrogava-se mesmo para que quereria jogadores de primeira água, se para aquela maneira de interpretar o jogo bastavam uma grande capacidade física e muita vontade de disputar cada bola. Quando jogadores de fino corte técnico assinavam pelos colchoneros já se sabia que estavam condenados ao fracasso. Assim aconteceu com Gaitan, com Falcão, com Gelson... para falar daqueles que conhecemos melhor. Assim parecia acontecer com João Félix, que ninguém percebeu porque, por aquele dinheiro todo, interessava à equipa de Simeone. Nem porque aceitava ele um destino de condenação.
A época passada, a primeira, confirmou todas essas dúvidas. Pouca utilização mas, pior, sempre em condições que lhe limitavam todo o enorme potencial que lhe é reconhecido.
Pois hoje pudemos ver, no jogo inicial da época, uma equipa irreconhecível. Com um futebol de ataque, arrasador - está na moda - com uma fantástica dinâmica colectiva a tirar agora partido dos jogadores de grande classe de que dispõe na frente de ataque. Repare-se apenas nestes quatro nomes, para dois lugares: João Félix, Diego Costa, Luiz Suarez e Marcos Llorente. Os titulares foram os dois primeiros. Saíram com um golo cada com o resultado em 3-0, substituídos pelos dois últimos a cerca de meia hora do fim. Que fizeram outros três, com o ex-Barcelona a marcar por duas vezes na estreia.
Seis golos (resultado com o Granada ficou em 6-1), coisa nunca vista com Diego Simeone!
Uma enorme surpresa. Das maiores do futebol. E das mais agradáveis. O que é que terá passado pela cabeça do argentino?